Décimo primeiro dia (parte três)

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Estava ansioso esperando que a Isadora esboçasse qualquer reação quanto ao lugar que a trouxe, mas pra minha insatisfação ela só observava sem dizer coisa alguma.

- Isadora, tá tudo bem? - A questiono não aguentando mais tanto suspense.

- O lugar é bacana.

- Quer dizer que eu acertei? - Digo empolgado.

- Não, calma. Eu tenho que ver primeiro o cardápio. - Ela diz com sua postura confiante.

- Ok. - Digo trancando o riso.

Fomos até a nossa mesa, ela sentou na minha frente e observou o menu atentamente. Como não queria passar vergonha quando fiz a reserva pedi pra ver o menu e tirei uma foto pra pesquisar em casa e assim não precisar da ajuda dela. Fiz meu pedido e ela o mesmo.

- Tá aprendendo inglês? Que bonitinho. - Ela diz.

- Você me acha bonitinho? - Pergunto e ela revira os olhos. - O que foi?

- É sério que você tá me perguntando isso?

- Sim, por que?

- Porque é lógico que você é bonito, não tem necessidade de eu dizer isso.

- Jura? - Dou um sorriso largo.

- Sim, Lucas. - Ela fala naturalmente. - Acha mesmo que se eu te achasse feio estaria aqui com você? Você só se veste meio mal as vezes.

- Não precisa me humilhar também. - Me encolho. - Eu só não entendo muito de moda.

- Eu vejo. - Ela diz e beberica seu copo d'água.

- Essa é a hora que você me oferece ajuda.

- Eu não. Esse é o meu trabalho e eu não trabalho de graça.

- Tá certo. Eu também não trabalho de graça. E aí aprovou o cardápio?

- Levando em consideração que tem meu prato favorito sim. - Ela responde. - Jura mesmo que foi você quem escolheu esse lugar?

- Claro. Por quê?

- Não acredito. Não é seu tipo.

- Claro que é. Você quem não me conhece. Nem da brecha pra conhecer.

- Não me leva a mal, só não quero muito envolvimento, daqui a umas semanas você vai embora e tudo isso aqui não vai ter sentido. Vamos ser só um caso que passou na vida do outro. - Ela diz friamente e meu interior estremece.

Sei que somos passageiros na vida do outro, mas não acredito que precisa ser assim. Tenho consciência que daqui a umas semanas não estarei mais na sua casa, mas pelo menos amigos podemos ser.

- E por isso precisamos ser inimigos?

- Inimigos não, mas não precisamos ser melhores amigos. Muito menos brincar de sermos namorados.

- Mas amigos podemos ser. - Insisto.

- Você acredita em amigos que transam? - Ela me encara de um jeito sexy.

- Acho que podemos quebrar esse protocolo. - Digo e ela ri.

- Não entendo vocês homens, nunca querem assumir compromissos e quando damos a oportunidade de vocês ficarem com alguém sem compromisso vocês ficam assim.

- Eu não sou como os outros.

- Só por essa frase vejo que você é. - Ela diz e eu gargalho.

- Eu entendo que não significo muita coisa pra você, só não queria me sentir um nada.

- Ok. - Ela suspira fundo. - Pergunta alguma coisa que você queira.

- Qualquer coisa?

- Sim, só não garanto que vou responder.

- Do que você gosta?

- Muito ampla sua pergunta, eu gosto de muitas coisas.

- Sério? Não me leve a mal, é que você parece bem indiferente a tudo.

Ela joga o cabelo pro lado e desvia o olhar que estava fixo em mim pro lado.

- Eu não me importo mesmo. - Ela ri sem mostrar os dentes.

- Por isso que eu perguntei. O que você gosta?

Ela parecia impaciente, continuava mexendo no cabelo.

- Eu gosto do meu trabalho, gosto da minha casa, gosto da minha vida...

- Isso é superficial.

- O que você quer saber afinal? - Ela grita.

- Saber o que você gosta. - Digo calmo.

- Gosto de coisas simples, gosto de divertir com meus amigos, de comer coisas que eu gosto, de ficar tranquila em casa assistindo televisão, de me sentir confortável... - Ela diz por fim.

- Acho que não somos tão diferentes.

- Somos sim. - Ela faz bico.

- Bom, você não me perguntou, mas eu gosto de estar com meus amigos, gosto de saber que meu trabalho da certo, gosto de ver você se abrindo comigo.

- Tem razão. Eu não te perguntei. - Ela diz me fazendo rir.

Opostos - T3ddyOnde histórias criam vida. Descubra agora