Opostos - T3ddy

Décimo sétimo dia

Já era noite e estava tudo péssimo.

Passei o dia de ontem e hoje inteiro no meu quarto evitando mais constrangimento e confusão.

A Carol por mais que diga que me perdoou, não me olha direito e o Christian nem se fala, quando eu entro em um lugar ele imediatamente sai. Não que isso me importa, mas sei quem é o mais afetado com isso, o Lucas.

Ele fica um pouquinho comigo, mas quer aproveitar a viagem com o amigo também o que é perfeitamente compreensível.

Tanto frio e banho de chuva me resultou em uma gripe forte, meu corpo inteiro dói e não paro de tossir. Lucas que tem me ajudado.

- Com licença. - Lucas diz entrando no quarto com uma bandeja. - Eu trouxe uma sopinha pra minha doentinha.

- Primeiro que eu não sou sua. - Ele revira os olhos enquanto coloca a bandeja no meu colo. - Segundo, foi você quem fez isso?

- Até doente você consegue ser chata. O que custa ser manhosa e carente como todos os outros doentes?

- Não sou todo mundo, minha mãe que disse.

- Foi a Carol quem fez. - Respondeu sentando ao meu lado.

- Ela não quis trazer?

O semblante de pena do Lucas foi nítido e me fez sentir miserável.

- Ela vai sair. - Me respondeu evitando contato visual.

- Minha companhia é tão péssima que as pessoas não aguentam conviver na mesma casa que eu?

- Não é isso. Eles vão sair pra comer.

- Sério? Você vai comer o que? A Carol não vai cozinhar? - Comi uma colherada da sopa.

- Eles me convidaram, mas acho que eu não vou... - Ele disse mais uma vez evitando contato visual, era nítido que queria ir.

- Se eu fosse você ia. - Dei de ombros parecendo não estar atingida.

- Por que?

- Pra não ficar sozinho em casa. - Ele me olhou confuso. - Eu vou dormir na casa de uma amiga.

- Mas e eu?

- Por acaso você nasceu grudado em mim? Eu ein. - Ajeitei a postura.

- Mas você tá doente. Eu que tô cuidando de você.

- Cadê seu diploma de medicina? Não sabia que você é médico. Me trazer um prato de sopa que não foi você quem fez e colocar um cobertor na cama qualquer um faz.

- Você é muito ingrata as vezes Isadora. - Ele disse me fazendo estremecer, fazia tempo que não ouvia ele me chamar assim. - As vezes eu entendendo o porquê você não ter amigos.

- Quem disse que eu não tenho amigos? Tenho a Carol e a Sam.

- Você mora aqui a anos e fez duas amigas. E ainda briga com uma delas por ser egoísta e não controlar sua boca. - Ele levanta da cama e vai em direção a porta.

- Eu não me importo, Lucas.

- Então fica sozinha.

Ele virou as costas e bateu a porta. Fechei os olhos com força ao ouvir o estouro da porta, olhei o prato de sopa no meu colo e senti meu estômago embrulhar, não conseguiria comer. Larguei o prato ao lado da cama e me afundei.

Eu sei que fui grossa com o Lucas mas foi necessário pra ele sair e se divertir com seus amigos. Tenho plena consciência que não sou a melhor companhia, principalmente nesse momento e sei que se não agisse assim ele iria querer ficar comigo.

Liguei pra Sam e implorei pra que ela deixasse eu passar a noite na casa dela, mas antes esperei todos saírem de casa. Do meu quarto podia ouvir a voz do Christian empolgado e risos da Carol, por minutos quis estar assim com eles.

Assim que eles saíram, troquei de roupa e fui pra casa da Sam.

- Fazem duas semanas que o Lucas está aqui e não aproveitou a viagem em momento nenhum, não queria que ele voltasse pro Brasil com a sensação que não se divertiu, você entende? - Disse por fim depois de contar toda a história pra Sam.

- Acho que sim, mas acho que se ele gosta de ficar com você não vai se sentir assim. - Sam disse.

- Como você sabe?

- Porque ele gosta. Quando gostamos de alho não nos arrependemos de fazer isso.

- Não é bem assim. - Olhei para meus dedos.

- Acho que você está confusa com seus sentimentos e está descontando isso no garoto. Você gosta dele, mas sabe que daqui algumas semanas ele vai embora e não sabe como reagirá.

- Você deve estar me estranhando. Sabe que eu não sou assim. Que se eu gostasse dele já teria dito isso pra ele.

- Você era assim. Mas tem consciência que a situação é diferente, que ele é diferente.

Ignorei. Não precisava discutir sobre isso. Eu sei dos meus sentimentos e me conheço, sei que não é como ela pensa.