🖍️ Tapa da verdade

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Roberta Antunes 

Uma semana antes…

O ônibus serpenteava pela estrada, levando-me para longe do resort. Ou melhor, para a casa do meu primo, Marlon. Ilhabela, com suas praias paradisíacas e o mar azul turquesa, não me trazia mais paz. A traição de Diego havia me deixado fragilizada, e a ilha, que antes era motivo de comemoração, agora era um lembrete doloroso da dor que  sentia.

Ao chegar à rodoviária de São José dos Campos, peguei um táxi até o apartamento de Marlon. A noite já havia caído quando bati à porta. Marlon abriu com um sorriso, mas ao me ver, sua expressão mudou.

– Ah, não! Qual é o dilema dessa vez? – brincou, mas seus olhos transmitiam preocupação.

– Estou namorando meu patrão e adivinha com quem ele dormiu antes de nos conhecermos? – respondi, tentando manter o humor, mas a verdade é que estava destruída. Marlon pegou minha mala e me puxou para dentro. 

– Se você está aqui, com certeza é a Milena. Até quando vai abrir mão da sua felicidade por ela, Roberta?

Sentei no sofá e fiquei em silêncio. Marlon tinha razão. Sempre que algo dava errado na minha vida, eu corria para ele. Ele era meu porto seguro, meu confidente.

Depois de tomar um banho quente e comer uma pizza, nos acomodamos no sofá para assistir a um filme. Escolhemos "Guarda-Costas", mas não consegui me concentrar. As lágrimas rolavam pelo meu rosto a cada cena. Marlon desligou a televisão e se sentou ao meu lado. 

– Até quando você vai ficar sabotando a própria felicidade por causa da Milena? Já não bastava a história do Túlio, agora essa?

Contei tudo para ele sobre o envolvimento de Diego e Milena. Confessei que sabia que ele teve  alguns casos, mas que não queria saber os nomes. Marlon começou a rir. 

– A história se repete. Você sempre quer saber todos os detalhes, mas quando sabe, se magoa. Fiquei em silêncio, digerindo suas palavras.

– Milena sabia que o cara não se apaixonou por ela, mas insiste em dizer que o ama. É claro que sabia das condições da relação deles. Ela se envolveu sentimentalmente porque quis.

– Você está dizendo que a culpa é minha? – perguntei, indignada.

– Não estou dizendo isso. Mas você tem que entender que a relação de Diego e Milena era bem clara para os dois. Se ela não sabia jogar, não deveria ter tentado.

– Você está defendendo os homens, como sempre fazem!– exclamei.Marlon riu. 

– Estou apenas te mostrando a realidade. Você não quis saber os nomes, mas agora vem reclamar. Milena te contou parte que lhe interessava e mentiu sobre as condições da relação que tinham. Mas a verdade é que você não quer saber, está procurando um motivo para terminar com seu namorado.

Sabia que ele tinha razão, mas não queria admitir. Me sentia traída,mas na realidade não era. E a pior parte era que amo  Diego e também amo Milena, mesmo depois de tudo que descobri sobre os dois.

  – Vamos dormir. Pensa no que te falei, Betinha. Ele vai para quarto, enquanto fico ruminando toda a história no sofá.

Três dias depois…

A voz de Marlon ecoava no apartamento, clara e incisiva, como um raio cortando a escuridão. Ele estava certo, cada palavra era um golpe certeiro em minha alma.

– Vera ligou toda feliz, dizendo que finalmente se abriu para o amor novamente. E não é por qualquer um, é por um homem que você construiu uma relação incrível com os filhos dele. Diego não demonstrou interesse em ter nada sério com a Milena, mas com você, correu atrás, te pediu em namoro. De quem você acha que ele realmente gosta?

– Então, porque não disse o nome da Milena? Marlon está arrumando para trabalho.

–  Porque com certeza teve medo. As pessoas erram, Betinha. Ninguém é perfeito. 

