🖍️ Sonhos apagados

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Roberta Antunes

Quinze dias depois....

A escuridão me envolvia como um manto pesado. Os olhos fixos no teto, tentava encontrar algum conforto nas sombras, mas só encontrava angústia. Fazia quinze dias desde que havia recebido alta do hospital, e a cada dia que passava, a dor em meu peito se intensificava. A possibilidade de não ser mãe me consumia por dentro.



Diego dormia tranquilamente ao meu lado, respirando fundo e constante. A cena me causava uma estranha sensação de inveja. Como ele conseguia dormir tão serenamente, enquanto me afogava em meus próprios pensamentos?

💭 Assim como Hugo ele vai ter desprezar.

Eu não servia mais para ele. Essa ideia martelava em minha mente como um martelo. Uma mulher que não pode dar filhos a um homem como Diego não tinha valor. Eu o amava com todas as forças, mas a culpa me corroía por dentro.

💭 Ele e as crianças precisam de alguém completo.

Lembrava-me das conversas que tínhamos antes, eu e ele planejavamos mais filhos . Ele sempre dizia que me amava incondicionalmente, que um filho seria apenas a cereja do bolo. Mas agora, com o passar dos dias, começava a duvidar de suas palavras.



💭 Se ele conhecer uma mulher mais bonita e elegante que eu.


Será que ele ainda me amava da mesma forma? Ou será que já estava me vendo como um fardo? A culpa me consumia. Eu me sentia um fracasso. Uma mulher incapaz de proporcionar a felicidade que Diego tanto desejava. E quanto mais eu pensava nisso, mais meu coração se partia em pedaços.


Olhei para o rosto de Diego, adormecido. Seus traços eram tão serenos, tão bonitos. Mas naquele momento, ele parecia distante, como se estivesse em um mundo diferente do meu. Queria acordá-lo, contar tudo o que estava sentindo, mas as palavras se perdiam em minha garganta.


A verdade é que eu o desejava liberta-lo. Livre para encontrar uma mulher que pudesse dar a ele os filhos que ele tanto queria. Uma mulher que o fizesse feliz da forma como eu nunca mais seria capaz. Eu sabia que era egoísta, mas a dor era tão grande que eu não conseguia pensar em mais nada.

As lágrimas rolavam silenciosamente pelo meu rosto. A escuridão me envolvia cada vez mais, e eu me perdia em um mar de angústia e desespero.

...

O sol da manhã iluminava o pátio da escola, enquanto eu, Diego e as crianças nos despedíamos. Elie, com seus olhos brilhantes, me abraçou forte.

- Mamãe, que bom que você voltou a me trazer para a escola! Eu te amo muito! Seu sorriso me aqueceu por dentro, mas a felicidade era momentânea.


Uma nuvem cinza pairava sobre mim, obscurecendo qualquer raio de luz. Diego tentou segurar minha mão enquanto caminhávamos em direção ao carro, mas afastei-o gentilmente. Meus pensamentos se voltavam para a incerteza do futuro. A possibilidade de nunca ser mãe era uma ferida aberta em meu coração.


Enquanto aguardávamos na recepção, fiquei em silêncio. Quando surge diante de mim uma mulher elegante em vestido social e em solto alto. Era loira, olhos azuis e corpo esbelto. Era a verdadeira Barbie. Diego me apresenta com sua noiva. Ela se chama Ingrid Massaro e é uma promotora amiga dele.

💭 Mulher ideal para Diego.

Enquanto ele conversava com Ingrid, senti um aperto no peito. Ele não soltava minha mão. Eles faziam um casal perfeito. E eu? Nestes dias minha autoestima está um lixo. Olho para Ingrid e tenho certeza que ela é a mulher ideal para Diego.

- Roberta Antunes. A enfermeira chama meu nome. Entro com Diego.


A consulta com o otorrino foi rápida. A boa notícia era que, em dois meses, voltaria a ouvir normalmente. Mas a alegria de Diego parecia distante da minha realidade. Ele tenta me tocar, mas evito o carinho.


💭 Preciso convencê-lo que não sou a mulher ideal para ele.


Caminhamos pelo corredor da maternidade, onde o consultório do médico ginecologista que cuida do meu caso está atendendo, pois também é obstetra. Meus olhos estão observando todo movimento do lugar que emana fofura e tranquilidade. Diante dos meus olhos, um casal deixa a maternidade com a criança nos braços. Faço um ultrassom intra uterino antes de entrar na sala do médico. Tento não transmitir meu nervosismo.


A consulta com o ginecologista foi a sentença final. O ultrassom confirmou meus piores medos: meu útero havia sido danificado e não seria capaz de sustentar uma gravidez. As lágrimas rolaram pelo meu rosto, enquanto Diego tentava me confortar. Mas seus toques me causavam uma estranha sensação de repulsa. Eu o amava, mas no momento, a dor era tão grande que não conseguia retribuir o seu afeto.


- Roberta, a medicina está avançada. Existem outras possibilidades de gerar um filho. Uma delas é a barriga solitária, onde uma outra mulher vai gerar seu filho.

- Meu amor, está ouvindo... me levanto e deixo o consultório.


Caminhando pelo corredor da maternidade, observei os casais felizes, com seus bebês nos braços. A cada mulher grávida que encontrava, meu coração se apertava mais. Nunca experimentaria a sensação de carregar uma vida dentro de mim. A maternidade, um sonho tão almejado, agora parecia um castelo de areia, desmoronando diante dos meus olhos.


- Roberta, me espera. Paro no corredor. Calma, tudo vai ficar bem, minha querida!

Diego me abraçou forte, mas eu o afastei. Precisava estar sozinha, para poder chorar toda a dor que sentia. A vida me havia dado um golpe duro, e não sabia como me levantar.

O silêncio no carro era ensurdecedor. A cada curva, a cada semáforo, a dor em meu peito se intensificava. Diego quebrou o silêncio:


- Quer almoçar em um lugar novo que conheci? É excelente!

Neguei com a cabeça, sem tirar os olhos da janela.

- Ingrid é muito bonita, não é? Minha voz saiu fraca. Diego não respondeu.


- Vocês formariam um casal perfeito. Ele tencionou o rosto.

- Não, Roberta. Pode parar. Insisto na minha fala.


- Mas ela é linda, elegante.... Uma mulher que combina perfeitamente com você. O veículo passa pelo portão da mansão.

Diego, impassível, tirou o celular do bolso e me mostrou a tela. Uma mensagem:

"Diego Ribas, que mulher gostosa essa! Tirou a sorte grande".


- Ingrid é lésbica.

As palavras ecoaram em meus ouvidos, como um raio partindo o céu. Senti meu rosto queimar de vergonha. Saí do carro e caminhei em direção à mansão, ignorando os chamados de Diego. Encontrei Dona Abigail na escada.


- Tudo bem, Roberta?


Ignorei sua pergunta e subi para meu quarto. Me dirigi até o banheiro e a tranquei. Arranquei meu vestido, tentando tirar a dor que sentia. A água quente escorria pelo meu corpo, mas não conseguia me aquecer. As lágrimas rolavam sem parar, misturando-se com a água.



Por que eu? Por que tinha que passar por tudo isso? A dor era tão intensa que me sentia sufocando. O amor que sentia por Diego se transformava em um fardo insuportável.

Meu amor de gizOnde histórias criam vida. Descubra agora