66. Medo

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-PoV Lena-

Antes de tirarem o corpo do William do chão -coisa que levou um tempo bem considerável-. Fiquei sentada numa cadeira de costas pra ele.

Eu sempre acreditei na justiça, mas naquela história não havia nada de justo. O que seriam dos pais do William quando eles soubessem que perderam mais um filho por culpa dos Luthor's?

Minha cabeça doía tanto ao pensar naquilo, mas ao mesmo tempo percebi que também era porque eu ainda não havia parado de chorar.

Ódio, tristeza, nojo, decepção... ficava até difícil distinguir uma emoção da outra, então meu choro continuava sem nenhuma previsão de acabar e cada vez mais forte.

Muito provavelmente eu estava em estado de choque, mas não havia outra saída, eu precisava dar um jeito de voltar a realidade sozinha.

Com o tempo comecei a notar algumas gotas de sangue que respingaram na minha roupa e eu nunca senti tanto nojo de mim mesma. Na verdade, o nojo era o menor dos meus problemas, eu estava me odiando por estar naquela situação, me odiando por ser uma Luthor, mas principalmente, por ser tão ingênua em acreditar que o William sairia vivo dali. A verdade é que enquanto meu irmão continuar vivo, ninguém estará realmente a salvo.

Eu não sei ao certo se dormi ou se fiquei paralisada, mas por muito tempo tudo permaneceu quieto. Silêncio absoluto. O William finalmente foi levado e eu não sabia o que esperar do Lex ou da minha mãe. Mas, quando eu senti que meu corpo não conseguia mais produzir lágrimas naqueles próximos minutos, eu ouvi uma voz muito familiar dizer: "tire suas mãos de mim".

Brainy foi jogado na mesma sala que eu e automaticamente senti um terror inexplicável atravessar o meu corpo. Enfim, senti medo.

-Brainy?! Você tá bem? O que aconteceu? -perguntei indo até ele e o ajudei a se equilibrar novamente.

-Eu tava indo pra o apartamento da Kara, mas fui raptado por uns brutamontes assim que desci do meu carro.

-É isso que acontece quando você desobedece, Lena. -Lex falou parado na porta e minha expressão de nojo ficava cada vez mais difícil de ser controlada. -A gente não precisava ter o Brainy aqui, mas você pediu por isso. -ele continuou. -Espero que eu não precise trazer mais ninguém. A próxima bem que poderia ser a senhorita Nia Nal.

-Se você encostar um dedo na Nia, eu juro que te mato. -Brainy disse cuspindo aquelas palavras e apontava pra o Lex em ameaça.

Meu irmão riu como se aquilo jamais tivesse chances de acontecer e depois voltou a ficar sério.

-Andem na linha, é só isso que eu tenho a dizer.

Antes que a porta fosse fechada e a gente passasse mais várias horas ali presos sem saber de nada, eu fui direto ao assunto.

-O que vocês querem, Lex?! O que eu preciso fazer pra você soltar o Brainy?

Um sorriso presunçoso brotou dos lábios do meu irmão e ele voltou a abrir a porta dando pequenos passos em nossa direção.

-Então parece que agora você tá disposta a me obedecer. Quer conversar?

-Fala logo, Lex! -pedi impaciente.

-Muito simples, irmãzinha. Lembra da cura que você tava desenvolvendo pra mamãe com Harun-El? Nós precisamos dela.

-Nós? -perguntei em automático.

-Eu fui diagnosticado há alguns meses com câncer. No pâncreas. Mas já se espalhou por boa parte dos meus órgãos. Então eu não tenho muito tempo sobrando. Você é a única com potencial pra dar um jeito nisso.

-Quanto tempo você tem? -perguntei.

-Muito pouco, só mais alguns meses.

Não sei se consegui disfarçar o fato do meu irmão estar do outro lado da moeda precisando de tratamento, mas, apesar de não dever desejar essa doença pra ninguém, Lex estava numa posição que nem todo o dinheiro do mundo poderia ajudá-lo, mas eu poderia, e isso me fez cruelmente segurar um sorriso.

