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• Jéssica Narrando •

Estou me sentindo péssima. Uma super egoísta do caralho.

Matheus está passando por um momento tão delicado, acabou de perder um amigo. E eu só consigo ficar com raiva dessa vaca ruiva toda hora lhe abraçando. Afinal, não sei pra quê abraçar tanto assim...

Sei que ela também está passando por um momento difícil, mas poxa, eles já ficaram... Pelo que sei, ela foi a primeira na vida do Matheus... Ele a amava... E se ele ainda sentir algo por ela?

Caralho, ela é linda pra porra.

Quando foi que eu fiquei tão insegura e ciumenta assim?

Desde que chegamos, Matheus não saiu ao lado do seu amigo. Era nítido o quanto ele estava sofrendo e também é nítido o quanto ele está com remorso, por todo o afastamento de anos. Acho que nunca vi o Matheus tão vulnerável assim.

— Poxa, ele era tão bonito né? Tão novo... — Larissa diz baixo ao meu lado.

— Estou com medo... — confesso.

— Do quê? — pergunta.

— Você não percebe? Esse é o futuro dos nossos amores... A vida do crime... Ou é cadeia, ou morte. Não tem pra onde correr. E eu sei que o Matheus prefere morrer do que ser preso. — digo baixo apenas para a Lari ouvir.

— Amiga... Entramos nisso sabendo disso, não é? Não vai me dizer que isso nunca passou na sua cabeça? Eles vivem no fogo cruzado amiga. — ela diz.

— Não é isso, Lari... Agora envolve muito mais que isso. Temos filhos. Não quero que meus filhos cresçam no meio disso. Não quero que eles cresçam sem um pai. Só quero ser livre. Viver sem medo e ser feliz. — desabafo.

— Você sabe que ele nunca vai largar o tráfico né? — Larissa pergunta.

— Não sei... O Matheus mudou muito, amiga. Ele não é mais aquele irresponsável de quatro anos atrás. Quem sabe com uma boa conversa... — digo.

— A favela é a vida dele, amiga.

Antes que pudesse falar qualquer coisa, um homem de aparentemente uns 40 anos, barrigudo, se aproximou do caixão. Ele era o cara da funerária. Agora seria um dos momentos mais difícil. Ele conversa rapidamente com a mãe do tal Léo que começa a gritar e a chorar sobre o caixão do filho. Vejo o Matheus se aproximar de mim, ele estava a ponto de desmontar.

Assim que nossos olhos se cruzaram, Matheus me envolveu em seus braços e chorou. Chorou como se não houvesse o amanhã. Ele soluçava. Nunca vi o Matheus chorar tanto assim.

— Meu amor — sussurro enquanto acaricio suas costas — Você precisa ser forte, vida. — digo com a voz falha.

É muito difícil vê-lo assim, tão vulnerável... Tão triste... Tão destruído...

Enquanto estávamos abraçados podíamos ouvir os gritos e choros da tal Maju. Nesse momento, fiquei com um aperto no peito. Ela deve estar igualmente destruída e eu aqui, a louca, com ciúmes idiota.

Matheus se afastou e se virou em direção aonde o caixão já estava fechado e pronto pra ser levado. Arthur estava abraçado com a Maju lhe confortando, tentando lhe acalmar. Ela estava tremendo tanto de longe dava pra ver, fiquei até com medo dela morrer ali.

Depois que te conheciOnde histórias criam vida. Descubra agora