• Matheus Narrando •
Cheguei no morro primeiro que todo mundo, mas pelo retrovisor do meu carro, pude ver o carro da Jéssica e do Arthur logo atrás de mim.
Confesso, que fiquei chateado da Jéssica não querer ter vindo comigo no mesmo carro. Eu sabia que ela estava me evitando e isso me deixava irritado.
Abaixei o vidro do meu carro, para que os vapores pudessem me ver e buzinei pra eles cumprimentando-os.
Subi diretamente para a casa da Mariana, ela teria que me dizer hoje, o que diabos estava acontecendo com ela e eu só a deixaria em paz depois que me desse uma boa desculpa.
Estacionei meu carro em frente a casa da Mariana, e sem demorar muito Jéssica e Arthur estacionaram seus carros atrás do meu.
— Acho que quero comer pastel de pizza com doce de leite. — Larissa diz acariciando sua barriga.
Olhamos incrédulo pra ela, cada dia era um desejo diferente e cada dia era um mais maluco do que o outro. Coitado do meu amigo.
— Isso é nojento, amor... — Arthur diz fazendo uma careta.
— E eu te perguntei alguma coisa? — ela vira rapidamente em sua direção com um semblante de raiva — Não te perguntei nada, Arthur. Eu só quero o caralho do pastel. — Larissa diz nervosa.
— Tudo bem, Larissa. Vou atrás pra ti... — Arthur suspira entrando no carro novamente e saindo dali cantando pneu.
Não tenho muita intimidade com a Larissa, mas minha vontade era de dizer algumas verdades bem ditas pra ela.
Não era só porque estava grávida que poderia ficar tratando o Arthur tão mal assim, ela só estava desprezando meu amigo e eu percebia que ele estava cansado e bem triste com isso.
— Coitado do cara, mano... — digo.
— Coitado por que? Só porquê, eu estou com vontade de comer pastel de pizza com doce de leite? — ela pergunta.
— Não, Larissa. Coitado porque desde quando você descobriu sua gravidez, você só sabe pisar, humilhar o cara mano. — Jéssica diz se intrometendo e eu agradeci mentalmente por ela dizer exatamente o eu queria, mais eu não iria ser tão sútil assim com as palavras. Quem me conhece sabe, eu sou grosso mesmo, ignorante e não sou bom com as palavras.
— Eu estou tratando ele normal, como sempre tratei. Vocês viajam as vezes em... — Larissa diz revirando os olhos.
— Quem tá viajando é tu, guria. Mas em uma dessas viagens pode não ter mais volta, tá ligada? Eu conheço o Arthur desde quando me conheço por gente, vivemos coisas pra caralho juntos e posso te garantir que nunca vi meu amigo tão apaixonado e tão otário também. Mas posso lhe dizer, ele corre atrás, batalha pela relação de vocês dois, mas quando ele cansar de ser humilhado por ti, ele não vai mais querer saber de porra nenhuma. Não vai ter choro, nem filho, que vai fazer ele voltar atrás. Então pensa nessas merdas das suas atitudes, caralho. Ou você dá valor no cara, ou vai perder mano. — digo irritado por ela ser tão mimada.
Ficamos longos minutos em silêncio, nos encarando. Até Alice e Alex estavam quietos prestando atenção nas conversa.
— Fosse bom, se você seguisse seus próprios conselhos né, Matheus? — Jéssica diz passando por mim e entrando dentro da casa da Mariana junto com as crianças.
Essa mulher é maluca, porra! Não perder a oportunidade de me jogar indireta, mas essa indireta foi bem direta e acertou em cheio meu peito.
Não sou bom de dar conselhos, nem nada do tipo, mas não vou deixar a guria maltratar, humilhar meu amigo e ficar calado. Eu falei o que achei que deveria ter dito, tá ligado? Mas, eu falo, penso, porém, pra mim mesmo eu nunca consigo seguir os conselhos, eu sempre faço a porra errada. Fazer o quê? Se sou todo errado mesmo.
Fui despertado dos meus pensamentos com um grito estridente da Jéssica. Sem pensar duas vezes, corri pra dentro da casa.
Segui o caminho das vozes e fui até o quarto da Mariana. As crianças estavam na porta do banheiro, sem se mexer, completamente em choque.
Me aproximei com o coração na mão, com medo do que poderia ver. E realmente, eu preferia morrer ao invés de ver aquela cena.
Jéssica estava ao lado do corpo da Mariana, que estava todo ensanguentado. Jéssica gritava, balançava o corpo da Mariana, puxava os próprios cabelos e dizia repetidas vezes: "Não. Não. Por que você fez isso, minha amiga?".
Fiquei completamente em choque, minhas pernas cravaram no chão e eu não conseguia me mexer.
Ouvi passos atrás de mim, mas não consegui ainda me mexer para ver quem era.
— Meu Deus! — Larissa gritou — Precisamos levar ela para um hospital. Minha nossa senhora, o que aconteceu aqui?
Fui despertado do meu transe com o choro das crianças.
— Larissa, leva as crianças pra fora. Por favor. — foi a única coisa que consegui dizer, mas permaneci parado no mesmo lugar, olhando a Jéssica totalmente desesperada, ao lado do corpo da minha irmãzinha, minha melhor amiga.
Vi de relance Larissa tirar as crianças do banheiro e relutei contra mim mesmo para me mexer. Eu tinha que fazer alguma coisa.
— Matheus, por favor, me ajuda aqui. Vamos colocar ela na camada, rápido. — Jéssica diz com a voz falha por conta do choro.
Me aproximei das duas e vi a pior de todas as cenas. Mariana estava com os pulsos cortados. Ela tentou se matar. Mas, por quê?
Me abaixei ao lado da Jéssica e segurei na mão gelada da Mariana.
Eu estava tentando prender o choro, mas ao ver minha irmãzinha no chão daquela forma e ainda sabendo que ela tentou se matar, acabou comigo e ali segurando em sua mão gelada, chorei, chorei feito uma criancinha.
Tinha várias perguntas em minha cabeça. Por que ela tento se matar? Não estava feliz? O que estava acontecendo com minha irmãzinha?
— Por que? Por que você fez isso? — pergunto em choque.
Senti uma mão em meu ombro, nem olhei, pois conhecia perfeitamente aquele toque. Era a Jéssica.
— Math... — Jéssica soluçou — Vamos colocar ela na cama.
— Ela... Ela morreu? — perguntei com um aperto no peito.
— Não... Mas, ela está fraca, muito fraca. Vamos colocar ela na cama e ligar para o hospital, não tem maleta de primeiros socorros aqui e eu não posso fazer nada. — Jéssica chora ainda mais.
Sem pensar em nada, deixando tudo de ruim que passamos pra trás a abracei apertado. E ali, nos dois choramos, choramos por alguns minutos até que a Jéssica se levantou limpando ás lagrmas.
— Vamos pegar ela, devagar tá? — Jéssica diz.
Apenas assenti e com todo cuidado do mundo peguei Mariana em meus braços a levando até sua cama.
"Existem coisas que nós não queremos que aconteçam, mas temos que aceitar; coisas que nós não queremos saber, mas temos que aprender; e pessoas que não sabemos viver sem, mas temos que deixá-las ir."

VOCÊ ESTÁ LENDO
Depois que te conheci
RomantizmEla: Uma nova pessoa, mãe, guerreira, batalhadora. Ele: Um homem frio e ainda mais fechado para todos. Jéssica e Matheus viveram uma pequena e marcante história de amor e ódio! Do fruto do amor dos dois, nasceram Alice e Alex. Por conta de traições...