A primeira coisa que cogitei fazer foi deixá-lo sem nenhuma tentativa de cura, talvez injetar um placebo ou algo do tipo. Mas logo em seguida uma imagem horrível do William veio a minha mente e eu não poderia deixar que aquilo se repetisse com o Brainy.

Se Lex fez estrago em apenas um dia, imagina o que ele poderia fazer em meses? Eu não iria de forma alguma colocar em risco ainda mais a vida do Brainy, então o mais sensato era tentar ajudar o Lex e tirar o meu amigo dali.

-Então isso é tudo? A única coisa que você quer de mim é a cura? -perguntei.

-Você nos dá a cura e a gente some pra sempre desse país. Simples assim. -ele confirmou.

Eu sabia que nunca seria "simples assim". Mas primeiro eu tinha que salvar quem eu podia, e só depois resolver o resto.

-Okay, Lex. -concordei. -Então quando podemos começar?

-Vocês serão avisados. -ele respondeu parecendo confiante com a minha decisão, enquanto Brainy, me olhava com uma interrogação gigante em seu semblante.

Era óbvio que ele não queria fazer nada pra ajudar o Lex, mas quando ele soubesse o que tinha acontecido naquela sala horas atrás, com certeza iria entender o meu lado.

Nós dois ficamos sozinhos depois que meu irmão foi embora, mas não trocamos nenhuma palavra. A gente não sabia se estávamos sendo ouvidos, mas era muito provável que sim.

Brainy caminhou pela sala algumas vezes inquieto demais pra sentar e depois começou a observar tudo o que tinha ali dentro, inclusive, as manchas na minha roupa.

Eu já tinha perdido completamente a noção do tempo e não fazia ideia se era dia ou noite, mas eu estava absurdamente cansada.

Algumas horas depois fomos levados pra locais diferentes onde finalmente consegui consegui trocar minhas roupas e comer alguma coisa, mas no final, terminamos novamente naquela prisão de vidro do Lex onde ele deveria nos assistir o tempo inteiro igual ratos de laboratório. Mas eu e Brainy apenas nos olhávamos, nenhuma frase era dita.

Provavelmente eu devo ter cochilado sentada várias vezes, mas sempre que eu acordava, Brainy aparentava estar muito desperto. Ele não parava de olhar as paredes e todos os detalhes, mas eu sabia muito bem que só sairíamos dali vivos se o Lex ou a Lillian quisessem.

-Me desculpa por isso, Brainy. -me atrevi a falar o mais baixo possível depois de horas de silêncio e meu amigo até se assustou.

-A senhora não tem culpa. Lex tem. -ele respondeu secamente ao reproduzir o nome do meu irmão e depois também ousou em me fazer uma pergunta. -Por que as suas roupas estavam sujas de sangue?

-Lex me colocou aqui dentro com o homem que tava tentando me matar e terminou matando ele bem na minha frente.

-O William? Ele tá morto? -meu amigo arregalou os olhos com um certo terror, mas eu só conseguia focar na parte que ele sabia sobre o William.

-Você sabe sobre ele? Como? -perguntei.

-Todos estão sabendo, senhora. -Brainy confirmou e eu entendi que ele não queria passar muita informação e estava certo em fazer isso. Mas ainda assim, eu precisava ter certeza, então perguntei:

-Kara sabe?

Brainy fez um movimento leve com a cabeça sinalizando que sim e mais uma vez um mau pressentimento tomou conta de mim.

-E como ela tá?! - voltei a perguntar.

-Eu não cheguei a ter contato direto com a Kara, mas conhecendo o jeito dela, deve estar desesperada.

-Eu tenho medo do que pode acontecer, Brainy. Eu sei que minha família não merece, mas curar os dois é a forma mais segura de nos proteger e de protegê-las também.

-O que a senhora decidir, eu apoio. -Brainy concluiu e eu agradeci me esforçando pra esboçar um simples sorriso de canto. 

Chemical Hearts - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora