Décimo nono dia

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- Como tá a moça dodói? - Lucas diz entrando no meu quarto com meu café da manhã.

- Para de palhaçada, garoto. - Respondo e ele ri. - Tô me sentindo melhor, mas ainda com um pouco de dor de cabeça.

- Eu trouxe o seu café e o remédio também. - Ele diz e larga a bandeja no meu colo.

- Muito eficiente esse meu enfermeiro. - Respondo e engulo os comprimidos. - Você não vai pro curso hoje?

- Eu já perdi tantas aulas que acho que nem vou mais. - Ele responde.

- Olha, não que eu queira te colocar pra baixo, mas acho que você não tem jeito de quem estude.

- Nem você tem.

- Mas eu tenho faculdade. - Respondo com um sorriso.

- Ok. Você ganhou. - Ele passa a mão nos meus cabelos. - Você é tão bonita.

- Não é porque eu tô deixando você cuidar de mim que eu tô dando liberdade pra essas coisas.

- Você não tem jeito mesmo. - Ele ri e balança a cabeça. - Vamos ficar só eu e você hoje a tarde. O que vamos fazer?

- Eu diria sexo, mas o médico disse que eu não posso fazer esforço. - Sorrio maliciosa.

- A gente pode achar um jeito de fazer isso que você não precise fazer esforço.

- Para de falar bobagem. - Digo e acerto um tapa no seu braço.

- Só você pode falar. - Ele reclama alisando o braço.

- Se você vai ficar aqui nos próximos dias, sim. - Respondo e devolvo a bandeja a ele. - Vou dormir, boa noite.

- Para Isadora. Você já dormiu demais.

- Eu quis entrar de férias pra poder dormir, mas desde que o seu amigo e você chegaram foi difícil. - Respondo.

- Vamos fazer outra coisa. - Ele olha meu quarto ao redor. - O que são aqueles álbuns ali.

- Álbuns? - Sugeri.

- Besta. - Ele larga a bandeja no chão e pega os livros. - Posso ver?

- Você já está vendo, não está. - Respondo enquanto o vejo folhear as fotos.

- Nossa sua irmã parece você. É ela aqui, não é? - Ele diz me arrancando uma gargalhada.

- Não, essa sou eu. - Respondo.

- Mentira Isadora. - Lucas olha a foto de perto. - Mentira que você já foi uma menina delicada.

- As vezes você pede pra levar uns tapas. Nessa foto eu tinha 14 anos. Com 15 eu mudei completamente meu visual.

- Foi quando você mudou pra cá, não foi? - Ele me olha.

- Sim. Acho que minha mãe aceitou eu vir pra cá em partes pelo meu visual da época. - Disse passando algumas fotos procurando. - Olha aqui.

Lucas olha a foto perplexo.

- Você tinha dreads? - Lucas me questiona surpreso.

- Sim. - Respondo com uma risada. - Minha mãe insistia em fazer uma festa de 15 anos, mas eu não queria. Aí coloquei dreads pra ela desistir.

- Pelo visto funcionou. - Ele disse.

- Sim. Aí mudei pra cá.

- Foi muito difícil? - Ele questionou.

- Não. Eu queria vir. Foi a realização de um sonho. É mais difícil hoje em dia do que naquela época.

- Você sente falta da sua irmã. Não é? - Ele questiona e eu confirmo com a cabeça. - Porque não convida ela pra vir pra cá?

- Só depois que vocês irem embora.

- Porque?

- Eu não vou chamar minha irmã pra vir pra cá nessa bagunça que a casa está. - Ele responde.

- Nada haver Isadora. Acho que ela iria gostar da bagunça.

- Tenho que pensar. - Respondo e viro a cara.

- Pensar no que? Se você continuar pensando não vai convidar e vai continuar com saudade. - Ele me entrega meu celular. - É só uma ligação.

Fiquei olhando pro celular na mão dele e nesse momento milhares de coisas borbulhavam na minha cabeça. Eu estou de férias o que facilitaria pra nós sairmos, mas com os meninos aqui a casa tá tão apertada, tão bagunçada. Lucas continua insistindo com o celular na mão esperando uma resposta. Interrompo meus pensamentos e pego o celular da mão dele que me olha e sorri. Procuro o número da minha irmã e ligo pra ela.

- E aí? - Lucas me questiona curioso assim que encerro a ligação.

- Ela se animou. Quer embarcar amanhã já. - Respondo arrependida.

- Que legal. - Ele sorri.

- Legal nada. Gostaria de informa-lo que se eu me arrepender a culpa vai ser toda sua.

- Tudo bem. Eu sei que você não vai.

- Assim espero. - Cochicho como resposta pra mim mesma.

Opostos - T3ddyOnde histórias criam vida. Descubra agora