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JÉSSICA NARRANDO:

Eu fiquei o dia inteiro na cama, não cogitei sair um instante sequer. Os dias tem sindo longos, exaustivos, a dor tem tomado conta do meu corpo. Eu busco refúgio no sono profundo de quase morte. Sinto que poderia dormir por anos e voltaria ao mesmo caos.

Contratei uma babá para cuidar das crianças nesse tempo difícil. Me sinto uma péssima mãe? Me sinto. Mas o que eu posso fazer se não tenho vontade de levantar da cama? Eu só quero chorar e dormir para ver se o tempo passa e a dor diminua.

Pra mim, a morte da dona Ana foi muito além... Eu comecei a me questionar várias coisas. Sempre será assim? Nunca poderemos viver em paz? Algo sempre vai aparecer para atrapalhar nossa felicidade? Não merecemos ser felizes?

Eu queria que o Matheus saísse dessa vida para ver se enfim conseguíssemos ser felizes. Mas eu sei que dessa ele só saíra morto ou preso. Ele já me disse isso milhões de vezes. Mas eu não consigo aceitar essa vida, não mais.

— Amor, vamos comer. — Matheus entra no quarto.

— Não tô com fome — digo me virando para o lado e limpando as lágrimas.

— Você precisa reagir, mulher. — diz se sentando na cama e acariciando minhas pernas — Já fazem 2 meses... As crianças querem a mãe deles de volta. Eu quero minha mulher de volta.

— Não consigo — sussurro.

— Você acha que eu tô como? Eu tô destruído, mulher. Era minha mãe. Mas pô, eu preciso seguir em frente. Temos 3 filhos pra cuidar. Tenho um morro pra cuidar.

— Sempre o morro — resmungo.

— Jéssica, você está assim apenas pela morte da dona Ana ou tem mais alguma coisa? — ele pergunta desconfiado.

— É tudo... — funguei — Eu não quero mais essa vida pra mim, para você, para nossos filhos. Essa guerra toda. Eu não quero mais perder ninguém.

Escuto Matheus suspirar fundo e ele em um movimento rápido me puxa fazendo com que eu me sente na cama. Ele segura em meu rosto fazendo com que eu lhe olhe nos olhos.

— Amor, tu me pede qualquer coisa, mas, por favor, não me peça para largar o morro. O morro é minha vida cara.

— Eu pensei, pensei muito e eu me decidi. Não quero mais isso pra mim. — digo.

— Você vai acabar com tudo assim? Porra. Pensasse antes de ter três filhos comigo. E agora tu vai fazer o quê? Porque eles nunca deixaram de ser meus filhos.

— Você podia sair disso amor... por nós. — peço.

— Jéssica, eu saindo daqui, dou nem uma hora para estar preso. E se eu for preso nunca mais saio de lá não. Não com vida.

— Eu não vou aguentar se perder mais alguém... — choro.

— Eu tô contigo independente do caô — lhe abraço — Eu te amo, nega.

— Eu também te amo.

— Agora vai tomar um banho que tu tá fedendo cara — diz se levantando — Quer ajuda no banho?

Depois que te conheciOnde histórias criam vida. Descubra agora