♚ II - 88♛

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PV: Sofia

Eu encarava a TV com o rosto do Conan estampado na tela. Tava desde cedo assim, as confusões de todos nós sendo tachadas de "guerra entre trafico e o cheio da grana do Rodrigo." Ninguém falava a real história, e eu preferia que continuasse assim, já que tinha sido eu a derrubar o helicóptero que o tal Rodrigo estava.

A porta da sala abriu e o Conan entrou ainda com o mesmo estado de antes. Ele me olhou durante um tempo e depois baixou os olhos pra Flavia embolada na coberta quase agarrada a minha barriga. Era assim que ela passava a maior parte do tempo depois que descobriu o irmão que eu tinha engolido.

  — Como ela tá?— O seu rosto me doeu

— Não abriu pra mim, 2K ta na porta fazendo guarda porque ela expulsou ele de lá.

— Ela...— Eu não sabia o que falar e pareceu que ele também não. Fui na direção do quarto e depois de um tempo escutei o chuveiro.

Peguei o telefone e disquei o numero dela. Só chamou. Joguei de volta no sofá e acariciei o rosto da Flavia. Eu tinha entrado em pânico quando vi o rosto da Manú depois que consegui parar de gritar. Ela tava muda, parecia que não conseguia respirar enquanto olhava o carro rodopiar no ar.

Foi doloroso ver a colisão entre a moto do Juan e o carro. A explosão foi instantânea, ainda não dava pra acreditar. Saí do carro o contornando e tentei tirar a Manú de lá, tive que gritar pro Conan caído a metros da gente quando vi o sangue. Foi desesperador ver o medo nele.

Ele gritava o nome dela enquanto tirava ela do banco, o 2K que dirigiu e ele a agarrou no banco de trás como se a vida dele dependesse dela. Chorei o caminho inteiro por ele, pela voz de desespero dele e principalmente pela dor dela. Não queria tá no lugar dela...não queria estar no meu lugar vendo o homem que eu amava sendo consumido pelo medo de perder alguém.

O 2k me levou pra casa quando a Manú foi levada pra dentro, agora já acordada pela dor. O Conan ficou lá até a garotinha nascer, e logo que ela voltou pra inconsciência, ele veio pra casa. Amparei a sua dor com todo amor, vi ele chorar pela primeira vez e isso machucava mais que tudo.

Ficamos na sala por um tempo, abraçados e sem dizer nada, envolvidos no desespero e no terror de tudo que tava acontecendo. Ele só saiu de lá quando ligaram pra ele, a Manú tinha ido pra casa. Eu só tomei um banho e, ainda no choque de tudo que tava sendo jogado em cima da gente, me sentei no sofá e agarrei a Flavia que ficou com a gente o tempo inteiro. Era ali que eu estava até agora pensando no dia de amanhã, no dia do enterro.

O chuveiro parou e seus passos ficaram mais altos. Ele veio enrolado numa toalha do quadril pra baixo e retirou a Flavia do meu colo. Não me levantei, ele veio em alguns minutos e sentou ao meu lado, levando minhas pernas pra cima de seu colo.

  — Como você tá? — Sua mão e seus olhos pousaram na minha barriga, não respondi, não sabia realmente pra quem ele tava perguntando

Envolvi seu pescoço e o puxei pra mim e ficamos como passamos a tarde inteira. Ele agarrava a minha cintura e sua mão enorme pousava na minha barriga, acariciando ela. Eu adormeci assim, talvez fosse o cansaço ou simplesmente o sono que a gravidez me provocava.

Abri os olhos sentindo a mesma dor de mais cedo, eu já estava na cama e não sabia como. Retirei o travesseiro e escorreguei pra fora dos braços do Conan. Caminhei de vagar pelo quarto, não era cólicas, mas me incomodava e pelo fato de nunca ter tal movimento ali dentro aquilo me assustou.

Fui no quarto da Flavia primeiro, a cobri e andei até a cozinha a procura de comida. Assim que abri a geladeira senti de novo e por puro reflexo o grito saiu. Segurei o local da dor e tentei respirar. Eu tava com 7 meses, ele não podia nascer agora, não enquanto o Conan tivesse digerindo os problemas do dia. Tentei dar mais um passo, mas me detive quando o susto veio de novo e gritei.

Salva Pelo Traficante (Livro 2 - Versão Original)Onde histórias criam vida. Descubra agora