Trigésimo dia (parte dois)

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Naquela noite eu sequer consegui dormir, me virei mil vezes na cama pensando como seria o dia de hoje. O último dia dos meninos aqui. Tentei fazer meditação, exercício de respiração, ouvir música calma, tudo pra evitar a ansiedade, mas era inútil. Joguei minha carteira de cigarro fora, não queria acabar com meu pulmão por essa situação.

Quando o dia clareou eu me senti aliviada, a luz do sol me trazia alento, eu sentia que tudo ficaria bem sob a luz do sol. Aos poucos até o sono vinha, mas eu não conseguia ainda dormir, pelo menos tentei afastar meus pensamentos pra sofrer menos.

Eu não fazia ideia de que horas eram, mas ainda estava deitada, já devia ser quase meio dia ou qualquer coisa assim e eu não tinha a pretensão de levantar.

Ouvi batidas na porta e pensei em fingir que estava dormindo, mas achei infantil da minha parte então fui atender.

- Mauro? - Disse assim que abri a porta.

- Fico feliz que você tenha me atendido. - Ele sorriu de forma muito fofa.

- O que foi? Tá tudo bem? - Questionei.

- Sim, é que os meninos, a Carol e eu vamos sair pra almoçar. Você quer vir?

- Acho que não. Não tô me sentindo muito bem. - Disse.

- Desculpa Isa. - Ele disse me pegando desprevenida. - Eu fui covarde, devia ter tido coragem de dizer pra você que íamos embora. Você não merecia saber assim. Ontem foi um dos dias mais importantes da sua vida e ficou manchado por essa lembrança ruim, mas eu quero te pedir pra passar esse último dia conosco. Sua companhia faz falta.

Meus olhos se encheram de lágrimas, fiquei comovida com o pedido dele.

- Tudo bem. Vocês esperam eu me vestir? - O questionei.

- Claro. - Ele disse e surpreendentemente me abraçou. - Nossas conversas vão fazer falta.

- Sim. - Disse me soltando do abraço.

- Vou te esperar na sala. - Ele disse e se retirou.

Coloquei qualquer roupa e me olhei no espelho, estava bom assim, joguei minha bolsa no ombro e fui em direção a sala.

- Vamos? - Questionei.

- Sim. - Mauro respondeu.

- Isa, você vai no seu carro? Os meninos vão comigo. - Carol disse.

- Se não tiver problema eu posso ir com vocês. - Disse e encolhi meus ombros.

- Meu Deus, eu vou ter a honra de ter Isadora no meu carro? Que milagre é esse? - Carol disse surpresa.

- Eu só não quero ir sozinha. - Disse.

- Tudo bem. Eu pensei que podíamos ir em um lugar que não fomos ainda. - Carol mudou rapidamente de assunto quando viu que eu estava triste.

- Eu acho bom. - Mauro se pronunciou também.

- Vamos então. - Carol disse.

Fomos em direção ao carro, no banco do carona foi o Christian e atrás Lucas, Mauro e eu. Mauro foi no meio separando. Somente Christian, Carol e Mauro falavam.

Carol foi em um restaurante longe da nossa casa, foi um milagre ter lugar ali, porque era um dos mais procurados naquela região. Sentamos na mesa e Lucas sentou longe de mim, eu já nem me importava mais, achava melhor assim. Volta e meia eu até olhava pra ele, mas era completamente ignorada, então passei a evitar o contato visual também.

- O que a gente vai fazer depois do almoço? É nosso último dia aqui a gente podia ir em outros lugares. - Mauro sugeriu.

- Ótimo, mas vocês já viram quase tudo. A gente podia ir em alguns parques, fazer passeios ao ar livre. - Mauro sugeriu.

- Eu gosto da ideia. - Lucas disse.

- Eu preferia ir em uma balada. - Christian disse.

- A gente pode ir de noite. - Mauro respondeu.

- Então eu também gostei. - Christian disse.

- E você, Isa? - Mauro questionou.

- Eu tô cansada depois de ontem, vou só estragar o rolê de vocês. - Disse mexendo o garfo no prato.

- Todos estamos. - Carol disse.

- Vai ser bom. - Christian tentou me convencer.

- Até o Chris quer que você vá. - Mauro disse. - Vai ser nosso último dia, vai ser divertido.

- Tudo bem então. - Disse e olhei os rostos a minha volta, pareciam satisfeitos, só o Lucas continuava com q expressão petrificada.

Fomos a alguns parques, caminhamos bastante. Eles até pediram pra eu tirar algumas fotos. Pareciam estar se divertindo bastante, já eu, toda vez que começava a me divertir lembrava que seria o último dia e sentia novamente uma tristeza tão grande que era como se um manto me cobrisse.

Voltamos pra casa e fomos cada um se arrumar, não tinha certeza se realmente queria ir, acabei dizendo que sim só pra me livrar do peso deles insistindo. Me joguei na cama e fiquei pensando se realmente era bom eu ir.

- Posso entrar? - Ouvi a voz da Carol abrindo a porta.

- Já entrou né.

- O que tá pensando?

- Qual roupa eu vou. - Menti.

- Você não fica constrangida de mentir assim? Se você realmente estivesse preocupada com isso estaria revirando seu guarda roupas. O que foi?

- Eu to triste. - Disse e ela me olhou. - Não é só por ele ir embora. Eu tô me sentindo usada sabe.

- Ok, você tá falando de garotos comigo e isso não é muito comum. Pode me explicar como assim? Usada?

- Ele se aproveitou de mim e não teve a dignidade de me contar que ia embora. - Sentei na cama.

- Vocês dois aproveitaram um do outro. Acho que até mais você se aproveitou dele. - Ela disse me fazendo rir. - Você não acha que ele apenas ficou nervoso?

- Foi o que ele disse, mas Carol ele sequer me olhou hoje. Não falou mais comigo. Me ignora como se eu fosse ninguém.

- Sabe o que você faz? Se veste bem linda, passa bastante perfume e vamos sair hoje. Você chega nele e conversa porque eu tenho certeza que você tá reclamando, mas não falou com ele também, e vê o que vai rolar.

- Não vai rolar mais nada Carol. Ele já deixou claro que não abre mão da vida dele pra ficar aqui comigo, assim como eu também não abro mão da minha por ele.

- Mas pelo menos vocês não vão estar nesse clima ruim quando ele for embora. É melhor ele ir embora e deixar lembranças boa que vão durar pra sempre do que brigas.

- Tudo bem. Eu vou então, mas não garanto que eu não vá querer ir embora na segunda música. - Falei.

- Tudo bem, o importante é que você vai.

Opostos - T3ddyOnde histórias criam vida. Descubra agora