Capítulo 97

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Demorou um tempo para as coisas começarem a funcionar da forma como eram antes. Quando Hoseok saiu do hospital e voltou às suas atividades com Tritão, ele ouviu reclamações, problemas e até medo de outras sereias, logo surgindo com soluções diversas, algumas aprovadas por votação e outras que não foram para frente. Mas, no final do dia, perceber que seu povo estava outra vez feliz, era o que lhe dava forças de acordar no outro dia e continuar a fazer o seu trabalho com prazer.

No quarto dia, eles fizeram um grande funeral. Sereias não enterravam seus mortos, elas faziam uma pira de fogo e depois jogavam as cinzas no mar, na parte mais afastada da ilha. E, foi isso o que fizeram. Mas, para a surpresa de Hoseok, foi pedido que os humanos passassem pelo mesmo processo, somente em uma outra pira e em um outro local da ilha. O Tritão então percebeu que seu povo tinha mudado, mesmo depois de tudo o que tinham sofrido. O coração da sereia se apertou ao perceber que a bondade sempre estivera ali e agora confiavam por completo nele para proporem tal coisa.

Após seu discurso, Hoseok não pensou que choraria, mas acabou fazendo isso quando falaram o nome do seu pai, depois chorou pela senhora Haneul e por Changkyun. Haviam sido sereias importantes para ele, muito importantes, e pela ganância e egoísmo de poucos, eles não estavam mais ali ao seu lado.

Quando chegou no nome de Youngsun, Hoseok não soube exatamente o que deveria fazer, mas ele sentiu amargura. Sua tia poderia ter sido uma heroína, lutando ao lado dele ou fazendo qualquer outra coisa, menos o que ela fez. Ela lutou contra tudo e quase destruiu o próprio povo dessa maneira. Porém, as sereias ainda foram boas o suficiente em deixarem a alma dela descansar através do fogo, mas a tirana ficou junto dos humanos, igual aos arqueiros traidores; nenhum deles mereceu o mesmo lugar dos inocentes.

A cerimônia chegou ao fim já com o sol alto no céu, mas o clima de luto permanecia ainda em todos, então as conversas estavam baixas e não haviam sorrisos. Haviam perdido muitos, agora teriam que lidar com as tristezas e seguirem em frente.

Mas, o trabalho de Hoseok daquela semana não terminou no final da cerimônia, por isso quando chegou no castelo com Taehyung ao seu lado e viu que Mark o esperava para uma reunião, soube que teria algo a mais cuidar.

— Boa tarde, Tritão — Mark cumprimentou, fazendo uma reverência.

— Não precisa disso — afirmou Hoseok, apontando para a cadeira na frente da sua mesa. Taehyung, já acostumado como era, sentou na parte de cima da mesa, cruzando as pernas e anotando em seu caderno como se não estivesse no meio de uma conversa. Mark acabou achando graça e Hoseok somente sacudiu a cabeça em negação. — Então, Mark, você quer voltar para casa?

O humano pareceu perder um pouco da confiança que tinha antes no corpo. Ele tinha preparado um discurso, mas a fala de Hoseok lhe tirara aquilo do pensamento. Mark acabou por apertar os dedos um nos outros, procurando novas palavras para o momento.

— Mark? — Hoseok chamou o humano outra vez. — Está pronto para voltar?

O veterinário sacudiu a cabeça negativamente.

— Não? Não o que, Mark?

O ruivo sentiu como se todo o seu corpo diminuísse naquele momento ao tamanho de uma semente sem importância, chutada e amassada por um desavisado qualquer.

— E-eu... n-não quero ir.

Falar aquelas palavras foram mais difíceis que Mark imaginou. Ele tinha pensado tanto sobre o assunto, mas ainda tinha dúvidas se seria aceito por ali; uns dias estava tudo bem, uma vida toda? Não tinha certeza.

— Você se mostrou digno da nossa confiança e alguém valioso em nosso hospital. Como você pode ver temos apenas um especialista e poucos aprendizes. Será muito bem-vindo se decidir ficar entre nós.

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