Depois que te conheci

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• Matheus Narrando •

Depois de dar um fim na Patrícia, subo pro meu barraco tomar uma ducha.

Só tenho dó do Murilo que agora está sem pai e sem mãe, mas eu vou atrás dele. Eu gosto pra caralho desse moleque e quero criar ele como se fosse meu filho de sangue mesmo.

Lembro do último olhar da Patrícia antes da mesma morrer queimada.

Ela não poderia ter tido outro fim, ela procurou tudo isso.

Escutar ela gritar, implorar, enquanto o fogo corroía cada parte do seu corpo não me causou arrependimento, nem nada do tipo. Pelo contrário, eu fico me perguntando:

"Por que eu não fiz isso antes?"

Agora me sinto mais leve, tirei um peso de cima de mim. Eu sabia que enquanto eu não lhe matava, eu não iria ficar em paz comigo mesmo. Mas agora sim, tudo está perfeito.

Não pensem que sou ruim, eu não sou.

Sou bom até demais, às vezes. Só não tenta testar minha paciência e não mecha com a minha família.

A vadia me traiu, mentiu, inventou várias paradas e ainda foi X9. Uma das paradas imperdoável aqui é ser X9, aqui X9 não tem vez.

Depois que termino de tomar meu banho, enrolo a toalha na cintura e vou bolar um back.

Fico observando o morro pela janela do meu quarto enquanto dou a primeira tragada no meu baseado.

Observo algumas crianças jogando bola na rua, sinto saudades da minha infância, aonde minha única preocupação era ir pra escola, chegar em casa e sair na rua pra brincar. Agora hoje, o que mais tenho são coisas pra me preocupar. Não consigo um dia se quer dormir tranquilo, em paz.

Escuto meu radinho tocar e vou em direção à cama pegar o mesmo que estava jogado ali. Vejo no visor que é o Arthur.

Ligação on:

— Fala aí. — digo ao atender.

— E aí, irmão. Tudo bom contigo? — Arthur pergunta.

— O que você quer, Arthur? — pergunto sem paciência.

— Tá de mal humor? — pergunta.

— Não tô afim de papo hoje. — sou sincero.

— Qual foi? — ele pergunta.

— Sem ser que acabei de matar a Patrícia... Tô de boa. — digo apenas.

— Vai me dizer que bateu o arrependimento? — ele pergunta e eu sinto um tom de ironia em sua voz.

— Lógico que não. Só fico pensando por que não fiz isso antes...

— Mas fez agora, isso que importa. Antes tarde do que nunca.

— Me escuta... Você me ligou pra quê mesmo? Pra encher meu saco? — pergunto.

— Nossa, como você é grosso. — ele diz afinando a voz. É um viado mesmo.