Paradise

Capítulo 9

Seokjin entrou na sala de interrogatório sem muita paciência. Tinha dormido pouco por ter que ficar vigiando os humanos e agora ainda tinha que fazer um trabalho que sempre odiava. Quando entrara no exército, pensou ingenuamente que enfrentaria inimigos e seria respeitado por todos, não que estivesse errado nesse aspecto, mas ainda assim tinha que interrogar um dos seus e sempre achava algo ruim da profissão.

— Diga o seu nome e seu status para as atas do processo.

— Changkyun. Soldado da primeira infantaria.

O comandante se sentou na cadeira de frente ao outro, batendo de leve na mesa de pedra com ornamentos de safira.

— Agora, conte porque você atacou três prisioneiros desarmados sem autorização superior?

— Porque eles apresentam risco para nossa sociedade. É perigoso deixá-los partir. Jungkook voltou, mesmo sem memória aparente, ele retornou e se eles retornarem com reforços? Ficou claro que a porção mágica não funciona realmente.

Changkyun era um soldado sério e respeitado e prezava pela segurança da ilha. Seokjin sabia daquilo, mas por vezes a sereia também era irresponsável e cabeça quente.

— Ela funciona, ele não se lembra. Mas isso não vem ao caso — afirmou Seokjin, dando umas batidas na pedra. — O caso é que você desacatou ordens superiores e isso é grave. Além do abandono de posto, pois você não deveria estar como vigia da gruta e sim da feira naquele dia.

Changkyun negou com a cabeça.

— Você não pode acreditar que aquela gente não é perigosa para o nosso povo. Vamos, Jin... enxergue para além das ordens do Tritão.

— Você quer adicionar traição a sua pena? Changkyun... eles estão desarmados e não foram julgados. O que você fez vai além, não entende? — Seokjin proferiu, sério. Não podia deixar de ao menos tentar fazer seu soldado compreender seu erro. — Não somos bárbaros. Não matamos sem provas, nem sem julgamentos.

— Eles nos matam sem provas e julgamentos! Somos só animais de circo para eles, aberrações que choram pérolas e lhes dão dinheiro! Nenhum deles teria consideração pela a gente na situação ao contrária.

— Você não tem como saber.

— Eu sei! E você sabe, Jin! O que o Tritão fez somente levará a nossa extinção.

— O que o Tritão fez foi tratá-los com dignidade! O pecado dos outros não isenta os nossos! — Seokjin afirmou. — Não estou dizendo que devemos confiar neles, mas devemos tratá-los com respeito. Somos melhores, devemos ser melhores.

Changkyun riu cinicamente.

— Okay, acredite nesse seu conto de dormir.

— Eu não o quero perto dos humanos. Sua punição será trabalhar os próximos cinco dias de descanso fazendo a ronda dos limites do reino. E se tal coisa voltar a se repetir, você irá para o tribunal do reino e você sabe como esse será bem pior do que a punição que estou lhe dando. Dispensado.

O soldado se levantou com raiva, batendo a porta da sala com força. Seokjin suspirou, vendo o pedacinho de pedra voando na sua direção. Poderia punir o outro por aquilo, mas somente desistiu e se levantou para sair do local. Alguém perceberia o talho e mandaria consertar, agora somente queria curtir o seu dia de folga.

— Senhor Seokjin, o Tritão pediu para você olhar os humanos hoje também. — A voz da secretária retirou Seokjin dos seus pensamentos.

— Ah... Porcaria... — Seokjin suspirou pesado, apenas balançando a cabeça em concordância. — Obrigado. Tenha um bom dia de descanso.