Meu amor de giz

⚖️ Não irei tolerar

Acordo com um leve tremor nas mãos. A noite foi longa e inquieta, cheio de sonhos e pesadelos sobre Roberta. Mas ao abrir os olhos e vê-la ali, serena em seu sono, um sentimento de paz me invade. Agradeço aos céus por ela não ter tido pesadelos como os meus.

Começo minha rotina matinal, ansioso por vê-la acordada. Após me arrumar, desço para a cozinha. A casa ainda estava adormecida, mas ao chegar à cozinha, a voz da cozinheira me tira dos meus pensamentos.

- Essa Roberta está se achando dona da casa. Ridículo uma preta subir no palanque.

A raiva me consome. Como alguém pode ser tão cruel e ignorante? Entro na cozinha com passos firmes.

- Roberta Ribas é a senhora desta casa! É a dona! Se você tem algum problema com isso, a porta da saída está aberta!

O silêncio que se instalou na cozinha era ensurdecedor. Olhei para cada um dos funcionários, meus olhos transmitindo a gravidade da situação.

- Se alguém mais tiver algum comentário desrespeitoso, pode procurar outro emprego. Agora, dona Abigail, por favor, leve o café da manhã para o quarto. Tomarei café com as crianças e Roberta lá.

Saio da cozinha com passos pesados, a cabeça a mil. Ao subir a escada, vejo Roberta parada. Seus olhos se encontram com os meus.

- Diego, você não deveria ter dito aquilo aos funcionários.

- Por quê? Eles precisam entender que você é a dona desta casa!

- Mas nós não somos casados, Diego.

- E daí? Se quiser, nos casamos hoje mesmo. Chamo um juiz para vir aqui em casa.

Ela me olha, surpresa. Tenta argumentar, mas é interrompida pela chegada das crianças, que a abraçam com força.

- Mamãe, me ajuda a vestir o uniforme! Caio pede, puxando sua mão.

Roberta sorri fraco e, de mãos dadas com as crianças, caminham em direção ao quarto. Acompanho-as, ajudando Roberta a vestir as crianças. Ela ainda tem dificuldades para algumas atividades, mas tenta se esforçar.

Tomamos café no quarto, um clima tenso pairava no ar. Roberta quase não come, apenas toma um copo de suco. Depois do café, nos despedimos das crianças e as levamos para a escola.

💭 O que minha narizinho, tanto pensa.

Durante o trajeto, a sensação de que tenho uma batalha pela frente é cada vez mais forte. Preciso proteger Roberta e minhas crianças de qualquer tipo de ofensa ou discriminação, mas tem algo dilacerando o coração dela. Ao deixar as crianças na escola, olho para o céu e suspiro. Sei que os próximos dias serão desafiadores, mas farei de tudo para que Roberta se sinta amada e segura em nosso lar.

Enquanto isso na cozinha da mansão Ribas…

- Estou dizendo para você parar de tecer comentários maldosos sobre D. Roberta. Governanta Abigail. A cozinheira ri.

- Logo não será mais dona, porque o patrão vai chutar ela, a pretinha da favela que achou que seria esposa do maior advogado criminalista do Brasil.  Ela e a diarista dão gargalhadas.

- São duas invejosas. Sua Nazaré Tedesco. Eu tenho certeza que Roberta é a mocinha dessa história, ela vai casar com o patrão. Carlos grita com elas.

- Isso mesmo, Carlos. Podem torcer contra, mas e ela que o patrão ama, suas invejosas. Não vou ter pena, vou falar com o senhor Ribas. D. Abigail sai da cozinha. 

D. Abigail dá de cara com Roberta. Ela escutou tudo. 

- Betinha, precisa de alguma coisa? 

- Vim buscar mais água. Seus olhos estão distantes. D. Abigail pega a jarra das mãos dela.

- Vou pegar para você. Pode subir. D. Abigail responde.

- Obrigada. Respondeu com um sorriso falho. Ela sobe as escadas bem devagar.

Dona Abigail entra na cozinha e olha para Carlos. Ele imediatamente fala:

- Betinha, ouviu tudo? Ele perguntou.

- Sim. D. Abigail respondeu colocando água na jarra.

- Vocês cavaram a própria cova. Carlos responde saindo da cozinha.

- Infelizmente, vou informar ao senhor Ribas. 

Dona Abigail sobe até o quarto de Diego. Encontra Roberta sentada na poltrona. Ela percebe que Roberta está olhando pela janela com tristeza. 

- Betinha, aqui água. D. Abigail coloca no cômoda de cabeceira.

Roberta não responde, apenas continua olhando para a janela. A governanta sai do quarto com sensação estranha referente a Roberta. Dona Abigail retorna ao seus afazeres.