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• Jéssica Narrando •

Estou acabada, destruída tanto fisicamente quanto psicologicamente. Venho dizendo a todos que estou bem, mas não estou. Minhas feridas só aumentam cada vez mais, já não sei o que fazer. O meu mundo desabou e eu não consigo mais reconstrui-lo, eu me sinto fraca e sem saída 24 horas e mesmo assim tenho que sorrir para convencer as pessoas de que estou bem para não deixá-las preocupadas comigo. Estou cada vez mais cansada de ter que fingir, de ter que sorrir quando eu mais quero chorar, cada vez que lanço um sorriso falso no rosto é como se cravassem uma faca em meu peito, não aguento mais esse vazio aqui dentro que me sufoca a cada segundo. Nos meus banhos eu só escuto o barulho da água caindo no chão e os soluços do meu choro, é como se eu tivesse sozinha e ninguém estivesse comigo para me socorrer. Quando é que isso tudo vai acabar? Será que o fim está perto? Eu já ultrapassei o meu limite a muito tempo, eu não tenho mais forças para continuar e isso é muito assustador.

Hoje faz uma semana de tudo que aconteceu, no começo, eu me cobrava muito, me culpava por não ter ajudado o Cadu, apesar dele ser irmão do César que me fez tão mal, tínhamos uma história juntos e tudo não poderia acabar daquela forma. Mas, no quarto dia eu descobri da pior forma, que ele, me fez tão mal quanto seu irmão. Quando eu fui sequestrada, abusada, perdi meu filho, sofri diversas agressões, ele estava lá... Ajudando em tudo aquilo. Se eu soubesse antes disso tudo, com certeza, eu mesmo teria o matado! Ele ajudou a acabar com a minha vida. E mesmo agora morto, continua infernizando minha vida. Eu não me conformo em como fui burra, idiota, trouxa. Coloquei um inimigo dentro da minha casa, com os meus filhos...

Assim que saímos do galpão naquele dia, Arthur mandou um vapor tacar fogo em tudo, com todos juntos. Diego, César e Cadu.

Patricia, ainda está viva. Mas não sei por quanto tempo, os vapores pegaram ela e levaram para uma casa aqui no morro, aonde ela é torturada todos os dias, eu não deixei que abusassem dela, essa dor não desejo para ninguém. Porém, eu mesma me encarreguei de ajudar na morte dessa vadia. Com certeza, uma hora dessas deve estar gemendo de dor ou até mesmo morta.

Matheus ainda está internado, fora de perigo. Tô puta com ele, esse tempo todo ele sabia quem era o Cadu e não me falou!

Sinto alguém puxando a coberta do meu corpo, puxo novamente cobrindo meu rosto todo.

— Não me faça jogar um balde de água fria em você, vadia. — Mariana diz puxando a coberta novamente.

— Me deixa! Quero dormir... — resmungo.

— Para de ser falsa, porque eu sei que você não estava dormindo porra nenhuma. — ela diz sem paciência.

Essa semana Mariana tem passado aqui em casa, me dando uma força em tudo.

— O que você quer? — pergunto lhe encarando.

— Tava chorando de novo? — cruza os braços.

— Não. — minto.

— Ata, tava suando pelos olhos então né?

Ri com seu comentário, só ela mesmo pra me fazer rir.

— Amiga, você precisa se erguer mano. Sei que é difícil, por tudo que aconteceu, pelas descobertas, mas você não pode se entregar assim dessa maneira. Você tem dois filhos pra criar ainda, mulher. Anda. Reage.

— Eu sei — digo apenas.

— Sabe e fica se fazendo? Levanta logo que tem alguém lá embaixo querendo falar com você. — me avisa.

— Não quero falar com ninguém!

Mariana saiu sem dizer nada, agradeci e voltei novamente a me cobrir.

Alguns minutos depois escuto a porta sendo aberta.

— Mariana, eu já disse que não quero falar com ninguém — digo brava me sentando na cama vendo que não era a Mariana que estava ali — Você? O que você quer?

— Não tá feliz em me ver? — Matheus pergunta abrindo os braços.

Claro né.

— Não. O que você quer?

— Como você tá? — ele pergunta se sentando — Nem foi me ver...

— Por que você não me disse a verdade? — pergunto direta.

— Você estava tão feliz, não queria estragar sua felicidade, como eu sempre faço.

— Você tinha que ter me falado... Ele me estuprou mano! Eu estava morando com o inimigo, dormindo com o inimigo. Com um dos caras que acabou com a minha vida. — digo deixando as lágrimas caírem.

— Me desculpa — diz calmo segurando em minhas mãos — Agora ele tá morto, com certeza, queimando no inferno ao lado do César pagando por todos os mal que ele te fez.

Me afastei rapidamente do Matheus, me levantando da cama. Não posso dar abertura para ele, ele também já me machucou muito, e agora eu quero distâncias das pessoas que me fizeram e me faz mal.

— Fiquei sabendo do que você fez com a Patrícia... — puxa assunto — Não sabia que tu tinha tanto sangue frio assim.

— Ainda não fiz tudo que pretendo fazer... Você não tem ideia de tudo que eu guardo dentro de mim. Aguentei muitas coisas, mas agora, eu vou me vingar dela. Vou jogar toda minha raiva na mesma, a única que restou.

— Tô indo lá pro morro, vamos?

Todo dia, eu vou no morro, todo dia eu descontava minha raiva na Patricia. Ela merece tudo que eu fiz, e ainda mais.

Por pouco ela não mata minha filha, por muito pouco... Quando estava quente a troca de tiros no galpão, Alice chorou assustada. Quando Arthur chegou para pegar as crianças e tirar elas daquele lugar, ele pegou a vadia enforcando minha filha que já estava quase desmaiada. Só Deus sabe o que poderia ter acontecido se Arthur não tivesse chegado a tempo...

— Vamos — digo me levantando — Vou tomar banho e já desço.

Matheus assentiu e saiu do quarto me deixando sozinha.

Sem pensar duas vezes, fui para o banheiro tomar uma ducha rapidamente.

"Tudo bem que talvez não seja certo todos os planos maquiavélicos que fiz, mas se eu não vingar a minha dor, ela vai continuar aqui, me matando dia após dia. Então, nao vamos chamar de vingança, digamos que eu estou apenas me LIBERTANDO."

Depois que te conheciOnde histórias criam vida. Descubra agora