🤗 Gargalhadas

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Diego Ribas

Esgueirei-me pela porta do quarto de Roberta, guiado pelo som de risadas infantis. A cena que se desenrolou diante dos meus olhos era como um sonho. Roberta, deitada na cama, tinha Caio e Elie encolhidos ao seu lado, os três hipnotizados pela tela do notebook. A Bela e a Fera ecoava pelo quarto, mas o som que mais me tocava era o das gargalhadas gostosas das crianças numa sessão de cócegas que Roberta fazia na barriga deles. 

Nunca os tinha visto tão felizes, tão à vontade. Na época de Brigitte, a casa era um labirinto de sombras, e o riso era um som desconhecido para nossos filhos. O silêncio e o medo eram evidentes entre mãe e os filhos. Agora, eles pareciam crianças normais, livres para serem felizes.

Uma onda de felicidade me invadiu, a primeira desde o nascimento dos gêmeos. Sentia um calor no peito que esquentava por dentro, uma sensação de paz que há muito não experimentava. Aquele era o lar que sempre sonhei, repleto de amor e de risadas.

Depois de cuidarem de Roberta, assim eles acreditam, finalizamos o domingo brincando no quarto. Fiz questão de deixá-los comigo, para não indispor mais Roberta. Tentaram fugir para o quarto dela, mas como bom zagueiro mantive a defesa atenta. À noite tiveramos compromisso da festa de aniversário do sobrinho de Ruan. Durante o evento eles queriam levar tudo para “Betinha”. Nossa amiga Veridiana está atenta nisso, porque adora fofocar sobre a família Ribas, indaga:

- Nova namorada? Essa tal de Betinha? Respondo secamente.

- Não. E a babá deles. Ela fica surpresa. Quando se retira da mesa. Minha irmã retruca.

- Ela não é a babá, mas sim, psicopedagoga. Resolvo ir à réplica.

- Estou pensando nessa aproximação rápida demais deles com Roberta. As crianças podem confundir e achar que ela é a mãe deles. Quando for embora,  já que é psicopedagoga, vão sofrer. Verônica faz sua tréplica.

- E daí, qual o problema disso. Quantas mulheres não deveriam ser mãe, Brigitte é uma, enquanto algumas não tem, mas parece que nasceram para isso. Fico irritado, faço uma nova réplica.

- Daqui a pouco, você me casa com ela? Digo tomando um gole de água. Verônica me devolve nova tréplica.

- Não seria uma má ideia, mas esquece, você não é homem suficiente para conduzir aquele trator. Realmente gosta de ser acessório de mulher, onde usam como brinquedo. Por isso não conhece o amor, pois olha aparência em vez de carácter. Meu irmão, fica calado, assim mantém os dentes. Valentino começa a gargalhar.

- Poderia ir dormir sem essa, Diego. 

Depois do aniversário, fomos para casa. As crianças dormiram exaustas no carro. Eduardo me ajudou coloca-los na cama. Nem banho tomaram. Depois de uma boa ducha, coloco uma calça de moletom e estou sem camisa, resolvo ir até a sacada observar a noite. O céu estrelado está bastante convidativo para ser admirado. Ao abaixar os olhos, vejo Roberta com expressão serena observando a paisagem noturna. 

💭 Essa mulher ganhou o coração de todos. Onde não posso dizer nada contra.

Ela se levanta em direção ao dormitório. Ao me ver acena com a cabeça, retribuo o gesto. Fico mais algum tempo até me deitar para ter uma boa noite de sono. Hoje as crianças não vão à aula, pois estão de atestado médico. Roberta parece muito bem. Vou para o trabalho com ânimo.

Algumas horas seguintes, a realidade me atingiu com força. Estava em uma reunião no escritório, debatendo a estratégia de defesa de um caso de homicídio, quando Roberta irrompeu na sala, o rosto contorcido pela raiva.

- Você me garantiu que ela nunca tocou neles! gritou, seus olhos estão faiscando.

O escritório ficou em silêncio. Todos os olhares se voltaram para mim, e senti minhas bochechas queimarem de vergonha. Tentei acalmá-la, mas suas palavras ecoavam em meus ouvidos.

- Você mentiu para mim, Diego! repetiu, cada sílaba carregada de acusação. Retruco na mesma hora.

- Não sei do que está falando, senhorita Roberta. Ela estava alterada com uma leoa. Minha irmã vem ao encontro juntamente com Ruan e Valentino.

- Que tipo de pai é você? Olha, está explicado porque as crianças estavam traumatizadas. Você não merece ser pai daqueles dois anjinhos. Ela sai do escritório. Verônica vai atrás.

💭 Que mulher louca. Não vou sair de vilão.

Saio da minha sala e vou atrás dela. Aquela cena me fez questionar tudo o que acreditava. A felicidade que senti na noite anterior parecia distante, substituída por um turbilhão de emoções conflitantes. A verdade era que nunca saberia ao certo o que havia acontecido, mas a dúvida me corroía por dentro. A visualizo no elevador. Ela estava com o rosto enfurecido. Caminho até ela. Grito no corredor.

- Você entra no meu escritório daquele jeito, não explica nada e vai embora, tu és louca? Ele ri.

- Sou louca! Você garantiu que ela nunca agrediu fisicamente aquelas crianças, senhor Ribas. O elevador se abre. Ela entra.

- Você está falando de quê, Roberta. Ela grita.

- Daquela maldita, como nome de Brigitte. A porta está se fechando. Coloco a mão e entro. Aponto o dedo para rosto dela.

- É melhor você explicar o que está acontecendo, Roberta Antunes.

- Brigitte torturava Caio e Elie. Estou surpreso com informação. Aperto o botão e paro o elevador.

A partir daquele dia, a minha vida nunca mais seria a mesma. A confiança que havia construído sobre a imagem de Brigitte sem rompe, e a sombra da maldade pairava sobre minha família. 

Meu amor de gizOnde histórias criam vida. Descubra agora