Com a ajuda do Mauro e do Lucas consegui adiantar a passagem da Daniela e ela iria embora hoje. Seria melhor assim. Depois do ocorrido de hoje de manhã, ela se trancou no quarto o restante do dia e não saiu nem pra comer, não queria que fosse assim, mas sei que seria melhor assim.
Eu quis levá-la no aeroporto sozinha, acredito que precisávamos conversar e com os meninos ou até mesmo a Carol não seria da mesma forma.
Ela veio quieta durante todo caminho, olhava pela janela as luzes da cidade. Eu coloquei uma música baixinha e cantarolava pra mim mesma. Sei que aquilo a irritaria e logo ela abriria a boca.
Como eu pensava, ela começou a ficar inquieta, batia com os dedos, mexia as pernas e eu sei que era questão dela falar algo.
- Da pra parar? - Ela gritou.
- Não grita comigo. - Disse.
- Você passou o dia inteiro me irritando e não quer que eu grite?
- Na verdade só nos falamos de manhã e agora antes de sair. - Disse calma.
- Você é muito hipócrita. Aposto que com 17 anos morando aqui longe dos nossos pais você fazia muito pior. - Ela disse.
- E eu fazia mesmo. Em toda sua vida você não vai fazer nada parecido com o que eu fazia.
- E fez esse escândalo todo.
- Mas eu não tinha uma irmã mais velha que me orientasse. - A olhei pela primeira vez e vi ela se acalmar. - A adolescência é a melhor época, mas pode ser a pior e com consequências pro resto da vida.
- Papo de gente chata. - Ela bufou e cruzou os braços.
- Eu sei que é chato, a vida é chata. Ou você pensa que é como nos filmes onde tudo fica bem no final? Se você não ouvir essas coisas chatas o seu futuro vai ser tudo menos feliz.
- Eu só transei Isadora. - Ela disse.
- Você só transou com um cara que nunca viu na vida. E se você pegasse uma doença?
- Você pegou? - Ela me olhou.
- Você vai ouvir isso de mim só uma vez e vai esquecer pra sempre. - Respirei fundo. - Poucas pessoas sabem disso, mas eu me apaixonei uma vez e ele foi um babaca comigo.
- O Will?
- Também. - Ri e ela também. - Mas não é dele que eu tô falando. Foi antes, eu tinha uns 16 anos. Ele me mostrou o mundo sabe, eu estava aqui a pouco tempo e antes na casa dos nossos pais eu não podia fazer nada. Você sabe como é.
- Sei.
- Eu fui a festas, comecei a beber, a transar, conheci pessoas, fui a lugares diferentes, comecei a fumar. - Suspirei pesado. - A usar drogas...
- Você já usou droga? - Ela perguntou com a voz estridente.
- Eu disse que você ia esquecer. - Disse olhando pro volante.
- Tudo bem e o que aconteceu?
- Aconteceu que um dia eu achei que estava grávida.
- Você já esteve grávida? - Ela gritou.
- Não, mas com 16 anos a menstruação atrasa um dia e a gente acha que tá grávida.
- Eu não sou assim. - Ela disse ofendida.
- Ah tá espertona. - Debochei.
- Tá e o que aconteceu com ele? - Ela parecia que estava ansiosa.
Respirei fundo e continuei.
- Ele mandou abortar e sumiu. Nunca mais encontrei ele. - Contei e vi a expressão da Daniela mudar.
- Ele é um idiota.
- Existe centenas. - Dei uma pausa. - Milhares de caras como ele por aí.
- Sim, mas parece coisa de filme, é difícil acreditar que exista gente assim.
Parei o carro no estacionamento do aeroporto e me virei pra Daniela.
- Eu queria ter tido uma irmã mais velha na época pra me ajudar lidar com isso. - Disse.
Daniela olhou para seus dedos por alguns segundos em silêncio. Era como se ela estivesse entendendo o que eu quis dizer.
- Desculpa. - Ela cochicou.
