☔ Chuva de culpa

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Diego Ribas 

A discussão com Roberta ecoava em meus ouvidos. A cada palavra dela, um novo fardo era adicionado à minha consciência. Eu a havia magoado profundamente, e agora, sozinho em meu quarto, me dava conta da dimensão do meu erro.
Valentino, com sua perspicácia de sempre, havia colocado o dedo na ferida. 

- A Roberta tem razão, Diego. Essa família ficou esse tempo todo esperando uma oportunidade para se aproximar dos meninos. E você, no seu desejo de aproximá-los, acabou tomando uma decisão precipitada. Verônica concordou com cabeça. 

- Você deveria ter consultado a Roberta, afinal, ela é a mãe deles. 

Eu sabia que estavam certos. Tinha agido por impulso, guiado por uma necessidade de reparar um passado que não me pertencia. Mas, ao fazer isso, havia ferido a mulher que amava e as pessoas mais importantes da minha vida.

- Errei, admiti, a voz embargada. Mas preciso que entendam, não sinto nada por Brigitte. Verônica me olhou com compaixão. 

- Eu sei, Diego. Mas acho que a Roberta sente que você tem outros sentimentos por ela, mesmo que não sejam românticos. Uma espécie de empatia que não sente por ninguém mais.

Seus olhos encontraram os meus, e tive que admitir que ela tinha razão. Sentia uma conexão estranha com Brigitte, uma gratidão por ter me dado as crianças , mesmo sabendo do mal que havia feito.

As crianças desceram as escadas, acompanhadas pela tia Judite. Olhei em volta, procurando por Roberta, mas não a vi.

- A Roberta preferiu se despedir lá em cima, explicou a tia Judite. Conversou bastante com eles, orientou... Está um pouco triste.

Meu coração se apertou. Havia feito Roberta sofrer, e agora meus filhos também estavam sentindo a consequência de minhas ações. Os olhinhos deles me transmitam essa mensagem. Abracei as crianças com força, prometendo que sentiria muito a falta delas.

- Queria ficar com você e a mamãe, disse Caio, com a voz embargada. Mas a gente volta rapidinho, né?

Assenti, tentando conter as lágrimas. Aquele adeus me partiu o coração. Elie não olhou para mim, simplesmente. Quando a porta se fechou, um silêncio pesado se instalou na casa. Todos se olharam, sabendo que a noite de vinhos e carnes teria que esperar. Sozinho, subi as escadas e bati na porta do quarto de Roberta. Não houve resposta. Preferi deixá-la sozinha, precisando daquele tempo para se recuperar.

Acordar sozinho naquela manhã foi como um golpe no estômago. Dirigi-me ao quarto de Roberta e bati levemente na porta. Silêncio. A casa parecia vazia demais.

- Dona Abigail surgiu no corredor, carregando algumas coisas das crianças. Sorriu ao me ver.

- Bom dia, Diego. Sua namorada já saiu para trabalhar com dona Úrsula bem cedo. Iriam aproveitar que as crianças não estão em casa para resolver tudo sobre a instituição Benjamin e o prédio que irá abrigar o projeto.

- Ela ainda está chateada? perguntei, a voz baixa.

- Estava com o semblante um pouco triste, mas logo se animou com o trabalho.

Fiquei em silêncio por um tempo, digerindo as informações. Voltei para o quarto e me vesti. 
Coloquei uma calça jeans, uma camisa de linho, um relógio e um sapatênis. Desci para o escritório e pedi para a dona Abigail trazer um café.

Enquanto trabalhava, a imagem de Roberta me assombrava. Liguei para ela, mas a chamada foi direto para a caixa postal. A ansiedade crescia a cada minuto que passava. Já era quase hora do almoço e eu ainda não havia conseguido falar com ela. Resolvi ligar para a tia Judite para ter notícias das crianças. Ela atendeu a chamada em um lugar com muitas árvores.

