Trigesimo primeiro dia (parte dois)

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Ao chegarmos em casa encontramos Mauro na sala olhando televisão, ele parecia se divertir com um programa qualquer que passava. Quando olhei para o canto vi as malas dos meninos deixadas no chão, engoli em seco, Lucas percebeu e passou uma mão nas minhas costas a fim de me consolar, eu sorri mesmo sem vontade.

- Eu vou arrumar as minhas malas. - Lucas disse.

- Tudo bem. - Respondi encolhendo meus ombros.

Ele saiu da sala e eu fiquei ali com o Mauro, ele me olhou e sorriu sem mostrar os dentes. O silêncio perdurou e eu fui atrás do Lucas.

- Quer ajuda? - Questionei escorada no batente da porta.

- Não precisa. Acho que não vou esquecer nada. - Ele respondeu.

- Mas quero ficar perto de você enquanto ainda posso. - respondi.

Lucas que estava de costas pra mim arrumando sua mala me olhou e bateu com a palma da mão na cama a sua frente, fui até lá e me sentei.

- Você pode me visitar, assim como eu também. - Ele disse.

- Acho difícil eu ir até lá, mas tudo bem.

- Eu venho então. - Seus olhos estavam marejados.

- Vou te receber de braços abertos sempre. - Sorri.

- Desde que não seja como no início. Nada contra, não guardo rancor, mas você podia ter sido mais simpática.

- Não vou pedir desculpas por não ter gostado de vocês.

- Então não venho mais. - Lucas fez beiço.

- Você vai vir sim. - Sentei no chão pra ficar bem de frente pra ele. - Por favor.

Ele me abraçou.

- Só se você me dar um beijo. - Disse e fez um biquinho.

Eu não conseguia controlar a vontade de rir, então me estiquei e dei um beijinho na ponta do seu nariz. Ele me olhou e revirou os olhos em seguida.

- Vou te ajudar a arrumar essa mala, se não você não termina hoje. - Disse dobrando suas roupas.

O ajudei a arrumar suas malas e em seguida nos encontramos com os demais na cozinha.

- Vocês saem daqui a pouco. Querem comer algo? - Carol os questionou.

- Eu quero. - Mauro disse.

- Eu também. - Christian disse.

- Ótimo, vou preparar. - Carol disse indo em direção a geladeira. - E você Lucas, quer algo?

Pela primeira vez em muito tempo Carol não chamou Lucas de T3ddy.

- Não tô com fome. - Ele respondeu.

Estávamos todos em clima de despedida, mas Lucas parecia estar sentindo mais. Eu disfarçava, mas por dentro estava arrasada também, pra consola-lo segurava sua mão o tempo todo. Os meninos conversavam e puxavam assunto com Lucas, eu escorei minha cabeça no ombro do mesmo e fiquei apenas escutando.

Fomos todos juntos até o aeroporto, deixei Carol ir dirigindo dessa vez e fui no banco de trás com Mauro e Lucas. A cada esquina que passávamos eu sentia como se meu coração se partisse.

Chegamos no aeroporto e Carol e eu ajudamos os meninos a carregarem as suas malas, nunca vi homens que carregasse tantas bagagens, mas eu entendia afinal eles precisavam carregar câmeras e materiais de trabalho.

Lucas me abraçou de lado enquanto caminhamos juntos. Eu evitava o contato visual com todos, não queria que me vissem naquela situação.

Encontramos bancos disponíveis para sentar e assim fizemos, tínhamos alguns minutos antes deles embarcarem.

- Queria poder ficar mais. - Mauro lamentou.

- Eu também, mas já não aguento de tanta saudade da minha casa. - Christian disse.

- E você T3ddy? - Mauro questionou.

- Acho melhor mudarmos de assunto. - Lucas respondeu e sorriu forçadamente.

Todos desviaram a atenção dele e continuaram em outros assuntos.

- Posso falar com você? - Lucas cochichou.

- Claro. - Respondi.

Ele me puxou para que levantassemos para conversar em particular. Lucas abraçou minha cintura e eu envolvi seu pescoço com meus braços.

- Não acredito que esse dia chegou. Você finalmente vai se livrar de nós. - Lucas disse.

- E eu não pensei que seria tão doloroso. - Sorri sem vontade.

- Vou sentir sua falta.

- E eu a sua.

- Sabe, passamos só um mês juntos e serviu pra eu entender que você foi uma das pessoas mais importantes que já conheci.

- Cala a boca Lucas, eu só te dei trabalho e preocupação, fui grossa com você e ingrata com as vezes que você tentou me ajudar. - Meus olhos encheram de lágrimas. - Quando você chegou aqui eu tava toda machucada, ferida aqui. - Apontei para meu coração. - E você me ajudou a curar isso. Com uma paciência que minha mãe nunca teve comigo. Você é o cara mais incrível que eu já conheci. - As lágrimas caíram. - Você tem noção que eu nem lembro a última vez que chorei.

Ele apenas me abraçou enquanto eu sentia lágrimas quentes correndo pelo meu rosto. Ficamos assim por tempo o suficiente para os meninos o chamarem pra embarcar.

- Só um minuto. - Lucas pediu a eles enquanto eu secava minhas lágrimas. - Eu prometo que volto, tá?

Eu assenti com a cabeça.

- Prometo que vai ser melhor quando você voltar.

- Já foi incrível agora. - Lucas disse e os meninos o chamaram mais uma vez. - Eu já vou. - Lucas gritou mais uma vez. - Tchau.

- Espera. - Eu o abracei. - Só deixa eu sentir voce mais uma vez antes de ir. - Sussurrei no seu ouvido.

Ele selou nossos lábios.

- Foi bom te conhecer. - Ele disse se afastando se mim.

- Foi ótimo te conhecer. - Disse vendo ele se afastar de mim.

Carol o abraçou para se despedir, dei um tchauzinho de longe para os meninos e então os vi indo em direção ao portão de embarque sentindo um grande peso emcima de mim. Carol veio até mim e me abraçou de lado enquanto eles iam embora.

Opostos - T3ddyOnde histórias criam vida. Descubra agora