💗 Revivendo o passado

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Mia de Assis

A xícara de café ainda fumegava em minhas mãos aguardando Verônica, ela me convidou por um café depois do nosso encontro no hospital, mas para mim a imagem de Ruan se materializou em minha mente. Tinha sido há tantos anos, quando a vida era uma sequência de descobertas e paixões adolescentes. Nós dois, tão jovens e tão apaixonados, unidos por um destino que parecia traçado.

Lembro-me como se fosse ontem do dia em que o conheci. Eu, uma menina tímida de 16 anos, recém-chegada àquela escola particular, e ele, um garoto que tentava lidar com os problemas dos pais recém separados, onde sua mãe veio de Bauru para São Paulo. Havíamos nos conectado de uma forma instantânea, encontrando refúgio um no outro em meio às turbulências de nossas vidas.

Nossos oito meses juntos foram intensos, marcados por risadas, segredos e a sensação de que éramos invencíveis. Mas a vida, como sempre, tinha outros planos. A reconciliação dos pais de Ruan o levou de volta para Bauru, deixando um vazio imenso em meu coração. Levei um ano para me recuperar daquela perda, um ano de noites mal dormidas e lágrimas silenciosas.

E então, como um raio em um dia claro, conheci meu marido. Ele foi meu porto seguro, a pessoa que me ajudou a reconstruir minha vida. Nossos anos juntos foram felizes e intensos, até que fatídico acidente o levou de mim. Faz três anos que ele havia partido, e ainda sentia sua falta a cada dia.

Nunca imaginei que cruzaria novamente com Ruan. A vida me havia levado por outros caminhos, e havia construído uma nova realidade. Mas aqui estou aqui, sentada em um café, me relembrando fo passado.

Verônica, nos conhecemos de alguns casos na vara da família, me convidou para tomar um café, pois sua empresa ficava próxima à minha. Ela queria entender melhor sobre o trauma de infância de Roberta Antunes, uma amiga em comum que trabalhava como babá para os sobrinhos dela. Verônica chega elegante como sempre. Me abraça e me cumprimenta.

- Acabei saindo cedo, estou com fome, vamos fazer o pedido. Ela faz o pedido de breakfast.

- Doutora, o que deseja saber sobre esse trágico momento da minha Betinha.

- Verônica, por gentileza. Me conta tudo, quero saber para ajudá-la.

- Lá vem história. Seu tio Bateco era irmão mais novo do pai dela. Ele sempre foi envolvido com coisas ilegais, principalmente tráfico. Sempre amou Roberta, o apelido Betinha foi ele que deu. Quando ela tinha sete anos, foi preso por tráfico. Durante três anos com avó dela ia visitá-lo sempre levava cartinhas que ela escrevia para o tio. Nunca o julgou, pelo contrário, sempre gostou dele de maneira genuína e pura. Quando saiu da cadeia o primeira pessoa que ele quis levar para passear? Perguntei, Verônica respondeu.

- Roberta, com certeza. Eu sorri.

- Exatamente. Todas as crianças tinham medo dele, a mãe de Roberta não queria deixá-los sozinhos, mas aquela criança não, adorava o tio. Eles foram brincar na praça perto da sua casa. Depois de um tempo brincando no parquinho, estavam tomando sorvete, um carro parou, homens encapuzados desceu atirando, para proteger Betinha, ele atrás de banco de cimento, então executaram bem ali, ela achou que estava brincando de esconde-esconde, quando saiu e viu tio todo ensanguentado, deitou em cima dele começou a pedir socorro. Depois disso passou ter medo do escuro e ter pesadelos com morte dele.

- Meu Deus, ela era uma criança. Coitadinha. Dona Verônica parece preocupada.

Enquanto conversamos sobre a história de Roberta, minha mente vagava por aqueles velhos tempos. A vida é cheia de surpresas, e às vezes, as pessoas que mais marcaram nosso passado voltam a cruzar nosso caminho, nos fazendo questionar tudo o que acreditávamos saber sobre o destino.

Aquele encontro com Ruan havia mexido profundamente comigo. Senti um turbilhão de emoções: saudade, raiva, alívio, tristeza. Mas acima de tudo, sentir gratidão por ter vivido aquela intensa paixão adolescente. Afinal, foram aquelas experiências que me moldaram e me tornaram a mulher que sou hoje.

Ao me despedir de Verônica, caminhei pelas ruas da cidade, perdida em meus pensamentos. O sol da tarde iluminava as fachadas dos prédios, e uma brisa suave acariciava meu rosto. A vida continuava, e estava pronta para enfrentá-la, com todas as suas alegrias e tristezas.

Meu amor de gizOnde histórias criam vida. Descubra agora