- O quê?
- Desculpa. - Ela pediu outra vez.
- Não ouvi ainda. - Debochei.
- Ah não fode, Isadora. - Ela gritou. - Desculpa, eu sei que é importante ouvir os conselhos dos mais velhos. Eu não devia ter feito aquilo com você e seus amigos.
- Sabe Dani, você é muito mais madura que eu. Sei que naquela época não reconheceria meu erro como você fez. - Disse.
- Será que você me perdoa? - Ela olhou meus olhos.
- Claro. - Sorri.
- Vamos voltar pra sua casa então e eu vou embora no dia que eu disse que iria.
- Boa tentativa, mas acho melhor você voltar nas suas férias do ano que vem.
- Ok. - Ela disse desanimada.
Descemos do carro, pegamos suas malas e fomos em direção do portão de embarque. O vôo dela sairia em 10 minutos e ambas já sentíamos o peso da despedida. A hora de nos despedirmos de vez chegou e surpreendentemente a Daniela me abraçou.
- A gente tem pouco tempo então deixa eu falar. - Daniela começou a falar rapidamente. - Eu lamento muito, muito mesmo pelo que você passou, mas existe muita gente que vale a pena ainda. A Carol é sua amiga vale a pena, os meninos, mas principalmente o Lucas. Ele parece gostar muito de você e eu sei que você também gosta dele, então deixa de ser chata e abre esse coração logo.
- Daniela seu avião vai partir. - Disse mudando de assunto.
- É verdade. - Ela pega sua mala de mão e sai correndo arrastando a outra. - Tchau mana, te amo e sei que você ama o Lucas.
Ela grita e enquanto corre pra pegar o avião, eu rio do jeito maluquinho dela enquanto sinto uma tristeza muito grande me invadindo de ver minha pequena ir embora.
Não sei lidar com despedidas, a tristeza sempre acaba me invadindo. Fiquei da janela vendo o avião dela decolar, sentindo como se meu coração partisse junto.
Peguei meu carro e fui pra casa, mas antes passei no mercado e comprei sorvetes, queria aproveitar esse clima de ressaca e despedida com meus amigos.
Entrei pela porta e encontrei Lucas atirado no meu sofá, Christian no outro, Carol e Mauro sentados no chão, assim que me viram ficaram os quatro em silêncio como se esperassem que eu dissesse alguma coisa.
- Nós fizemos as pazes. - Disse e os quatro comemoraram.
Pegamos os potes de sorvete e nos sentamos os quatro no chão enquanto comíamos e conversávamos. Carol foi dormir cedo porque iria trabalhar no dia seguinte, Christian também foi, Mauro e eu lavamos a louça enquanto o Lucas nos olhava.
Assim que terminamos Mauro foi deitar e ficamos apenas Lucas e eu na cozinha, ele me olhava e eu sabia que queria algo.
- Fala logo porque eu vou dormir. - Disse e ele me olhou como se não entendesse. - Não faz essa cara de sonso.
- Tá bom. - Ele revirou os olhos. - Como a sua irmã foi embora agora e o Mauro está aqui eu queria saber se tem como eu dormir no seu quarto. - Ele olhava para os dedos. - A gente já dormiu juntos algumas vezes e o Mauro tá tendo que dormir no chão, então eu pensei...
- Tudo bem, Lucas. - O Interrompi.
- O quê?
- Tudo bem Gatinho. Pode ficar no meu quarto.
- Sério?
- Se perguntar mais uma vez eu vou dizer que não.
- Tá bom, gatinha. - Ele me abraçou, deu um beijo na minha bochecha e saiu caminhando rápido pro quarto onde ele dormia com o Mauro.
Meu medo era que ele entrasse na minha vida, mas tava na cara que eu não tinha mais como impedir isso.
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Opostos - T3ddy
Fanfiction🚫 NÃO AUTORIZO ADAPTAÇÕES Duas pessoas, uma casa e 30 dias pra fazer sentimentos acontecer!