Nono dia

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O início do meu dia foi como todos os outros, levantei tarde, sem ânimo nenhum, almocei no meu quarto pra não sentar a mesa com os meninos e depois os levei até a aula deles.

Eu sei que as vezes pareço implicante demais, mas é que eu simplesmente não me sentia à vontade perto deles e o fato deles chegarem na minha casa, mudarem minha rotina e atrapalharem o sossego que eu planejei para as minhas férias fazia com que eu detestasse isso. Detesto ter meus planos frustrados, detesto coisas que me façam sair do que planejei, gosto das coisas como tem que ser.

No fim da tarde convidei a Sam pra um café, então fomos na cafeteria mais próxima do ateliê, onde sempre costumávamos ir nesse horário. Nos sentamos na mesma mesa, pedimos o mesmo café e o mesmo bolo. Me senti satisfeita, até que enfim tudo estava ocorrendo conforme eu estava acostumada.

Pra variar falávamos sobre trabalho, assim como eu Sam amava aquele lugar, pelo que me contara a produção estava a todo vapor e todos estavam ansiosos pro grande evento de lançamento da nova coleção.

Eu queria estar lá, queria estar correndo junto com todos, vendo rios de tecidos sendo cortados e vibrando a cada nova peça concluída. Queria ter o mesmo brilho nos olhos que Sam tem ao me contar cada progresso que o grupo está alcançando, queria isso com todas as minhas forças, mas a vida foi surpreendente. Há umas semanas atrás durante um dia de trabalho árduo me senti mal e desmaiei, fui levada ao hospital e então a médica disse que eu estava estressada e que se continuasse naquele ritmo provavelmente as consequências seriam drásticas. Mesmo contrariada tive que me afastar do trabalho, mesmo sabendo que era o melhor pra mim.

- Você faz falta, minha amiga. - Sam me diz com olhos piedosos.

- Você não sabe como eu queria estar lá. - Digo de cabeça baixa.

- Mas você precisa descansar. Quem sabe assim poderá estar conosco no lançamento.

- É óbvio que vou estar. - Ajeitei meus ombros espantando a postura de derrota. - Nem que pra isso eu vá de cadeira de rodas.

- Essa é minha garota. - Sam gargalhou e aos poucos foi parando de rir fixando seus olhos em algo atrás de mim. - Oh, Isadora você vai precisar ser forte agora.

- Por que? - Perguntei confusa.

- Olha discretamente para trás de você. - Ela diz sem mexer os lábios.

Tento ser o mais discreta possível, mas não consigo ao perceber meu ex namorado abraçado na mesma garota da festa. Ele entrava naquela cafeteria junto com seus amigos e ela. Naquela cafeteria que estivemos tantas vezes. Com os amigos que sempre estiveram conosco. Ela estava nos braços que sempre foram meus.

Antes que eu desabasse Sam segurou minha mão e me olhou com um olhar de coragem, mesmo sem palavras eu sabia que aquele olhar era de apoio. Levantei minha cabeça e engoli seco o que tinha acabado de olhar.

Ele passou por nossa mesa e foi até o balcão, enquanto seus amigos pediam seus doces ele apertou a garota mais em seus braços e pra minha surpresa ele me olhou, com olhar de superioridade, com um meio sorriso. Tentei ignorar aquilo com todas as minhas forças, mas como se não bastasse todo mal que ele estava fazendo ele ainda olhou nos olhos dela e a beijou. Depois de tantas coisas, depois de tantas decepções nesse momento eu tive certeza que nunca mais voltaria a ser o que era antes.

~~

- Você precisa esquecer esse babaca. - Carol disse sentada na minha frente à mesa.

- Eu já tô esquecendo, da pra parar de jogar na minha cara o quão idiota eu sou por ainda pensar nele? - Respondi ríspida.

- Você foi idiota por acreditar que ele mudaria, mas a culpa é toda dele, aquele garoto deu esperanças.

- Eu sei, mas talvez ele não tenha dado. Talvez tenha sido coisa da minha cabeça. - Disse olhando a fumaça da minha xícara de chá subir.

- Não se culpe por ele ser um otário. Ele não merece isso.

- Eu queria tanto que essas suas palavras ajudassem, mas elas me fazem me sentir tão miserável. - Ri amarga.

- Pois não deveriam, elas não são palavras de consolo quaisquer, são a pura verdade. Você é foda e merece alguém tão foda quanto.

- Obrigada. - A olhei nos olhos e senti conforto.

- Sabe quem me disse que você estava estranha hoje? - Ela bebericou seu chá.

- Sam? - Sugeri.

- Não, Lucas. E antes que você surte, ele não falou nada demais. Só disse que você estava pra baixo e que eu devia conversar com você. Disse que você nem respondeu as provocações do Christian ao voltar pra casa. - Ela riu de algo que parecia ser uma piada que só ela entendia. -  Ele é tão incrível amiga, parece se importar tanto com você, sem brincadeira você devia investir nesse garoto, nem que seja só pra curtir esses dias dele aqui.

- Você é doida. - Balancei a cabeça em negativo.

- Pensa, o que você tem a perder? Uns dias ao lado de um menino fofo, engraçado e gato? Pensa, tenho certeza que você vai chegar a conclusão correta.

Antes que eu dissesse alguma coisa ela levantou da mesa e apanhou minha xícara e a dela pra lavar. Antes de ir deitar ela passou a mão no meu ombro como se me incorajasse a fazer algo e logo após sumiu do meu campo de visão indo pro seu quarto. Fiquei alguns minutos sentada pensando em tudo que aconteceu nessa tarde e nas palavras da Carol, quando minha cabeça começou a doer decidi ir pro meu quarto.

Coloquei minha camisola favorita e deitei na minha cama, virei pra um lado e em seguida pra outro, o sono não parecia vir, foi quando me sentei na cama e tomei a atitude mais louca da minha vida e que provavelmente me arrependeria no dia seguinte.

Coloquei um robe de cetim por cima da camisola e calçei meus chinelos e então sai pela porta do meu quarto. Passei no quarto do Christian e fiz uma cara feia pra porta, ri de mim mesma. Dei mais alguns passos e fui até a porta do Lucas, contei até três e então abri a porta, ele estava com o abajur da beira da cama dele aceso enquanto estava focado em seu notebook, ao me ver seu espanto foi nítido, soltei um risinho abafado.

- Isadora? - Me questionou enquanto eu caminhava até ele.

- Sim. - Respondi sentando na beirada da cama dele ficando de frente pro seu rosto.

- O que você tem? - Ele me olhava espantado.

- Eu? Nada. - Respondi tirando seu óculos de grau. - Você fica uma graça com esse óculos, sabia?

- O que você quer? - Ele me questiona.

- Você não pediu uma chance? É isso que eu tô fazendo.

Então antes que ele dissesse algo eu o beijei, sem pressa como o daquela noite na festa e sem ódio como aquele do quintal, esse eu tava beijando porque queria, era o que eu queria naquele momento.

Opostos - T3ddyOnde histórias criam vida. Descubra agora