🚜 Sou trator

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Chamada de vídeo.

Roberta Antunes

Me levantei da cama com cólicas menstruais. Tenho uma crise forte de dores todos meses, mas esquece meu remédio na minha casa, antes de ir precisa tomar comprimido para seguir para a capital.

O celular vibrou na mesa de cabeceira. Era Vera, minha irmã. Não pensei duas vezes antes de atender a chamada de vídeo. Caminhei até o jardim, precisava desabafar com alguém sobre tudo o que tinha acontecido com o Diego Ribas.

- Oi, mana! Tudo bem? Como está a mamãe, perguntei, tentando soar o mais animada possível, mas a verdade é que me sentia exausta e magoada.

- Ela está ótima, Vera disse, achei que já estaria no ônibus. Betinha, meu amor, o que houve? Você parece abatida. Vera me olhou com preocupação através da tela do celular.

Resolvi contar tudo para ela, desde o momento em que fui chamada para conversar com o Diego até a humilhação que sofri. Contei sobre suas palavras cruéis e sobre como me senti usada e desvalorizada.

- Não acredito que ele tenha te tratado assim, Roberta! exclamou, indignada. Aquele homem não tem o direito de falar com você desse jeito. Vou aí, dá um chute no saco dele.

- Menos, Vera. Mas o que mais me magoa é ter sido julgada pela minha aparência, confessei, aquele banana de pijama. Olha, tive vontade de arrancar os olhos deles.

- Mas pelo menos, ele é bonito como na rede social? Vera exibe aquele sorriso travesso.

- Você já viu, gente rica ser feia? Digo. Quero ver ele com essa beleza depois de um mês pegando ônibus lotado e 20 boletos para pagar ganhando um salário mínimo.

- Nossa, Betinha! Ele conseguiu azedar você! Não respondeu minha pergunta, ele é bonitão?

- Não reparei, naquele acessório da Barbie. Para você e Milena que gostam desses homens tatuados e malhados, deve ser, para mim é um banana de pijama.

- Não desconta em mim. Tem certeza que quer deixar as crianças? Você ao longo desses dias tem falado com tanto amor deles, conheço você! Está apaixonada por eles. Vera afirma. Meus olhos estão cheios de lágrimas.

- Eu sei, Vera. Mas é difícil não se sentir mal. Afinal, eu gosto muito dos meninos. Suspirei, sentindo um aperto no coração. Olha em todos esses anos que trabalho crianças, mas Caio e Elie são diferentes para mim.

- Eu sei que você gosta deles, mas não permita que eles sofram por causa do pai. Você merece ser feliz e estar em um lugar onde se sinta valorizada, mas talvez tenha rolado um clima.

- O que está falando? Perguntei, aguardando resposta da minha irmã.

- Já vi casos assim, começa no ódio e termina na cama, Vera dá gargalhadas.

- Deixa de ser palhaça! Aquele homem nunca ficaria com uma mulher como eu! Digo revoltada.

- Está se diminuindo? Tudo pode acontecer, as mesma fonte do amor e o do ódio, minha irmã querida. Vera debocha.

- Coitado, daquele acessório da Barbie. Eu sou maquinário pesado, homem precisa ser bruto para conduzir esse trator aqui, aquela ferrarizinha não aguenta a pressão, minha querida!

- Se ele ouvisse você, a coisa ficaria séria. Esquece esse homem, Betinha! Você não precisa de alguém assim em sua vida. Ela me aconselhou, com a voz suave. Você é uma mulher inteligente, forte e independente. Merece muito mais respeito.

- Eu sei que você tem razão, Vera. Mas não sei se consigo simplesmente largar tudo e ir embora. Confessei, sentindo uma grande insegurança.

- Betinha, você não precisa largar tudo. Você só precisa resolver a situação. Ela me olhou com firmeza. Não permita que ninguém te diminua. Você é capaz de conquistar tudo o que quiser, mas também fico pensando, se essa mulher fez isso tudo com os filhos, imagina o que fez com ele! A família inteira está doente por causa dessa mulher, poderia dar um desconto para ele.

- Será? É tão estranha essas emoções que estou sentindo nesses últimos dias, Caio e Elie poderiam ser meus filhos, se eu tivesse me casado anos atrás, com certeza teria filhos da idade deles.

- Mas não são, coitados! Serem filhos daquele preguiçoso do Hugo. Chega dessa conversa. É melhor voltar para casa, a gente arruma outro trabalho para você.

- Obrigada, Vera. Você sempre sabe as palavras certas para me dizer. Agradeci, sentindo um conforto enorme em ter minha irmã ao meu lado.

- Sempre estarei aqui para você, mana. Agora, seque essas lágrimas e levante essa cabeça. Você é mais forte do que imagina. Ela me encorajou.

Desligamos a chamada, mas suas palavras ecoaram em minha mente por muito tempo. Vera tinha razão. Eu não podia permitir que Diego Ribas continuasse a me tratar daquela forma. Eu merecia muito mais respeito.

Com a cabeça erguida, tomei uma decisão. Eu iria procurar um novo emprego e seguir em frente. Não seria fácil, mas eu sabia que era a melhor coisa a fazer. Afinal, a vida é muito curta para sermos infelizes.

Está tudo pronto, e é o momento de deixar a residência dos Ribas. Pego minha bolsa e minha mala, quando escuto batidas na porta.

- Pode entrar. Estava certa que era dona Verônica, mas não era!

- Bom dia, Roberta. Posso entrar? Respondo secamente.

- A casa inteira é sua! Estou de saída. Começo a puxar a mala.

- Roberta, me perdoe! Estou surpresa. Não deveria ter sido tão idiota contigo, por favor continue ajudar minhas crianças.

- Olha, senhor Ribas, não... sou interrompida.

- Eu também estou doente. Na realidade não sei como lidar com tudo isso, mas estou buscando ajuda. Sei que uma vez as palavras ditas, não voltam! Me desculpe por toda situação que lhe causei. Lhe imploro para continuar trabalhando aqui. Ele estende as mãos. Comecei muito mal, vamos recomeçar? Eu sou Diego Ribas, prazer em conhecê-la! Ele me olha nos olhos, sinto verdade nele.

💭 O acessório da Barbie, está sendo sincero.

Na realidade não quero deixar as crianças. Como se desculpou, resolvi encerrar o assunto. Estendo minhas mãos.

- Prazer é todo meu, sou Roberta Antunes. Será um prazer trabalhar contigo e suas crianças.

Neste momento o amor estava começando a ficar cego.

Meu amor de gizOnde histórias criam vida. Descubra agora