Capítulo 10

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Jungkook acreditava que era terça-feira, mas tinha parado de contar mesmo estando a pouco tempo ali. De certa forma era ruim perder esse controle, mas não se importava realmente com toda aquela situação. Assim, após sair do banheiro e guardar a escova de dentes que Seokjin tinha lhes dado — tentava não pensar em como aquele povo era realmente parecido com humanos, a diferença é que usavam os produtos bem naturais como era o caso daquela escola feita de bambu com palha —, ele estava pronto para ajudar a reconstrução do barco, mas para a sua surpresa deu de cara com várias crianças, de diversas idades.

— Segurem um na mão do outro e não corram!

Jeon ouviu a voz de alguém e resolveu seguir por curiosidade, mas não precisou andar muito, logo vendo a sereia de cabelo pink, mas ele estava distraído com as crianças e não o reparara de imediato.

— Crianças, nós vamos conhecer a colheita hoje, mas vocês não podem correr, entendido?

— Quem correr fica sem lanche! — Outra voz falou, essa feminina. Jungkook não viu quem era, mas não se importou realmente. — E terá que recitar todo o livro de leis.

Um coro de reclamações infantis chegou aos ouvidos de Jungkook, que não pode deixar de sorrir.

— Senhor Jimin, por que aquela sereia tem panos no corpo?

O moreno engoliu a seco. Tinha sido descoberto.

— Não é sereia, tartaruga boba! É a sereia que foi exilada e voltou com os humanos... — uma das crianças respondeu.

— Jun, peça desculpas. Não é assim que se fala com um amigo. — A sereia de cabelos rosados proferiu em tom sério. A criança logo fez o solicitado. — Vocês por favor acompanhem a professora Jeongyeon. E lembrem-se de se comportar.

As crianças entoaram o coro de "Sim, professor Jimin" e então ainda em fila seguiram a outra sereia para onde deveria ser o local de colheita, deixando Jungkook, ainda semi-escondido e Jimin a sós.

Hm... M-me desculpa. E-eu ouvi o s-som e fiquei curioso, desculpa. Ainda não tinha visto c-crianças por aqui, elas são adoráveis.

Jimin cruzou os braços, fitando o outro de pés a cabeça e percebendo dolorosamente como se recordava de cada gesto e sorriso de Jungkook, mas a falta das escamas ainda era estranha; era o mesmo rapaz que crescera junto, porém não com a mesma essência.

— Eu não te quero perto das crianças. Elas são inocentes e suscetíveis a maldades.

Jungkook se sentiu ofendido e triste com as palavras. Ele não era malvado. Nunca pensaria em ferir alguma criança. Sem pensar muito ele deu dois passos para trás.

— Eu não quero machucar ninguém, muito menos crianças. Não é justo você nem ao menos me conhece para dizer essas coisas.

— Aí que você se engana: eu te conheço.

Novamente, Jungkook se sentiu ofendido.

— Você pode ter conhecido outra versão minha, mas eu não sou aquela pessoa, pelo menos não mais. Então, você não tem o direito de falar que eu irei machucar criancinhas, quando eu nunca faria isso e para ser sincero, não imagino que minha versão anterior pudesse fazer algo do tipo.

Jungkook estava correto em afirmar que ele nunca machucaria uma criança antes. Sempre fora uma sereia boa e justa. Alguém de quem Jimin sentia muito orgulho e carinho; por isso se sentia tão amargurado por vê-lo ser exilado e nem ao menos saber os motivos que o levaram a fazer o que tinha feito quando eram tão amigos antes, tão próximos.

— Você não tem como afirmar isso. Não se lembra de nada. Lembre-se que você foi exilado. Ninguém é expulso de um lugar sem ter cometido algo grave.

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