Trigesimo dia (parte quatro)

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Essa era uma das situações mais constrangedoras que passei na minha vida. Lucas e eu ficamos um ao lado do outro sem conversar absolutamente nada. Metade de mim achava que não tínhamos mais o que falar, pois deixamos tudo claro ontem, mas a outra metade achava que devíamos conversar e apenas não sabíamos como começar.

- Você não vai dançar? Disse que faria isso hoje. - Lucas falou olhando pra frente sem me olhar.

- Ia, ou melhor, vou. - Respondi.

- E porque não foi ainda?

- Porque não quero. - Beberiquei meu drink.

- Então não veio disposta a cumprir seu propósito. - Ele continuava sem me olhar.

- E o que você sabe dos meus propósitos? - Parei na sua frente obrigando a me olhar.

- Nada. - Ele disse e olhou para baixo. - Eu não sei nada sobre você.

- Tem razão. Nem eu sei de você. A única coisa que sei é que você é um covarde, besta.

Ele riu e balançou a cabeça.

- Você sabe bem mais coisas de mim, só tá com raiva. - Ele disse.

- Sei que amanhã você não estará mais aqui e que não teve a sensibilidade de me contar. Você não deve satisfação nenhuma a mim, mas pensei que eu tivesse o mínimo de relevância pra você. Sei também que você é tão besta que não teve a coragem de olhar na minha cara depois de tudo isso como se a culpa fosse minha. Que o Mauro é muito mais homem que você porque ele teve coragem de ir no meu quarto se desculpar e pedir pra eu passar a merda desse dia com vocês. Sei que a partir de amanhã você volta pra sua casa e quem vai ficar aqui com cara de besta remoendo tudo que a gente viveu vai ser eu. - Falei sem pensar muito.

- Desculpa. - Ele disse.

- Só isso?

Ele suspirou impaciente.

- Desculpa por ser um covarde do caralho que não teve a dignidade de te falar a verdade, que justificou isso dizendo que não queria te ver triste, mas que na verdade só tá com medo de te dar tchau. - Ele deu dois passos e se aproximou de mim, colocou uma mecha do meu cabelo pra trás da orelha e se aproximou do meu rosto. - Eu não quero te dar tchau, mas não posso ficar e sei que você não vai querer ir comigo. Desculpa por ter sido covarde, eu sei que você não merecia isso.

Ficamos em silêncio por algum tempo, ele ficou com a testa colada na minha apenas sentindo a presença um do outro, até eu sentir que aquilo me faria mal e me afastar.

- Eu quero beber alguma coisa, não me leva a mal. - Disse e sai em direção ao bar.

Pedi mais uma dose de Whisky e ao terminar senti minha cabeça girar, me apoiei no balcão e até o barman perguntou se eu estava bem. Olhei pra frente e vi Christian, Carol e Mauro dançando. Fiquei pensando no quanto sentiria falta disso. Olhei pro canto e vi o Lucas, fiquei pensando em que momento me deixei levar e perdi totalmente minha postura de durona e deixei ele entrar na minha vida.

Larguei o copo que estava na mão e decidi ir dançar, afinal, essa noite eu estava aqui pra isso.

Era uma balada que tocava músicas bem agitadas e isso me fazia bem. A cada batida da música eu sentia a empolgação aumentar em mim, logo me juntei a Carol e Christian que entre uma música e outra trocavam um beijo. Mauro até tentou chamar o Lucas pra dançar, mas ele quis continuar onde estava, mas eu notava que volta e meia ele olhava pra nós.

Fechei os olhos e dancei uma música inteira assim, quando abri percebi que o Mauro não estava mais ao meu lado, olhei pro bar e enxerguei Lucas e ele lá. Fui até eles me embalando no som da música e pedi mais uma bebida.

- Você não está bebendo demais? - Mauro perguntou.

- Eu sou forte, eu aguento. Porque você não quis mais dançar? - O questionei.

- Não quis deixar mais o T3ddy sozinho. - Mauro respondeu.

- É porque você não dança? - Perguntei ao Lucas.

- Não sou muito bom nisso. - Lucas respondeu.

- E por acaso eu sou? É só dançar. Se balançar sabe.

- Não adianta, Isa. Ele tá chato. Tá sofrendo de saudade antecipada. - Mauro disse.

Um nó se formou na minha garganta.

- Tudo bem. - Lucas disse.

- Você não trouxe cigarro? - Mauro me questionou.

- Não. Acho que não vou fumar mais. - Respondi.

- Sério? - Lucas gritou. - Isso merece uma comemoração.

Lucas entregou meu copo na minha mão e fez os três darmos um brinde. Achei bonitinho da parte dele.

- Vamos dançar, por favor. Não quero ficar sozinha com o casal. - Disse me referindo ao Christian e Carol que ainda se beijavam.

- Tudo bem. - Mauro disse.

- E eu? - Lucas perguntou.

- Você vem junto. - Segurei a sua mão e o puxei pra dançar.

Eu segurava sua mão enquanto pulavamos e nos balançavamos ao som da música, logo Mauro sumiu do nosso lado e eu não me importei, Lucas estava aqui comigo.

Entre uma música e outra nossos olhares se cruzaram e tudo foi ficando pequeno ao nosso redor, cada vez mais o espaço entre nós diminuía. Senti as mãos do Lucas na minha cintura e logo sua boca na minha. E foi assim que aconteceu, como na primeira vez.

- Vamos sair daqui? - Ele perguntou.

- Vamos pra onde você quiser. - Respondi entre um sorriso.

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Obs.: pegou esse diálogo quem tem a memória boa, ein. sentindo cheiro de saudade dessa história. ❤❤

Opostos - T3ddyOnde histórias criam vida. Descubra agora