- Estou no quintal da casa do tio avô de Caio e Elie.

Pedi para falar com as crianças. Elas apareceram na tela, perguntando onde estava a mãe.

- Esta trabalhando, meus amores. Respondi. Elie fez uma careta.

- Eu não gostei da família Hayer. Prefiro os Antunes e os Ribas. Caio concordou. 

- Eles são legais, mas os olhos deles são iguais aos da bruxa Brigitte.

Meu coração apertou. As crianças estavam sofrendo com essa situação. A tia Judite me interrompeu. 

- Acho que a Roberta pode ter razão sobre o que diz da família Hayer. Confuso, olhei para ela. Quando chegarmos em Bauru, daqui uns dias, vamos conversar com calma sobre isso.

A conversa com as crianças me deixou ainda mais preocupado. Desliguei a ligação e voltei a me concentrar no trabalho, mas minha mente estava longe dali. De repente, ouvi a voz de Roberta. Levantei-me rapidamente e fui ao seu encontro. Ela estava subindo a escada.

- Meu amor, podemos conversar! Ela para no meio da escada. Ela responde sem me olhar.

- Vou tomar um banho, desço para gente conversar, Diego! Ela continua o caminho. 

Olha para o relógio são 17:30 da tarde, vou até a cozinha vejo D. Abigail se organiza com demais colaboradoras para o preparo do jantar.


- Dona Abigail, todos estão dispensados até depois de amanhã, preciso somente de alguém na guarita, comunica Eduardo, por gentileza. A janta é por minha conta.

Vou até o escritório, ligo para minha secretária dizendo que não vai trabalhar, desmarcar todos os compromissos dele para os próximos três dias.

A cozinha era meu refúgio. Com o som suave da água corrente e o aroma irresistível do risoto de carne seca borbulhando na panela, tentava organizar meus pensamentos. A noite anterior havia sido tensa, mas sabia que precisava fazer as pazes com Roberta. Tinha preparado seu prato favorito, na esperança de que a comida pudesse ser um mediador entre nós.

Dispensei todos os funcionários e fiquei sozinho, imerso na preparação do jantar. Quando ouvi seus passos se aproximando, meu coração acelerou. Ela surgiu na porta, usando um robe kaftan africano que realçava sua beleza. Seus cabelos estavam soltos, emoldurado seu rosto.

- Você está linda! Murmurei, meu olhar fixo nela. Ela sorriu, tímida.

Comecei a conversar me desculpando novamente por não tê-la comunicado sobre a viagem das crianças.

- Eu sei que errei, Roberta. Tenho me acostumado a ter alguém para me ajudar a tomar decisões sobre os meninos, mas sei que essa decisão não está certo. A partir de agora, prometo que vou te consultar em tudo que envolva os nossos filhos.

Ela se sentou na banqueta da bancada e me olhou nos olhos.

- Me senti como se não pertencesse à vida de Caio e Elie. Mas, mesmo não sendo a mãe biológica deles, eu sou a mãe deles.

Aproximando-me dela, coloquei minhas mãos em seus ombros.


- Você é a mãe deles, Roberta. E sempre será. A beijei com ternura, sentindo seus lábios macios sob os meus.


- Você precisa aprender a confiar em mim, Diego. Eu amo Caio e Elie tanto quanto você. E amo você, meu chatolino! 

Abracei-a com força, sentindo uma paz que há muito não sentia.

- Eu também te amo, Roberta. Não imagino minha vida sem você.

Terminei de arrumar a mesa e servir o jantar. Roberta me observava com um sorriso nos lábios. Enquanto comíamos, conversamos sobre tudo e nada, reconstruindo a confiança que havia sido abalada.

Naquela noite, sob a luz suave das velas, percebi que o amor que sentíamos um pelo outro era mais forte que qualquer tempestade. E que, juntos, poderíamos superar qualquer obstáculo.

Meu amor de gizOnde histórias criam vida. Descubra agora