🖍️ Amarga lembrança

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Dois dias depois...

O primeiro dia de aula após as férias de julho sempre me trazia uma mistura de sentimentos. A alegria de ver as crianças animadas com o novo semestre e a nostalgia por aqueles dias mais tranquilos em casa. Ao deixar Caio e Elie na escola, a sensação de dever cumprido me invadiu.



Dirigi até o prédio no centro, onde Úrsula me esperava para darmos início aos preparativos da inauguração do Instituto Benjamim. A obra estava quase finalizada e a ansiedade para abrir as portas e começar a transformar vidas era imensa.



Ao chegar ao estacionamento, notei um homem agindo de forma suspeita, observando a entrada do prédio. Ao me aproximar, ele se afastou rapidamente. Senti um frio na espinha, mas tentei não me deixar abalar.



No escritório improvisado, encontrei Úrsula pálida e com uma expressão preocupada. Perguntei se estava tudo bem e ela me contou que havia passado mal nas últimas semanas, com enjoos matinais. Intrigada, perguntei se ela já havia pensado na possibilidade de estar grávida. Úrsula negou veementemente.




- Mas Roberta, os médicos disseram que eu não poderia ter mais filhos depois de Benjamim. Tive problemas nos ovários.




- Sei disso, mas às vezes a milagre divino nos surpreende. Muitas mulheres menstruam normalmente mesmo estando grávidas. Ela me olhou com um misto de esperança e incerteza.




- E se estiver grávida? Só tem um jeito de saber, respondi, sorrindo.




Após finalizarmos algumas tarefas no escritório, decidimos sair para reunir provas para um caso que Úrsula estava defendendo. Passamos horas na rua, percorrendo diversas ruas e entrevistando pessoas.


Ao voltarmos para o instituto, Úrsula sugeriu que comprássemos um teste de gravidez. Fui até a farmácia próxima e comprei três testes.



No banheiro do instituto, com o coração acelerado, aguardamos o resultado. Quando finalmente olhei para os testes, a confirmação: duas listras! A emoção tomou conta de nós duas. Abraçamos e choramos de alegria.



Úrsula estava grávida! Era um milagre. Após tantos anos de sofrimento e desesperança, ela finalmente teria a oportunidade de experimentar novamente a alegria de ser mãe.



- Meu Deus, tem um milagre dentro de mim. Aqui diz 12 semanas. Abro um sorriso.



- Sim, precisa marcar o médico. Como vai contar para Osmar? Ela fica imóvel.




- Meu leão, nem vai acreditar. Ela chora. Ele ficou bastante abalado quando o médico disse que não poderia mais ter filhos.



A notícia da gravidez de Úrsula me encheu de alegria. Celebrávamos juntas esse novo ciclo na vida dela. Conversamos por horas sobre a maternidade, sobre os medos e as expectativas. Ela me contou sobre sua ansiedade e sobre como estava ansiosa para contar a novidade para Osmar, que estava em uma viagem de trabalho.




- Roberta, você precisa ter cuidado. Não pode descuidar da sua saúde. Já que você e Diego estão juntos, por que não usam camisinha?


A pergunta de Úrsula me fez suspirar. Com a voz embargada, confessei:


- Eu gostaria de ter mais filhos, mas... é complicado. Tenho ovários policísticos e meu ciclo menstrual é irregular. Os médicos me disseram que poderia ter dificuldades para engravidar naturalmente. Úrsula me olhou com pena.


- Eu não sabia, querida. Me perdoa!



- Tudo bem, Úrsula. Mas agora não é o momento para mim. Além do mais, estou tomando anticoncepcional. Ela concordou comigo.



- É verdade, você não pode se descuidar da sua saúde, não somente por gravidez, mas também doenças sexualmente transmissíveis, precisa se cuidar. Mas quem sabe, um dia, esse sonho se realize.



Decidimos que no dia seguinte faríamos a primeira consulta de Úrsula com o obstetra. Ela queria preparar uma surpresa para Osmar, que chegaria à noite. A ideia era contar a novidade pessoalmente para ele.



Enquanto nos preparávamos para voltar para casa, a expectativa e a felicidade tomavam conta de nós. A vida nos presenteava com mais uma benção, e eu estava radiante por poder compartilhar esse momento com minha amiga.




Naquele dia, a certeza de que estávamos no caminho certo me confortou. A vida era cheia de desafios, mas a amizade, o amor e a esperança nos guiavam para um futuro mais brilhante.


Nos próximos dias, a felicidade irá transbordar em nossos corações. A inauguração do instituto, que já era motivo de grande alegria, agora ganhou um significado ainda mais especial. Estávamos prestes a iniciar um novo capítulo em nossas vidas, repleto de esperança e amor.

....

Enquanto aguardava as crianças na porta da escola, meus pensamentos vagavam por lembranças do passado. Olhava para as outras mães, conversando e brincando com seus filhos, e sentia uma pontada de inveja. Como seria bom gerar uma criança no próprio ventre? A experiência de nutrir uma vida dentro de si, de sentir aquele pequeno ser crescendo e se desenvolvendo, sempre me pareceu um milagre.




Mas a realidade era outra. Anos atrás, quando ainda era noiva de Hugo, recebi uma notícia que abalou meu mundo. Durante uma consulta com o ginecologista, descobri que tinha problemas nos ovários e que, devido ao uso prolongado de anticoncepcionais para controle do ciclo menstrual, minhas chances de engravidar naturalmente eram mínimas. Ao sair do consultório, chorei amargamente. Ao encontrar Hugo na porta da clínica, esperava por um abraço, por palavras de conforto, mas ele apenas me disse, com frieza, que não poderia se casar com alguém que não pudesse lhe dar filhos.



Saí dos meus devaneios quando ouvi as vozes animadas de Caio e Elie me chamando. Corri para abraçá-los e sentir o calor dos seus corpos. Perguntei como havia sido o dia deles e eles, com a maior animação, começaram a contar tudo o que fizeram. Ao ouvi-los, senti meu coração se encher de amor.




Caminhando em direção ao carro, de mãos dadas com as crianças, agradeci por tê-los em minha vida. Eles eram minha família, meu motivo para sorrir todos os dias. Aquele era o meu maior presente.



No caminho para casa, cantamos juntos e nos divertimos muito. Ao chegarmos, preparei o jantar e passamos um tempo juntos, conversando e brincando. Naquela noite, ao deitar com Caio e Elie em minha cama, senti uma paz que há muito não sentia. Eles dormiam serenamente em meus braços, e os observava com ternura.




Embora meu sonho de gerar um filho biológico tivesse sido adiado, tinha a certeza de que a maternidade me havia escolhido de outra forma. E isso era tudo o que importava.

Meu amor de gizOnde histórias criam vida. Descubra agora