Suas palavras me atingiram como um balde de água fria. Era a verdade nua e crua, e  não conseguia negar. Diego me amava, e eu o amava. Mas a sombra de Milena ainda pairava sobre nós.

– Sua mãe sempre está errada em relação às coisas que impõem para você, mas uma tenho que concordar com ela, tu não é mãe de Milena. Desde pequena, abre mão de tudo por ela, porque a pobrezinha perdeu os pais. Milena sempre foi mimada e egoísta, cresceu assim, com sua ajuda. Está disposta a abrir mão da sua felicidade novamente por ela, assim como fez com Túlio? A pergunta de Marlon me fez estremecer.

Túlio... Havia me apaixonado por ele, mas o medo de me machucar novamente me fez terminar o relacionamento para ficar com Milena, que no final não rolou.

– Túlio ficou muito chateado, a ponto de não olhar na sua cara, pois disse que você tomou a decisão por ele, e que nunca gostou de Milena, foi apenas uma aventura. Mas o que mais o magoou foi você ter aberto mão da relação que estavam construindo tão facilmente, como se seus sentimentos não fossem verdadeiros. Neguei com a cabeça. 

– Não é verdade. Me apaixonei por ele. Você sabe disso? Marlon me olhou e retrucou imediatamente.

– Mas teve medo, né? Medo de se machucar novamente. Sabia que ele tinha razão. O medo de ser abandonada, de sofrer, me paralisava.

– O problema não é Diego ter se envolvido com Milena antes de vocês começarem a namorar ou dele não falar o nome dela. O problema é o seu medo de ser feliz, Roberta. Vive se sabotando.

Suas palavras ecoaram em minha mente. Precisava enfrentar meus medos, superar o passado e construir um futuro feliz ao lado de Diego.

– Chega! Betinha. Sei que sua vida não foi bacana com os Garcia, mas eles não são sua responsabilidade, mas você sim. Minha prima querida, que amo de paixão. Vai ser feliz. Converse com Diego e com Milena, mas não abra mão de sua felicidade por bobagens desnecessárias. Estou indo trabalhar, te vejo mais tarde. Beijos.

Aquele dia, no apartamento de Marlon, comecei a entender que a felicidade não vinha sem luta. E que, muitas vezes, a maior batalha é contra nós mesmos. Marlon foi traído pela noiva com o melhor amigo. Ele sabia bem sobre o medo de se envolver novamente.

Dois dias depois...

Acordar em São José dos Campos, longe de casa, nunca havia sido tão difícil. Mas a conversa com Marlon me deu a força que precisava para seguir em frente. Levantei cedo, preparei um café para meu primo e deixei um bilhete agradecendo por tudo. Peguei um carro de aplicativo e me dirigi à rodoviária.

O ônibus começou a se mover, levando-me de volta para Bauru. Cinco horas de viagem me pareciam uma eternidade. A saudade das crianças e de Diego era imensa, mas eu sabia que precisava resolver algumas coisas antes de voltar para casa. Principalmente com Milena.

Ao chegar em Bauru, liguei meu celular. Tinha várias mensagens, de Vera, Mia, Verônica, Úrsula e, claro, de Diego. Minha caixa postal estava lotada. Ouvi todas as mensagens, mas a de Diego me tocou profundamente. Ele dizia que estava me esperando e que me amava. Entrei em um táxi e pedi para me levar até uma cafeteria perto da mansão dos Ribas. Era lá que eu iria encontrar Milena.
Durante o trajeto, liguei para ela. Minha voz tremia um pouco, mas tentei soar firme.

– Milena, preciso te encontrar. Temos que conversar.

Ela concordou em me encontrar na cafeteria. Aquele seria um dos momentos mais difíceis da minha vida. Sabia que a conversa não seria fácil, mas precisava. Iremos colocar um ponto final nessa história.

Meu amor de gizOnde histórias criam vida. Descubra agora