🦋 O encontro

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Osmar Ribas

O dia estava terminando, a luz do entardecer entrava pela janela da sala de estar de Lurdes era tênue e acinzentada, assim como meus sentimentos ao ouvir sua história. Sentada em sua poltrona, com as mãos trêmulas agarrando um envelope amarelado, me contou sobre o pesadelo que a consumia. Um empréstimo, contraído sem seu consentimento, estava sendo descontado de sua já mísera aposentadoria.

Lurdes, uma mulher frágil, com o rosto marcado por rugas e cabelos brancos, vivia com um salário mínimo. Cada centavo era calculado, cada gasto era uma batalha. Esse empréstimo indevido a jogara em um abismo financeiro, comprometendo sua sobrevivência. A indignação me consumia. Como alguém podia ser tão cruel?

Úrsula, minha fiel escudeira e esposa, me observava com os olhos cheios de compaixão. Juntos, iniciamos a árdua tarefa de reunir provas. Documentos, extratos bancários, tudo seria minuciosamente analisado para construir um caso sólido. Ao deixar a casa de Lurdes, a sensação de impotência se misturava com a determinação de lutar por seus direitos.

– Temos que agir rápido, Osmar – Úrsula disse, enquanto entrávamos no carro. – Essa senhora não pode continuar sofrendo assim.

Concordando com a cabeça, dirigi em direção ao nosso restaurante italiano favorito. Aquele lugar, com sua atmosfera aconchegante e deliciosa comida, era o nosso refúgio. Enquanto saboreamos um nhoque caseiro e um bom vinho, conversamos sobre o caso de Lurdes.

– É um absurdo o que fizeram com ela – desabafei, tomando um gole de vinho. – Mas podemos mudar essa história.

Úrsula me olhou com um sorriso esperançoso.

– Tenho certeza que sim. Vamos mostrar a eles que não podem brincar com a vida das pessoas assim.

Com o coração cheio de esperança e a mente focados em nossa missão, deixamos nos envolver pelo clima de romance. A noite já caía, mas a luz da lua iluminava nosso mesa. A luta de Lurdes se tornaria a nossa luta, e faríamos de tudo para garantir que a justiça fosse feita.

O nhoque derretia na boca, o vinho tinto adocicado meu paladar, mas a paz que costumava sentir nesse lugar se esvaiu em um piscar de olhos. Úrsula, com um sorriso gentil, me observava enquanto conversávamos sobre o caso de dona Lurdes e seu retorno para tribunal. A vida, com seus altos e baixos, nos unia ainda mais.

Mas a harmonia foi interrompida por uma voz familiar. Levantei os olhos e lá estava ela, Letícia Carvalho, minha ex-namorada, com um sorriso falso nos lábios. A presença dela era uma sombra pairando sobre nossa noite.

– Osmar! Que surpresa encontrá-los aqui! – exclamou ela, sentando-se à mesa sem convite.
Úrsula, visivelmente incomodada, desviou o olhar. Eu sabia que a presença de Letícia a deixava desconfortável.

– Letícia, que coincidência... – respondi, tentando manter a calma. – Mas, a verdade é que não temos nada para conversar.

– Ah, mas eu tenho muito para te falar – insistiu ela, ignorando meu pedido.

Úrsula se levantou abruptamente, demonstrando seu descontentamento.

– Osmar, vou para casa – disse ela, com a voz firme.

– Não, Úrsula, por favor, você fica– pedi, segurando seu braço. – É ela quem tem que ir embora. Estamos em um jantar a dois.

Letícia, irritada com minha atitude, começou a elevar o tom de voz.

– Você não manda em mim, Osmar! – gritou ela. – E você, sua piranha, acha que pode me tirar de perto dele?

Acusações absurdas saíam de sua boca, e a cada palavra, minha raiva crescia.

Meu amor de gizOnde histórias criam vida. Descubra agora