Vigesimo setimo dia (parte dois)

1.9K 145 67
                                    

Acordar pela manhã, virar pro lado e ver o Lucas deitado ali ainda era estranho pra mim. Fiquei muito tempo fechada num casulo e ver alguém tentando abri -lo me deixava estranha e o pior é que eu não teria tempo pra me acostumar com isso.

Fiquei deitada na cama olhando pro teto por algum tempo, fiquei pensando como seria minha vida daqui pra frente. O que me consola é que logo voltarei ao trabalho, pro que preenche a minha vida e faz eu me sentir bem.

Ouvi o Lucas se esticando na cama e o olhei, aos poucos ele abria os olhos e sorriu. Eu disfarcei e voltei a olhar pro teto. Não queria conversar.

- Acordou de mal humor já. - Lucas disse e riu.

- Como você sabe?

- Sua cara entregou. O que foi?

- Nada. Tava pensando que o desfile da nova coleção do ateliê é depois de amanhã.

- Sério? Eu vou poder ir? - Ele perguntou animado o que partiu meu coração.

- Não sei nem se eu vou. Eu sinto que não participei da montagem das coisas. Aí no final vou subir na passarela e levar os créditos por algo que não executei.

- Tenho certeza que os seus colegas não pensam assim. Eles sabem que você não tem culpa por ter ficado doente.

- Engraçado você todo desajustado me dando conselho.

- Eu sei que você não acredita no meu potencial, mas eu faço algo que preste de vez em quando. - Ele diz.

- Eu sei. - Disse e me afundei no seu peito.

- Não é só isso, né?

- Eu acho que a ansiedade tá voltando. - Disse ainda com o rosto afundado no seu peito. - Acho que vou levantar e fumar um cigarro. Pode ser só a nicotina dizendo que é hora dela entrar no meu corpo.

Levantei da cama e fui até o quintal da casa, estava silêncio e provavelmente Carol e Christian já tinham saído. Me sentei na escadinha que dava entrada pra casa e acendi o cigarro, logo senti o Lucas sentar ao meu lado e o cheiro de menta do cigarro dele.

- Você não devia fumar. - Disse a ele.

- Você também não.

- Eu fumo a anos Lucas. Por mais que você não acredite, a hora que eu quiser eu posso parar. - Disse.

- Eu acredito. - Ele disse e tragou o cigarro.

Ficamos nos olhando sem dizer nada.

- É sério que você vai ter essa atitude infantil de se eu fizer, você também vai fazer?

- Desculpa Isa, mas se esse é o único jeito.

Suspirei pesado.

- Tanto faz. - Disse.

- A gente podia ir no seu trabalho hoje, né. Assim você saí de casa e aproveitamos o dia em algo que não seja dormir.

- Pode ser. Mas vamos levar o Mauro, ontem ele ficou em casa enquanto saímos e isso doeu meu coração.

- Deixa de ser mentirosa, que nem coração você tem.

Revirei os olhos. Eu tenho coração e as vezes ele se magoa.

~~

Os meninos estavam mais ansiosos que eu parar conhecer o local onde trabalho, Lucas já tinha ido lá outra vez e dava ao Mauro seu parecer sobre tudo que viu. Eles conversavam bastante enquanto eu dirigia olhando a rua e tentando manter meus pensamentos ocupados.

- A Isa tá estranha. - Ouvi Mauro dizer.

- Sim, chega a me dar arrepios. Lembra a Isadora que eu conheci quando cheguei aqui. - Lucas disse esfregando o braço.

- Eu ainda tô aqui. Só pra constar. - Disse.

- Mas parece que não. Tá tudo bem? - Mauro me questionou.

Respondi apenas com um aham.

Pude ouvir quando o Lucas se virou e cochichou pro Mauro algo como "ela tem problemas com depressão".

- Se você vai fazer a fofoca faz direito. - Disse ao Lucas. - Eu fui afastada do trabalho porque tive uma crise de estresse e de ansiedade. Eu não sou triste, eu não sou deprimida, eu só fico pensando demais nas coisas e isso me deixa aflita.

- Você faz tratamento? - Mauro me questionou.

- Eu não quis tomar remédio, aí o médico pediu pra eu ficar um mês em casa, se eu apresentasse melhora não precisaria. - Respondi.

- Você é muito teimosa, Isadora. - Lucas disse.

- Você tá sentindo melhora? - Mauro questionou visivelmente preocupado.

- Sim. - Respondi querendo que o assunto acabasse logo.

- Você pode contar comigo caso queira conversar. - Mauro disse.

- Obrigada Maurinho. - Respondi.

- Comigo também. - Lucas disse.

Comecei a rir e Mauro também.

- É ciumento. - Mauro disse.

- Pelo menos eu fiz você rir. - Lucas disse e cruzou os braços.

- Obrigada Lucas. - Respondi.

Opostos - T3ddyOnde histórias criam vida. Descubra agora