Capítulo 76

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Notas do Autor
Aviso de gatilho: pensamentos depressivos e suicidas


Yoongi praticamente não saiu de casa por um mês. Ele dormia e acordava no sofá, por vezes passando os canais sem nenhuma vontade, mal prestando atenção no que ocorria naquela infinidade de programas. Seu corpo simplesmente não reagia e nem se recordava a última vez que sentira fome ou que comera algo que não fosse algum biscoito.

Ele recebera uma visita naquele tempo. Um antigo colega pescador que tinha conversado na manhã após voltar para Jeju. Ele aparecera por ali querendo saber se Yoongi tinha desistido de pescar após não o ver pelas manhãs. O homem ficar assustado com o estado de Min e até o empurrara para um banho e prepara um ramen, porém Yoongi não quis comer. O pescador insistira por uns dias até que por fim desistiu, deixando para trás uma simples frase:

— Você deveria procurar um médico.

Min lembrava de ter rido e se revirado no sofá. Ele sabia bem daquilo, mas a verdade é que não queria. Permanecer no sofá era melhor que enfrentar a realidade em que não era nada, pois era aquela a verdade no final das contas. Namjoon tinha razão, não servia para nada e nem seria digno de ter alguém ao seu lado; seu destino era morrer solitário, provavelmente naquela casa.

Yoongi repassava as palavras de Namjoon na sua mente quando sentiu uma bicada na sua bochecha. Ele abriu os olhos e viu Pena o encarando.

— Sai.

Mas, o passarinho não saiu. Yoongi suspirou fundo e após tentar mandar o animal embora outra vez, desistiu e se levantou. Pegaria as sementes, jogaria em alguma vasilha e voltaria a se deitar, seria o melhor.

Porém, assim foi até o armário, viu que o saco de sementes estava vazio. Ele grunhiu e procurou alguma fruta, mas também nada tinha.

— Inferno!

Pena piou.

— Já entendi, porra.

Yoongi esfregou o rosto com força, pegou o saco vazio nas mãos e caçou a carteira que estava jogada. Ele olhou para o passarinho, com um ar ainda irritado.

— Fique aí que eu já volto.

Mas, para o contrariar, a ave voou até pousar delicadamente em seu ombro, bicando sua orelha devagar e piando baixinho.

— Você é muito esquisito, sabia?

Outro piado.

— Tem vezes eu penso que você me entende.

Por fim, Min somente fechou a porta e seguiu em direção ao mercadinho. Mas, assim que deu uns passos, sentiu-se cansado e acabou se apoiando em uma parede. Demorou uns segundos para ele perceber que a respiração pesada não era cansaço e sim ansiedade. Estava tendo um ataque de pânico por pisar do lado de fora.

— É o senhor que faz viagens de barco?

Min piscou surpreso, fitando o homem de cabelo loiro e sorriso simpático. Ele não soube o que responder.

— Me recomendaram o senhor.

— E-eu não estou... no momento... — Yoongi conseguiu responder com dificuldade, céus, conseguia sentir seu corpo começar a tremer. Iria causar uma cena no meio da rua, ótimo. — D-desculpa...

— O senhor está bem? — o homem perguntou, colocando a mão no ombro de Yoongi e como resposta levando uma bicada nos dedos. — Ei! Que pássaro protetor?

— É... — Yoongi sorriu fracamente, as lágrimas já preenchendo os olhos. — Tenho... que comprar alpiste.

— Eu posso ajudar. — O homem proferiu com calma. — Hey, lindinha. Eu sou amigo, okay? Não vou machucá-lo.

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