🖍️ Plano perfeito

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Três horas antes…

Caio e Elie 

Os primeiros raios de sol já começavam a banhar o quarto onde dormíamos, mas a tranquilidade daquela manhã era perfeita demais para ser interrompida. Olhei para o lado e vi Elie ainda dormindo, abraçada ao seu urso de pelúcia. Delicadamente, afastei os cabelos dela do rosto e sussurrei:

- Elie, acorda! Vamos fazer uma surpresa para a mamãe e o papai!

Ela abriu os olhos lentamente, esfregando-os com as mãos. Um sorriso se espalhou por seu rosto.

- O que vamos fazer, Caio?

- Shhh... não faz barulho, senão vamos acordar a mamãe e o papai. Vamos levantar e fazer uma surpresa para eles! Um lindo desenho.

Saímos do quarto, tateando para não tropeçar e fazer barulho. A casa da vovó Soso era antiga e cheia de cantos escuros, mas já estávamos acostumados. Andamos pelos cômodos com cuidado e nos dirigimos para a cozinha.

- Caio, quero panqueca! Pediu Elie, esfregando os olhos.

- Calma, mana. A gente não pode mexer no fogão sozinho. Mas posso te dar um pouco de suco de laranja.

Peguei um copo e enchi com suco. Elie sorriu e bebeu tudo de uma vez.

- E agora o que a gente faz? Perguntou ela.

- Vamos para a sala desenhar. A mamãe nos deu aquele kit de desenho, lembra? Vamos fazer um desenho da nossa família.

Sentamos na mesa da sala e começamos a desenhar. Elie desenhou a mamãe com um vestido rosa e o papai segurando a mão dela. Eu desenhei a nossa família toda junta, sorrindo. Enquanto desenhávamos, Elie me contou:

- Caio, você ouviu o que a vovó disse ontem? Ela falou que não vai deixar a mamãe casar com o papai.

Meu coração doeu, tive medo da mamãe nos deixar. Eu sabia que a vovó não gostava muito do papai, mas tinha que falar com ela que meu pai amava a mamãe.

- Calma, mana. Se a vovó precisa dar permissão, se não a mamãe vai embora. A gente não pode ficar sem ela.

Elie começou a chorar. Eu a abracei forte. Tinha que pensar em alguma coisa para fazer a vovó mudar de ideia.

- Ei, tenho uma ideia! Vamos fazer um contrato de permissão para a mamãe casar com o papai, como papai ensinou quando brincamos com ele de advogado. A gente mostra para os pais da mamãe Betinha e eles vão deixar! Elie enxugou as lágrimas.

- E o que a gente vai escrever no contrato?

- A gente vai escrever que a gente ama muito a mamãe e o papai e que queremos que eles sejam felizes juntos. E a gente também pode pedir para a vovó dar uma chance para o papai.

- E como a gente vai convencer a vovó a assinar? Perguntou Elie.

- A mamãe disse que a vovó gosta muito de pitanga. A gente pega um pouco de pitanga do pomar e dá para ela junto com o contrato. Com certeza ela vai ficar feliz!

Elie correu para o quintal e voltou com um punhado de pitangas. Peguei um papel e uma canetinha e comecei a escrever o nosso contrato.

Depois de alguns minutos, terminei de escrever. Mostrei para Elie e ela achou muito legal. Calçamos nossas novas pantufas e saímos pela porta dos fundos, com cuidado para não fazer barulho.

- Caio, eu não sei o caminho para a casa da vovó! Exclamou Elie.

- Calma, mana. A mamãe me ensinou. A gente vai seguir reto, passar no meio da praça e depois seguir pela rua a frente. É fácil!

E assim, com o nosso contrato e as pitangas nas mãos, começamos nossa jornada para convencer a vovó a aceitar o papai.

A praça estava silenciosa, adormecida sob o manto do sol natalino. As luzes piscavam nos postes, criando um cenário mágico que contrastava com a tensão que eu sentia. Elie, agarrada à minha mão, olhava para todos os lados com curiosidade.

- Caio, lembra quando a mamãe contou que brincava aqui quando era pequena? Perguntou ela, apontando para um balanço vazio.

- Lembro, mana. Ela me contou muitas histórias sobre essa praça.

Continuamos caminhando pela rua deserta, nós aprendemos como caminhar em rua, na aula de trânsito na escola. A casa dos pais da mamãe se aproximando a cada passo. Quando finalmente a vimos, meu coração acelerou. Respirei fundo e bati no portão.

- Vovó Márcia! Vovó Márcia! – gritamos eu e Elie, ansiosos pela resposta.

A porta se abriu lentamente, revelando a figura surpresa da vovó. Ela nos olhou de cima a baixo, incrédula ao vermos vestidos de pijama e com as pantufas novas.

- Caio e Elie? O que estão fazendo aqui, de pijama, no meio da noite? Onde estão seus pais?

- A mamãe e o papai estão dormindo na casa da bisavó Soso. Respondi, tentando parecer confiante.

- Mas como vocês vieram para cá sozinhos? Isso é muito perigoso! Ela nos repreendeu, mas um sorriso gentil surgiu em seus lábios.

- Vovó, a gente tem uma missão muito importante. Disse Elie, mostrando as pitangas que havia colhido. A gente quer que a senhora deixe a mamãe casar com o papai! A vovó riu. 

- Foi o seu pai que mandou vocês aqui?

- Não, vovó! Foi nossa ideia! Respondi rapidamente. A gente fez um contrato e trouxe as pitangas para a senhora.

Ela pegou as pitangas nas mãos de Elie e examinou-as com curiosidade. Em seguida, leu o contrato que eu havia escrito.

- Que coisa mais fofa! Ela exclamou, seus olhos se umedecendo. Mas vocês sabem que nem tudo é tão simples assim, não é?

- Eu sei que vocês amam muito seus pais. Disse ela, acariciando meu cabelo. E eu também amo a Roberta. Mas as coisas não são tão fáceis como vocês pensam.

💭 Será que não deu certo nosso plano.

Meu coração doeu. Será que tínhamos falhado?

- Vovó, a gente promete que vai cuidar muito bem da mamãe e do papai. Disse Elie. A gente vai ser a família mais feliz do mundo! A vovó sorriu e nos abraçou forte. 

- Eu sei que vocês são crianças muito especiais. E também quero que vocês sejam felizes. Agora, vamos entrar. Já tomaram café?

- Não. Quero comer panquecas. Vovó, pode fazer para mim? Elie pergunta.

- Também gosta de panqueca, igual minha menina. Vou fazer para você, minha neta.

- Eu também quero! Digo segurando na mão da vovó.

Naquele momento, talvez a vovó estivesse começando a mudar de ideia. Acho que as pitangas deram certo.

Ela nos chamou para entrar e nos ofereceu um copo de leite quente com chocolate, enquanto preparava panqueca. Sentados à mesa da cozinha, ouvimos a vovó contar histórias sobre quando era mamãe era criança e sobre a importância de obedecer os pais.

Meu amor de gizOnde histórias criam vida. Descubra agora