Décimo sexto dia

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Ponto de vista: Isadora

Já passava das 00h quando chegamos em casa. A chuva só piorava e estávamos pingando água. Eu tossia sem parar e tremia de frio.

Depois de deixarmos a moto na garagem, nos dirigimos até dentro de casa, antes de entramos deixamos nossos calçados na porta e mesmo pingando água entramos dentro de casa.

- Acho que se alguém acordar pode se assustar conosco entrando assim de madrugada. - Lucas disse.

- Assim como?

- Sem fazer barulho, descalços. Isso me parece um tanto suspeito.

- Que seja. - Larguei meu tênis ensopado no chão levemente pra não fazer barulho. - Vou tomar banho.

- Posso ir junto? - Lucas pediu e eu o encarei. - Já sei, não.

- Ainda bem que não preciso dizer nada.

Fui até meu quarto e peguei minha toalha de banho, em seguida fui até o banheiro e me livrei daquelas roupas molhadas no chão, liguei o chuveiro quente e deixei a água percorrer meu corpo começando pela minha cabeça. Fiquei por minutos sem me mover até ouvir a porta abrir e me despertar.

- Tá tão frio, sabia?

- Deixa de ser chato, garoto.

- Imagina que delícia seria nós dois debaixo do chuveiro quente. - Ele diz.

Por minutos caio na imaginação e minha mente vagueia na cena.

Meu corpo vibra.

Não, Isadora, não.

Puxo minha toalha e me enrolo.

- Pode entrar, já terminei. - Digo abrindo a porta do box.

- Tem certeza? - Ele pergunta manhoso.

Reviro os olhos e deixo ele passar.

Ele passa por mim e entra no chuveiro.

Estava apenas com a cintura enrolada numa toalha.

Me encaro no espelho embaçado.

Força garota.

- Você foge porque sabe que não resistiria por muito tempo. - Me provoca.

- Cala a boca, garoto.

- Só se você vir aqui me dar um beijo.

- Posso ir até aí te dar um soco na boca. Serve?

Ele ri.

- Se você der um beijo em seguida serve.

- Você é patético. - Reviro os olhos.

- E você não foi embora até agora porque tá com vontade de entrar aqui e se perder comigo embaixo dessa água quente.

Não digo nada, estava irritada demais. Abro a porta pra sair, dou dois passos pra fora do banheiro, mas minhas pernas travam. A verdade é que meu corpo implora pra que eu entre naquele banheiro e acabe com a prepotência daquele garoto. Por mais que a minha consciência grite pra eu deixar aquilo passar, todo o restante suplica pra que eu volte lá.

Passei 22 anos da minha vida sendo racional.

Não preciso disso agora.

Definitivamente, não.

Volto pra dentro daquele banheiro abafado e abro a porta do box, Lucas estava de costas vira e me encara.

Ficamos assim por alguns segundos.

Até que dou um passo pra frente.

Um passo pra ele.

Ele me puxa pra perto dele e me encara.

- Sabia que você ia voltar. - Ele diz rouco e baixinho.

- Vamos acabar com isso logo.

Ele me beija com força, leva a mão até a minha nuca e pressiona pra intensificar o beijo. Com a outra mão ele arranca aquela toalha que envolvia meu corpo e me puxa pra mais próximo dele.

Num impulso eu entrelaço as minhas pernas na sua cintura, agradeço mentalmente ao antigo dono por ter colocado um pequeno corrimão no banheiro que nesse momento servia de apoio à nós dois. O beijo se intensificava ainda mais e eu cravava minhas unhas nas suas costas.

Agir pela emoção as vezes é muito bom.

~~

Depois do banheiro fomos pro quarto do Lucas, tomamos cuidado pra não fazer barulho e ninguém nos ver. Isso deixava a situação mais excitante.

Já deitados na cama nos encaravamos um de frente pro outro.

- E você não queria entrar no banho. - Lucas debocha.

- Não queria desperdiçar água. - Dei de ombros.

- Otaria. - Ele fecha os olhos com força. - Isso foi incrível.

- Sim.  Foi além de sexo.

- Como assim? - Me questionou surpreso.

- Existe sexo por sexo e existe isso.

- Tipo... Amor?

- Que amor o quê, garoto? Tá doido? - Gargalhei e me sentei na cama. - Emocionado.

- Então o que?

- A gente da certo assim. Na cama. Só isso.

- Você adora agir com frieza diante de qualquer coisa que seja relacionado a nós, não é?

- Se nós tivéssemos alguma coisa.

- Você mesma disse que não é só sexo. - Ele colocou a mão na minha coxa mas eu tirei.

- Sim, temos química. - Me debrucei por cima dele. - Mas felizmente somente na cama.

- Felizmente?

- Por acaso você quer casar comigo? - Questiono e ele nega com a cabeça. - Então sim, felizmente.

- Queria saber se você é assim em todo relacionamento.

- Não vivi muitos relacionamentos. - Me sentei novamente na cama.

- Eu também não. Acho que somos almas gêmeas.

- Acho que você anda muito emocionado. - Peguei uma camiseta comprida que estava ao lado da cama do Lucas e vesti.

- Onde você vai?

- Fumar.

Fui até meu quarto e peguei minha carteira de cigarro, em seguida fui até a frente da casa. Me sentei no pequeno muro e acendi um. Logo ouvi passos atrás de mim, já sabia que era o Lucas.

- Vai dormir comigo? - Me questionou.

- Você sabe que não.

- Não custa tentar. Porque você fuma tanto?

- Adivinha. - O encarei.

- Por que você acha que pode preencher um vazio com o cigarro. Como você saiu de casa muito cedo e viveu um relacionamento traumático, acha que a fumaça do cigarro entrando nos seus pulmões te faz sentir melhor.

- Não.

- Por que então?

- Porque eu quero. - Respondo.

Lucas ri.

- Você é sempre tão prática, Isadora.

- Você que é emocionado demais. Nem tudo na vida tem uma profundidade. As vezes é mais simples do que parece.

- Acho que tenho muita coisa pra aprender com você ainda. - Disse e se aproximou de mim.

- Também acho. E acho que pode começar aprendendo a escolher tecidos. Essa camiseta é péssima.

Ele riu e me beijou.

Opostos - T3ddyOnde histórias criam vida. Descubra agora