🪇 Samba no pé

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Dois dias depois...

Roberta Antunes

A tarde de sexta-feira reluzia sobre o prédio do Instituto Benjamin. As malas prontas, a animação contagiante. Eu, Vera, Úrsula, Verônica e Mia estávamos prestes a embarcar em uma aventura inesquecível. A capital paulista nos aguardava com os braços abertos para um fim de semana repleto de diversão, moda e muita amizade.


"Diego, vou para São Paulo com as meninas, vou participar de um evento de um amigo", havia dito, sem revelar o motivo da viagem. A verdade é que não sabia como ele reagiria ao saber que participaria de um evento plus size, um evento que celebrava a beleza e a autoestima de mulheres como eu, mas com uma alegoria extremamente sensual.


O carro de luxo nos aguardava na porta, pronto para nos levar em uma jornada de três horas até São Paulo. A estrada se estendia diante de nós, uma longa faixa de asfalto que nos levava rumo à liberdade e à felicidade. Cantamos, conversamos e rimos durante toda a viagem, criando memórias que guardaríamos para sempre.


Ao chegarmos em São Paulo, escolhemos o luxuoso Hotel Hilton Morumbi para nos hospedar. Verônica, sempre organizada, havia reservado duas suítes para que pudéssemos aproveitar ao máximo nossa estadia. Ao entrar no hotel, lembrei-me de Túlio, trabalhava justamente nesta filial desse grande hotel. A ideia de encontrá-lo me deixou um pouco nervosa, mas logo afastei esses pensamentos da minha cabeça.


💭 Túlio é menor do meus problemas


Após nos instalarmos nos quartos, descemos para o restaurante do hotel. A noite prometia ser mágica, com um show de bossa nova ao vivo. Pedimos drinks e pratos deliciosos, enquanto apreciávamos a música e a companhia das minhas amigas. Optei por um drink sem álcool, já que estaria dirigindo no dia seguinte e fora o vexame da última noite de garotas.


De repente, senti um olhar sobre mim. Virei-me e lá estava Túlio, observando-me de longe. Sorri para ele e acenei com a cabeça. Ele retribuiu o gesto e se aproximou da nossa mesa.


- Boa noite, senhoritas. Espero que estádia no Hílton seja uma grande experiência extraordinária. Seus olhos não saem de mim.


Conversamos por alguns segundos, relembrando a noite de samba, mas logo, ele desiste de uma aproximação.


💭 Parece que todos meus defuntos resolveram sair da catatumba para me atormentar.


Mais tarde, sobre canções de bossa, quando estávamos nos preparando para dormir, recebi uma mensagem de Diego: "Chegaram bem?" Respondi apenas com um "Sim", sem entrar em detalhes sobre o meu fim de semana.


Deitada na cama, comecei a pensar em minha mãe. Sabia que ela não aprovaria minha participação no evento plus size. Ela nunca vai aceitar minha relação inter-racial com Diego e, com certeza, não entenderia minha necessidade de construir uma relação e me sentir confiante com minhas próprias escolhas. A ideia de ter que enfrentar sua desaprovação me deixava triste, mas não me faria desistir dos meus sonhos.


Com esses pensamentos, acabei adormecendo, sonhando com um futuro onde seria aceita e amada por todos, independentemente de minha aparência ou das escolhas que fizesse.

Horas depois...

O Sambódromo do Anhembi era um mar de cores e alegria. A bateria da escola de samba do Jardim Leblon, minha comunidade, ecoava forte, impulsionando os corações de todos os presentes. Eu estava pronta para mais um carnaval, mas desta vez, em um papel diferente.


Minha alegoria de passista, feita sob medida, era um sonho tornado realidade. Plumas azuis, amarelas e vermelhas se agitavam a cada movimento, e um aplique volumoso realçava meus cachos naturais. As sandálias de salto alto, embora desconfortáveis, me faziam sentir poderosa e elegante. Úrsula, minha amiga de pouca data, dividia comigo a emoção de desfilar como passista, realizando um sonho que cultivava há anos. Verônica, Mia e Vera nos acompanhavam, vibrando a cada passo nosso.

Antes de entrar na avenida, procurei Margarido, o coordenador das passistas e meu amigo de longa data.

- Margarido, estou um pouco nervosa, confessei. Ele sorriu e me abraçou.


- Você vai arrasar, Roberta! Confia em mim. Suas palavras me deram a força que eu precisava.

Com um coração a mil, entrei na passarela. A bateria ecoava em meus ouvidos, e a multidão vibrava a cada movimento meu. Sentia os olhares sobre mim, e um sorriso involuntário se espalhou por meu rosto. Mas quando meus olhos encontraram os de Diego, no final da passarela, com os braços cruzados, quase perdi o equilíbrio. A emoção me tomou de assalto, mas me mantive firme na coreografia, determinada a mostrar para ele e para todos a mulher confiante e feliz que havia me tornado.


A adrenalina pulsava em minhas veias enquanto desfilava. A cada passo, a cada balanço de quadril, me sentia mais livre e mais bonita. A experiência estava sendo inesquecível, e sabia que jamais esqueceria esse momento.

Meu amor de gizOnde histórias criam vida. Descubra agora