PV: Manuella
— Onde cê tá?!
—Acabei de chegar, não atormenta!— Respondo e desligo no mesmo momento que o 2k para atrás de um corola na fila de entrada do porto.
Já era a quinta vez que respondia um chamado do PL, a preocupação o consumia há dias e ele acabava me sufocando mais do que já fazia. As brigas e ameças entre ele e meu irmão começaram assim que uma das exigências na troca foi revelada. Pras armas entrarem no Vidigal, alguém tinha que ir buscar bem na toca do rato. E era a onde eu estava, bem no ninho a quase uma da madrugada. Não tinha prova maior de amor, que quase fazer o meu "marido" infartar por causa do Conan.
No mesmo dia que recebi carta verde pra pedir as armas, liguei para a Barbara, uma amiga no meio da policia federal. Isso mesmo, Polícia federal, a vadia era tão ilegal quanto eu dentro do crime. Ela tinha entrado lá por causa do pai, e ficado por causa dos favores que o pai prestava aos "montado na grana". Além de toda a sujeirada de família, ela quebrava alguns galhos quando a louca aqui, resolvia dar uma de traficante.
O pedido foi feito, mas as armas não conseguiriam chegar no Rio nem que eu pedisse com uma semana de antecedência. E era justamente por isso que eu estava bem na porta de entrada do porto do Rio de Janeiro, com um carro de faxada e mais um caminhão roubado que tiraria dali as armas pra um confronto entre facções.
O porto do Rio já era conhecido pela apreensão de drogas e armas, porem, sabíamos que nem todas as cargas eram bloqueadas e levadas no mesmo dia. Além de toda a documentação necessária, sempre tinha alguém mais esperto querendo lucrar com a desgraça de outros.O carro a nossa frente consegue entrar e chega a nossa vez, só quando o carro se vai noto o policial bem diante da cancela. Nosso carro para e o cara bem armado e irreconhecível, se aproxima. Tentando mostrar tranquilidade entrego minha identidade ao 2K, que a deposita na mão do guarda na guarita a nossa esquerda, encaro o homem uniformizado vistoriar o meu carro pelo lado de fora.
"—Respira, só respira... — Repito mentalmente sentindo o mal estar começar — ele não vai olhar dentro do carro.
PL tinha abastecido o carro, tinha colocado armas e munições por todos os buracos que tinha encontrado, a única parte limpa eram as mais visíveis. Se o soldadinho resolvesse dar uma de perfeito, não só eu estaria fodida, mas todo o plano de abastecer o Vidigal.
Recoloco o óculos de sol, fazendo a egípcia quando o policial se dirige à parte traseira. Observo ele fazer sinal para o porta malas, o 2K aperta o botão destravando-a como se tudo fosse normal. O guarda agora está no telefone, não consigo ler seus lábios pela distância e só espero tudo aquilo como se fosse a pessoal mais confiável do mundo.
Alguns minutos depois o guarda volta, mais sério do que antes, entrega o meu documento e balança a cabeça para o 2K. A cancela levanta no mesmo momento que o porta malas bate as nossas costas, encaro a minha frente tentando manter a pose de rica. Uma etapa já tinha dado certo, entrei, agora era só sair. Com vida, se fosse possível.
— Fica de boa. — 2k abre a boca pela primeira vez no trajeto. Apenas confirmo com a cabeça.
Ele sabia o que aconteceria se desse alguma coisa errada, a gente morreria no confronto ou apenas eu sairia da cadeia com vida. E esse era um dos meus maiores medos. A ideia idiota de mandar o 2K comigo foi dele mesmo, como se isso fosse tranquilizar tanto o PL quanto a mim. "Mais experiencia" Respondeu. Eu tinha experiencia naquele meio e tava me borrando inteira, como algo assim mantêm a mente de um bandido no lugar? Confronto dentro do seu morro era uma coisa, agora entrar no meio deles com armamento contado? Parecia suicídio até pra mim.
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Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)
General FictionSérie - Contos de Favela ATENÇÃO! O livro aqui disponibilizado está registrado na biblioteca do livro e qualquer cópia disponibilizada sem autorização terá o seu autor processado. Livro contém: Cenas de sexo Palavrões Apologia ao Crime Mortes Crime...