Décimo quinto dia (parte três)

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- Sim. - Larguei as chaves do carro na prateleira. - Eu tô louca.

- Isadora. Eu te liguei a tarde inteira. Você sabe o quanto eu fiquei nervoso?

- Não era pra você ficar assim...

- Mas eu fiquei. - Ele parecia estressado. - Você e o Christian querem se matar, se matem, mas não faz mais isso.

Ele caminha até mim e me abraça.

- Desculpa, eu precisava esfriar a cabeça. Sozinha.

- Você nunca deve ter experimentado essa sensação de impotência de ficar sem notícias e não saber por onde procurar. - Lucas diz.

Imediatamente lembro das vezes que o Will sumia e eu ficava sem notícias. Ele tinha amigos errados, pessoas más. Ao mesmo tempo que eu queria saber como ele estava, temia que o celular tocasse com uma notícia ruim.

Me afastei do abraço dele.

- Me desculpa? - Peço.

- Sim. - Ele tenta me abraçar de novo, mas eu saio daquele lugar e vou pro outro lado do quarto.

- Como a Carol está?

- Não falei com ela. O Christian não parou de falar depois que você foi embora e não deixou que conversassemos.

- Não fala dele pra mim, não sei se a raiva passou. - Estraguei as têmporas.

Lucas riu. O olhei sem entender.

- Foi engraçado. Na verdade na hora fiquei assustado, mas olhando pra trás agora, foi muito engraçado a cara do Christian.

Ri tímida.

- Deve ter sido.

- Você ficou vermelha. - Lucas disse impressionado. - Eu nunca vi você tímida.

- Isso não acontece com muita frequência.

- Eu sei, você é sem vergonha. - Ele deu uma pausa. - O que você vai fazer agora?

- Não sei. Não quero ficar em casa.

- Isadora... - Lucas me repreende. - Vai chover.

- E daí? Você vem comigo?

- Fazer o quê. - Ele da de ombros.

Caminho devagar pela sala pra não acordar ninguém. Pego as chaves da moto da Carol que estavam no porta chaves, Lucas me olha sem entender, mas me segue até a garagem.

- Você vai sair com a moto da Carol? - Me questionou.

- Sim.

- E ela deixa?

- Deve deixar. - Alcanço um capacete pra ele e coloco outro.

Subimos na moto e eu dou a partida. Já fazia algum tempo que não dirigia moto muito menos com alguém já garupa, mas se é como dizem, que é como andar de bicicleta e que não esquecemos nunca, vai ser fácil.

Pego a estrada que vai pro interior e que esse horário está vazia. Lucas segurava firme na minha cintura, conhecendo o que sei sobre ele está com medo. Rio disso.

Pego a estradinha cercada por árvores e logo chegamos na Lagoa, com o vento da chuva as ondas se agitavam. Estava frio e meus braços arrepiados.

- Que lugar é esse? - Lucas questiona.

- Um lugar onde gosto de vir quando quero espairecer.

- Tipo uma praia?

- Sim, só que abandonada. O lugar onde as pessoas frequentam ficam a quilômetros daqui.

- E não é perigoso estar aqui?

- A única pessoa que frequenta esse lugar sou eu, Lucas. Nem os bandidos vem aqui.

- Só você mesmo Isadora. - Lucas ri e balança a cabeça. - O que vamos fazer agora?

- Queria fumar um cigarro.

- Se eu te pedisse você deixaria de fumar?

- Não. Mas eu esqueci minha carteira em casa, então não vou fumar.

- Não sei porque te peço ainda. - Ele diz e revira os olhos.

Me sentei na areia e ele ao meu lado, o céu estava péssimo, não sei quanto tempo demoraria antes que chovesse. Lucas e eu ficamos em silêncio encarando a água na nossa frente, a escuridão trazia uma sensação de vazio enquanto os pensamentos invadiam.

Lucas não diz nada, somente me abraça de lado, eu deixo, afinal estava frio e o calor do corpo dele me deixava  confortável. Pude ouvi-lo sorrir e me senti bem em saber que ele estava bem.

- Vamos entrar na água? - Propus.

- Você tá louca? Tá frio, é noite e você tá resfriada.

- Você é muito medroso, Lucas. - Disse me desvencilhando dele.

- Eu só sou cuidadoso, Isadora.

- Vem me cuidar então. - Levantei do chão e fui em direção a água, ouvi o Lucas me gritar mas já era tarde, já estava entrando.

Ponto de vista: Lucas

Isadora é louca.

Ela entrou na água no escuro e com esse frio. Nao entendo qual o problema dela em se esforçar para chegar pelo menos aos 40 anos.

- Gatinho, vem. - Ela gritou.

- Você é louca, mas eu não.

- Lucas. - Me chamou manhosa.

- Sem chance Isadora. Você é doida, eu não.

Ela não liga e continua na água, ela da um mergulho e nessa hora eu fico mais ansioso ainda, pois ela demora pra subir, me aproximo da água e a chamo, mas ela não responde. Começo a exasperar.

De repente ela volta pra cima, mas parecia estar afogando, ela se debatia na água e já estava ficando sem ar. Sem pensar muito me joguei na água pra buscá-la. Cheguei perto, mas não a encontrei, me desesperei e comecei a gritar na intenção de que ela ouvisse. Quando já estava desesperado senti algo pulando nas minhas costas e em seguida a risada da Isadora.

- Eu vou te matar. - Gritei.

- Você tava quase chorando. - Ela disse ainda rindo.

- Mentirosa. - Disse tentando me recompor.

- Você é incrível, Lucas. - Ela me abraçou. - Entrou mesmo com medo na água pra me socorrer.

- E você é uma dissimulada.

- Desculpa, eu queria fazer uma brincadeira, não imaginei que você ia se assustar tanto.

- Você entra na água de noite, finge que tá se afogando e eu que me assustei.

- Lucas, relaxa, eu fiz anos de natação. O que eu mais sei é nadar.

- Besta, nunca mais acredito em você.

- Não fala assim, gatinho. Obrigada por se preocupar comigo. - Me abraçou apertado e eu devolvi o abraço.

Ficamos por minutos assim, até que começa a chover e um trovão ecoa.

- Isadora, eu detesto quebrar o clima, mas não é meio perigoso ficar aqui com esse tempo? - Digo.

- Acho que sim, chega de emoções pra você hoje.

Saímos da água e fomos até a moto, estávamos encharcados e não secariamos tão cedo nessa chuva.

Pegamos a estrada e finalmente voltamos pra casa.

Opostos - T3ddyOnde histórias criam vida. Descubra agora