Primeira palavra/primeiro sentimento

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Nunca pensei que seria tão difícil cuidar de duas crianças com 10 meses. Eles estão mais espertos, curiosos e cada vez mais agitados.

Ambos já engatinham, a primeira a aprender foi a Elisa, é impressionante o quanto essa garotinha é inteligente. Não precisou ser incentivada pra aprender sozinha, diferentemente do seu irmão que é preguiçoso e adora um colo, mas Lucas e eu concordamos que cada bebê tem seu tempo e depois de ver sua irmãzinha brincando sozinha e "caminhando" dentro de casa logo quis se aventurar também.

- Hey son, say mom. - Eu dizia pro Théo que brincava com meu celular. - Mommy.

- Negativo fala papai. - Lucas que estava brincava com a Elisa no tapete da sala gritou. - E porque você tá ensinando ele a falar em inglês?

- Porque se ele vai morar aqui ele precisa falar em inglês. - Eu disse e Lucas ficou sério olhando para os brinquedos da Lisa. - O que foi?

- Nada. - Ele disse mexendo em um cachorrinho de pelúcia.

- Eu te conheço, sei que não é nada.

- Não adianta falar com você. - Ele levantou do chão e parou em frente da janela de vidro.

Olhei sem entender e entendi que precisava conversar com ele, Lucas está cada vez mais distante, me arrisco a dizer que até triste. Eu precisava entender o que está acontecendo.

Larguei o Théo no sofá junto com a Lisa e caminhei devagar até o Lucas. Parei nas suas costas e abracei a mesma, ele suspirou pesado e eu o apertei.

- Meu amor, o que foi? - Questionei.

- Eu não quero ficar longe dos meus bebês e a cada dia que passa eu sei que tá se aproximando a hora de ir embora. - Ele desabafou.

- Você sabe que não precisa ir. - Disse.

- Eu preciso, tem meu trabalho... - Ele disse, mas eu não deixei terminar.

- Lucas, olha pra mim. - Ele virou de frente e eu segurei seu rosto com as minhas mãos. - Você já viu que dá certo morar aqui, você fica perto dos nossos filhos, você pode gravar normalmente. Além do mais, você está aprendendo a falar em inglês, logo vai podergravar vídeos nesse idioma e expandir seu público.

- Eu vou ficar longe da minha família. - Ele virou novamente de costas pra mim.

- Seus filhos são sua família, eu sou sua família. - Me enfiei entre a janela e ele ficando na sua frente.

- Não quero estar aqui empatando sua vida, impedindo você de conhecer outro cara.

Eu ri.

- Lucas, você realmente acha que eu quero conhecer mais alguém? Você é tonto? Não percebe que eu não quero mais ninguém além de você? - Desabafei.

Todo o apoio que o Lucas me deu durante a gravidez e agora com o crescimento dos bebês me fez enxergar ele como alguém além de um amigo. Eu estava disposta a tentar e nesse momento tudo dependia dele.

- Você está confundindo as coisas. - Foi a única coisa que ele disse antes de sair da sala e me deixar sozinha.

Fiquei alguns minutos parada no mesmo lugar tentando digerir as palavras dele, antes de me sentar no sofá perto dos bebês que brincavam sem entender nada daquela situação.

- Que cara é essa? - Carol me questionou assim que chegou na sala.

- Eu acabei de levar um fora. - Eu disse.

- De quem? - Ela riu.

- Do Lucas. - Respondi e ela me olhou assustada. - Eu falei pra ele o que sinto e ele me ignorou. Ele quer voltar pro Brasil quando os bebês completarem um ano.

- Amiga. Eu sinto muito. - Carol me abraçou enquanto eu senti lágrimas encharcarem meus olhos. - Vai dar tudo certo.

- Assim espero. - Respondi.

~~

Depois de algum tempo Lucas dormiu no quarto dele, nos últimos meses ele se mudou pro meu quarto, mas depois da conversa de hoje ele apenas colocouos bebês para dormirem e foi pro seu quarto.

No meio da noite acordei com o Theo chorando, Lucas estava ao lado do berço tirando ele do mesmo. Com o susto me levantei rapidamente e tive uma tontura e sentei na cama novamente.

Lucas cochichou pra eu ficar ali enquanto saía com o Théo do quarto. Fui checar a Elisa que acordou com o choro do irmão, ela olhava com seus pequenos olhinhos assustada, eu peguei ela no colo antes que começasse a chorar. Ela definitivamente era mais calma que o seu irmão, com alguns segundos no meu colo ela cochilou.

Fui até a cozinha onde Lucas tentava acalmar o Théo, ele estava exausto, mas não deixou eu pegar o bebê.

- Ele não quer a mamadeira, deve estar com alguma dor. - Ele disse enquanto o bebê ainda chorava.

- O que foi meu filho? - Eu questionei.

Lucas o chacoalhava e aos poucos ele foi parando de berrar e ficou apenas choramingando, Lucas parecia mais tranquilo também, com o choro do bebê ele ficou visivelmente nervoso.

Théo esfregava as mãoszinhas no olhos e parecia que logo iria dormir, eu me aproximei dos dois e acariciei sua bochecha, ele me olhou e de um jeito inesperado e fofo soltou um "mom", Lucas suspirou impaciente e o largou no meu colo.

- Eu faço ele parar de chorar e ele fala mamãe. - Lucas disse irritado caminhando de um lado para o outro. - Mas a Lisa eu vou ensinar a falar papai.

Era engraçado sua indignação. Eu me aproximei dele com o bebezinho no colo e parei na sua frente.

- Olha o papai, amor. - Disse para o Théo.

Théo que já estava tranquilo sorriu ao ver o Lucas e esticou seus pequenos e gordinhos braços em sua direção.

- Vem meu filho. - Lucas disse pegando o bebê no colo.

- Viu, ele sabe que você é o pai dele. Só aprendeu a falar mamãe primeiro. - Eu disse.

- Eu sei, mas a Elisa vai aprender a falar papai primeiro. - Lucas disse me fazendo rir.

- Tudo bem. - Respondi.

Opostos - T3ddyOnde histórias criam vida. Descubra agora