Almas perdidas. Parte 7. Capitulo 12.

2 1 0
                                    

Há muito tempo atrás, antes mesmo da antiga guerra dos 7 reinos, entre o território fera e o território demoníaco, uma quantidade absurda de Mana, de almas, se acumulava pouco a pouco em um só ponto.
Elas eram almas que não haviam encontrado seu caminho até o outro lado e, também, não haviam sido capturadas pelos caçadores vazios. Almas solitárias, que acabaram se juntando e se comprimindo, assim criando uma pequena esfera de anomalias. Algo que não deveria existir. Algo que quebrava as regras impostas por aquele mundo.
Esse esfera de almas solidificada é comprimidas caiu sobre o mundo em uma bela tarde qualquer, em meio a uma solitária e escuta floresta.
Sem sentimentos ou desejos, sequer consciência, a esfera continuou em meio a floresta. Fazia dia, fazia noite, fazia frio, fazia calor, fazia sol, fazia chuva,ela sempre continuava lá, apenas existindo, sendo apenas algo esquecido pelo tempo e desconhecido por tudo e todos.
Toda essa quietude durou quase uma eternidade, mas tudo mudou quando una jovem caiu sem vida ao lado desta esfera. Morta por um caçador que parecia se divertir ao caça-la e mata-la.
A jovem morta tinha longos cabelos castanhos encaracolados, pequenos chifres pretos, leve marcas vermelhas em baixo dos olhos que agora estavam sem vida. Ela vestia roupas nobres e sujas, tendo uma paleta principalmente azul e preta.
Agora tendo uma casca vazia logo ao seu lado, um corpo sem alma, a esfera inconscientemente passou a se apropriar lentamente do corpo, passando as almas solitárias que nela eram contidas para dentro do corpo sem alma daquela jovem.
Como o hospedeiro estava com feridas fatais, inúmeras almas foram necessárias para curar aquele ser. Inúmeras almas foram destruídas para fazer daquele corpo habitável novamente.
Com a ferida curada e uma alma principal tomando o corpo, depois de séculos sós, as almas finalmente tomaram consciência e vida novamente. Só que desta vez... Sem lembranças, sem personalidades, sem nada que as fizessem ser o que elas eram na vida passada. Nenhuma das almas lá lembrava de sua vida passada, sequer de seus desejos ou almejos. Elas apenas estavam habitando um corpo que nem mais vida deveria ter. Um corpo que havia sido destinado cruelmente a morte.
Sobre este pretexto, era de se imaginar que aquele corpo entraria em colapso, ou apenas ficaria em estado vegetativo, porém, apesar daquele corpo não ter mais sua alma originária, ainda assim o cérebro se mantinha intacto, portanto as memórias, lembranças,  desejos e sonhos se mantinham quase intactos. Apenas a alma havia mudado, o receptáculo para sempre manteria as mesmas convicções.
Desse jeito, de volta a vida, a garota se levantou, retomando sua consciência depois de anos lá deitada regenerando seu próprio corpo. Ela estava mais velha, masainda com uma aparência jovial e inocente.
De pé e extremamente confuso de como estava viva, recuperando vagarosamente suas memórias, a garota voltou para o último lugar que um dia chamara de lar. O lugar que ela guardava no fundo de seu coração,  apesar de nem lembrar o porquê de o valorizar tanto.
Após quase um dia andando de forma errônea até o último lugar em que se lembrava, a garota finalmente chegava ao seu destino e se deparava com uma vila completamente destruída por chamas de tempos passadas, só sobrando destroços e cinzas.
Sem qualquer expressão a garota andava pela pequena vila, sendo assolada por lembranças de sua vida lá. Lembranças felizes das crianças de lá, dos idosos e adultos trabalhadores e de sua própria família que era grande, tendo 5 irmãos, sua mãe e seu pai, todos vivendo uma vida simples e humilde.
Chegando até aonde um dua fora sua casa, a pequena garota começou a derramar sorrateiras lágrimas, enquanto sua feição se distorcida em tristeza e desespero.
O corpo da garota havia voltado; a consciência da garota havia voltado; as lembranças da garota haviam voltado, mas... Todos por quem ela já se importou ou havia nutrido qualquer tipo de sentimento, nunca mais voltariam, nunca mais ela os veria.
Em frente aos escombros de sua casa reduzida a cinzas e corpos decompostos de sua família, com a voz trêmula, ela sussurava:

