Algum tempo depois

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O tempo passou depois que os meninos foram embora, mas pra falar bem a verdade não faço ideia do quanto. Mergulhei de cabeça no trabalho para esquecer tudo aquilo. Foi apenas um mês e acredito que não devia me afetar tanto.

Olhei pro relógio e vi que já era madrugada, mas eu continuava focada nos meus desenhos. Depois do lançamento da última coleção que foi um sucesso, começamos a pensar como seria a próxima, desde então estou perdendo algumas noites de sono.

- Você vai enlouquecer. - Carol disse entrando na cozinha.

- Se eu ficar louca com um modelo meu na próxima coleção eu acho tudo bem. - Respondi.

- É sério, li uma matéria sobre pessoas que ficam compulsivas pelo trabalho. Isso é doença. - Ela diz servindo um copo d'água.

- Eu só preciso me sair bem. Na última coleção tive um modelo como destaque no desfile. Preciso fazer isso outra vez.

- Mas você precisa dormir também e comer. Você não tem feito isso. - Ela disse e viu o copo de Whisky a minha frente. - Você quer adquirir uma cirrose, certo?

- Eu só preciso trabalhar.

- Você está exagerando e sabe porque está fazendo isso. Já se passaram quase três meses.

- Três meses? Não fazia ideia que passou tanto tempo assim.

- Mas faz, você precisa relaxar.

- Nem pensar em balada.

- Tudo bem. - Ela levanta as mãos. - Mas pelo menos podemos pedir uns hambúrgueres.

- Eu gosto dessa ideia.

- Mas sem desenhos. - Ela segurou minha mão.

- Ok. - Aceitei.

Carol pediu a comida e começamos a comer, ela contava histórias divertidas do trabalho e nós duas ríamos. Percebi que eu não tinha nada para contar, nos últimos meses eu apenas trabalhei e esqueci de viver e a última vez que me diverti tanto foi quando os meninos ainda estavam aqui.

- Sua expressão mudou totalmente, não sei se tenho medo. - Carol disse.

- Eu só pensei e acho que você está certa. Faz muito tempo que eu não relaxava. 

- Até que enfim você admitiu que eu tenho razão no que falo.

- Não exagera.

- Vou pegar uma cerveja, quer? - Carol me questionou enquanto ia pra geladeira.

- Não, esses hambúrgueres não me fizeram bem, estou um pouco enjoada. - Respondi.

- Isso é gastrite por beber de estômago vazio. - Ela disse e voltou da cozinha com uma lata de coca cola e me entregou.

- Besta. - Peguei a lata.

- Mas sabe esses hambúrgueres não me fizeram bem também. Acho que estavam meio estragados.

- Você pediu de um lugar confiável, não pediu?

- Pedi de uma hamburgueria que estava em promoção.

- Que horror Carolina, isso podia estar realmente estragado.

- A gente precisa economizar pra não precisar receber mais desconhecidos na nossa casa. Dessa vez demos sorte que os meninos eram bacana, mas na próxima pode vir gente pior.

- Nem me fala.

- Você tem ligado pro Lucas? - Carol me questionou.

- Nos falamos algumas vezes depois que ele foi embora, mas não valia a pena nos enganarmos mais.

- Sinto muito.

- Foi melhor assim.

Ela toma um gole da sua cerveja.

- Está melhor? - Ela me questiona.

Eu fico em silêncio por alguns segundos antes de soltar um grande arroto.

- Agora estou. - Disse e nós duas rimos.

~~

Cheguei no trabalho um pouco atrasada no dia seguinte. Quando cheguei as meninas já estavam a todo vapor produzindo as peças. Fui direto a minha mesa e encontrei as peças interminadas de ontem, quando comecei a trabalhar ouvi minha chefe me chamar, logo um arrepio correu por minha coluna, olhei no relógio e então pensei em uma boa desculpa para meus  27 minutos de atraso.

- Olá. - Disse assim que entrei na sala dela.

- Olá querida, sente-se. - Ela aponta pra uma cadeira.

- obrigada. - Sentei e ajeitei minha coluna esperando o esporro.

- Sabe querida, você é uma incrível funcionaria. Uma das melhores que já passou por aqui. - Ela disse olhando alguns papéis. - Seu modelo da última coleção foi um sucesso e eu conto com próximo na nova.

Ela me encarou sob o óculos.

- Claro, já estou trabalhando nisso. - Disse tensa.

- Eu tinha certeza que poderia contar com você. Obrigada querida, pode voltar.

Ela praticamente me expulsou do seu escritório. Voltei pra minha mesa me sentindo tonta. Eu tinha medo que a ansiedade voltasse, mas nesse momento eu estava sentindo ela me invadir. Eu já estava me pressionando para fazer o meu melhor, mas agora era muito pior.

Resolvo respirar fundo e me lembrar das técnicas que a terapeuta me ensinara. Voltei a costurar mas fui espetada por uma agulha, soltei a costura e resolvi tomar um copo d'água. Fui até o bebedouro e servi um copo, bebi um gole, mas não senti melhora.

Fui até a mesa da Sam com dificuldade e uma tontura me invadiu, antes de falar mais alguma coisa meus olhos escureceram e a última coisa que me lembro foi ela me questionar se estava tudo bem.

Opostos - T3ddyOnde histórias criam vida. Descubra agora