⛈️ Este é meu lugar

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Roberta Antunes

Três meses depois...

Caminhava pelo corredor, os passos lentos e hesitantes. A cada momento que passava, a certeza de que algo havia mudado entre senhor Diego e eu. Nos últimos meses, havia se tornado distante, evasivo. As conversas que antes fluíam com naturalidade e sarcasmos as vezes, agora eram curtas e formais. Aquele homem que de repente estava sendo gentil e carinhoso, que me olhava com admiração, parecia ter desaparecido.

Ao passar pela sala de estar, ouvi sua voz grave ecoando pelo cômodo. Diego conversava com sua irmã, Verônica. As palavras "sentimentos românticos" e "babá" chegaram aos meus ouvidos como um soco no estômago.

- Verônica, para de tentar me juntar com a babá, por favor! Sua voz era ríspida.

- Não estou tentando, mas conheço você, Diego. Só que seja sincero com si mesmo. Ele retruca.

- Não tenho e nunca terei sentimentos nenhum por Roberta. Chega dessa conversa.

Ele estava dizendo que nunca teria sentimentos por mim? Uma onda de tristeza me invadiu, e por um momento, senti como se o chão estivesse se abrindo sob meus pés. Por que aquelas palavras me doíam tanto? Sabia que não tínhamos nada, que nossa relação era profissional. Mas, nos últimos meses, havia cultivado uma admiração e respeito por ele, mas foi um sonho, da minha parte.

💭 Sempre acreditando nas pessoas.

Hoje, seria o evento anual da Advocacia Ribas, um momento para celebrar as conquistas e fortalecer os laços familiares. As famílias dos funcionários eram convidadas, e eu, como babá, estaria presente. Elie e Caio estavam ansiosos, pulando de alegria ao saber que os acompanharia. Durante o trajeto, fiquei em silêncio no carro dirigido por Eduardo. O mesmo observou minha tristeza, a todo momento dava uma olhada rápida no retrovisor.

Ao chegar ao evento, senti um pouco deslocada. As outras famílias estavam reunidas em grupos, conversando e rindo. Eu, por minha vez, permaneci à distância, observando tudo com um certo distanciamento. As crianças, no entanto, pareciam super felizes. Corriam de um lado para o outro, brincando com as outras crianças, e a cada instante que passava, me buscavam com um sorriso radiante.

No entanto, por mais que tentasse me distrair, a lembrança das palavras de Diego me perseguia. O cargo que ocupava era de uma babá, e não um lugar especial naquela família, como havia começado a acreditar. A felicidade das crianças me confortava, mas não era suficiente para apagar a tristeza que sentia. Era uma festa com brincadeiras, jogos coletivos, música, dança e muita comida. Na hora do almoço levei as crianças para lavar as mãos. Ao me aproximar da mesa dos Ribas, acomodei Caio e Elie nas cadeiras. Senhor Valentino puxa a cadeira para mim, mas rapidamente digo.

- Muito obrigada, Senhor Valentino. Fiquem à vontade. Se me dão licença.

- Betinha, senta perto de mim. Caio me chamou. Me aproximei e sussurrei no seu ouvido.

- Meu querido, esse é um momento da família, vou me sentar lá fora, depois nos vemos. Beijo o seu rosto. Todos percebem minha mudança de comportamento.

💭 Minha mãe tem razão, sou muito burra.

Sentada na arquibancada do ginásio, observei as pessoas curtindo aquele familiar. Todos pareciam tão felizes, tão completos. E eu? Era apenas uma idiota que acredita que é alguém especial, mas era apenas uma simples mulher. Uma lágrima solitária escapou dos meus olhos e rolou pela minha bochecha.

Realizo minha refeição no lugar que me cabia. Ao terminar, desço as arquibancadas com marmita com resto de comida. O evento corporativo da Ribas, estava super agradável, mas se transformou em um pesadelo. Enquanto me dirigia para a mesa de bebidas, esbarrei acidentalmente em uma das advogadas da empresa, uma jovem sua bolsa de marca caiu no chão.

- Olha por onde anda! exclamou, com um sorriso desdém. Só poderia vir dessa classe de trabalhadores sem educação.

A voz dela ecoou pelo salão, chamando a atenção de todos à nossa volta. Senti minhas bochechas queimarem de vergonha.

- Me desculpe! respondi, tentando manter a calma. Não foi minha intenção.

- Não interessa, minha bolsa de marca tem mais valor que você, sua babá inútil. Peguei-a agora.

Me abaixei e retirei o item do chão. Entreguei para ela.

- Novamente peço desculpas! Senhorita.

💭 Minha maré não está para peixe.

As palavras dela me atingiram como uma facada. Eu sabia que ela estava certa. Os olhares curiosos e julgadores dos outros me deixaram ainda mais envergonhada. Senti vontade de desaparecer, de me afundar no chão e nunca mais sair. Joguei o lixo na lixeira, e percebo o olhar das crianças, que me observavam com olhinhos preocupados, encontrei conforto.

Estava com Elie e Caio em uma oficina de dobradura, acabei me esquecendo das minhas frustrações. Eles me abraçaram forte, como se sentissem a minha tristeza.

- Você está triste, Betinha? disse Elie, com a voz suave. Forcei um sorriso.

- Não, minha querida! Estou cansada. Caio acaricia meu rosto.

- Você é linda, Betinha. Sabia que amo você! Elie também se declara.

- Eu amo você, também! Ela beija meu rosto.

- Eu também amo vocês. Vamos terminar esse gatinho. Continuamos as atividades da oficina.

As palavras dos meus pequenos me comoveram profundamente. Em meio a tanta frustração, encontrar conforto no amor das crianças era um bálsamo para a minha alma.

...

Era sábado de manhã, não iria ver meus pais como de costume, pois estavam viajando para casa de alguns parentes no interior. Então resolveu ficar no dormitório, mas duas pessoas não vão deixar.

Eles querem que eu os leve até shopping aqui perto para comprar canetinhas para fazerem um desenho. Resolvo ir com eles para me distrair. Ao chegar na sala, senhor Ribas estava com amigos conversando, as crianças informam que vão até o shopping.

- Crianças é folga da Roberta, vou levá-los. Então, respondo.

- Senhor Ribas, vou acompanhá-los porque quero passar minha folga com eles, se me dá sua permissão. Ele fica sem graça.

- Lógico, Roberta. Ele me encara. Vou pedir um dos seguranças para ir com vocês. Não faço contato visual.

- Muito obrigada, senhor Ribas. Vamos crianças! Eles me dão as mãos.

Breno nos acompanha no carro blindado. Ao chegar na livraria eles escolheram as canetinhas e livros de colorir. Aproveito para escolher um livro para mim. Sinto olhares estranhos para gente. Iria começar uma contação da história do livro " O mágico de Oz" decidimos acompanhar. Depois de pagar, saímos dali correndo para loja de jogos, nos divertimos com brinquedos eletrônicos. Como levantamos tarde, devido ao evento na sexta-feira. Não me dei conta que está na hora do almoço.

Meu amor de gizOnde histórias criam vida. Descubra agora