— Eu estou só... Os guardas não vão me proteger quando eu tiver problemas na floresta... Meu irmão não vai mais brincar comigo... Minha mãe não vai mais fazer aquele mingau gostoso... Meu pai não vai mais desenhar comigo... Os garotos não vão mais me bajular... — Ela botava as suas mãos trêmulas no rosto. — Por que eu estou viva? Por que eu não morri? Eu não quero ficar sozinha... EU NÃO QUERO FICAR SOZINHA! EU NÃO QUERO FICAR SOZINHA!!!

Apesar dos berros, ninguém a escutou e ela ficou lá. Sozinha.

— Se for para ficar sozinha, qual é o sentido de estar viva...? — Ela se qyestionava pegando uma lasca afiada de madeira. — Eu me juntarei a vocês...

A pequena garotinha, inundada por sentimentos horríveis cravava a lasca de madeira no seu pescoço, se matando de uma maneira horrível e dolorosa.
"Se eu não tenho ninguém para me amar, do que adianteestar viva?" Era o último pensamento dele antes de ter sua mente apagada. A morte havia chegado e mais uma alma havia sido destruída. No entanto... No corpo da pequena garotinha existiam milhares de almas, assim não permitindo ela morrer.
Dias se passaram e a garota continuou lá, morrendo e revivendo, até seu corpo se curar da ferida. Porém, com a ferida estando em um lugar como aquele, seria impossível ela se curar sozinha, não importava quantas vezes ela revivesse.
Mas, depois de um tempo indeterminado, a mesma garota despertava sobre uma carroça que andava por um terreno barroso, fazendo a mesma tremer.

— Hm...? Como ainda estou viva? — Sussurava ela botando sua mão sobre o pescoço e vendo que o mesmo estava enfaixado. — Ah, eu fui salva novamente...

Ela não parecia nada animada com aquilo, na verdade se sentia amaldiçoada por continuar viva. Amaldiçoada por ser quase imortal. Amaldiçoada por sentir que viveria uma eternidade sozinha.
Anos e anos  o futuro, em meio a o reino dos demônios, no andar 99 da torre central, em frente a uma bela cachoeira adornada por cristais luminosos, esse mesmo ser se encontrava, com a cabeça sobre o ombro de outro ser, outra anomalia daquele mundo.

— Ayatinho, eu diria.

— Criou um apelido para mim agora?

— Ezatamente, ninguém mas pode usar, certo?

— Tá, cachinhos. — Concordava o garoto de cabelos vermelhos, enquanto fazia um leve carinho sobre o cabelo dela.

— Hihi!

Ela finalmente, depois de anos e anos havia sentido que havia se livrado de sua maldição que a perseguia. Poderia não ser o grande amor que ela procurava, mas ainda assim era alguém que ela poderia afirmar com toda a certeza que nunca a abandonaria, que realmente se importava com ela e que não ia partir igual todos os outros.
O garoto por sua vez, tirava o sorriso bobo de seu rosto e encarava seriamente a cachoeira a sua frente, e quanto pensava: "Eu não posso perde-la, não apenas por ser uma companheira importante, mas também por ela ser um de nossos pilares nessa guerra. Só não queria ter me afeiçoado tanto a ela, agora tenho mais alguém que quero proteger a todo custo."
Ayato sabia que sacrifícios seriam necessários, por isso não queria se afeiçoar tanto por mais alguém, mas aquela pequena garotinha era vista por Ayato como uma filha que ele nunca teve e que queria proteger, fazendo ele apenas ficar com mais e mais medo. Ele não queria que o que aconteceu no passado se repetisse. Ele não queria sofrer com mais perdas importantes.
Ambos apenas queria ser felizes, mas aquele mundo nem os permitia isso.

Continua no próximo capítulo.

Antes Da Era Das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora