🖍️ rabiscando o futuro

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Roberta Antunes

A insônia me consumia. Deitada na cama, observava o teto branco, perdido em pensamentos. Como havia me transformado nessa mulher triste e solitária? Lembro-me dos tempos em que a vida era mais leve, os sonhos mais coloridos. Agora, tudo parecia cinza. Uma batida leve na porta me tirou dos meus devaneios.


💭 Como dizia minha avó, estou no fundo do poço, atolada na merda, somente uma solução, começar escalar.


- Entra, respondi, minha voz saindo rouca. Era Diego, com uma bandeja de comida.


- Preparei seu almoço, disse ele, com um sorriso gentil.


- Obrigada, Diego. Mas acho que vou descer e comer com todos, respondi, tentando soar mais animada do que me sentia.


- Não, meu amor. Quero passar um tempo com você, insistiu ele, sentando-se ao meu lado na cama.


Começamos a comer em silêncio, o clima tenso pairava no ar. Sabia que queria falar sobre a conversa que teve com Ruan. Sabia que tinha razão. Havia ouvido tudo. A imagem de um pássaro ferido, incapaz de voar, me atingiu em cheio.

- Você ouviu, não foi?, perguntou, quebrando o silêncio. Assenti com a cabeça, sem conseguir falar nada.

- Para mim também é difícil ver você assim, Roberta. Você é a mulher que eu amo, não consigo te ver sofrendo dessa forma.

Permaneci em silêncio, digerindo suas palavras. Depois de alguns minutos, voltei para a cama e me cobri até a cabeça. Diego me observou por um tempo, antes de sair do quarto.


O clima entre nós estava cada vez mais frio e distante. Senti-me sufocada, precisava de ar puro, de um tempo para pensar. Peguei meu celular e vi uma mensagem do meu pai. Ele me pediu para encontrá-lo na igreja do meu irmão em Bauru.

Sem pensar duas vezes, me arrumei e saí de casa sem avisar Diego. Entrei em um ônibus e me perdi nos meus pensamentos. A paisagem lá fora era um borrão, mas não conseguia tirar a imagem do meu pai da cabeça. Talvez ele pudesse me ajudar a encontrar um caminho para sair dessa tristeza profunda.

Ao chegar, encontrei meu pai e dona Teresa, uma amiga da minha falecida avó. A igreja era um lugar tranquilo e acolhedor, e a presença de dona Teresa me trouxe uma sensação de paz.

Dona Teresa

Sentou sentada com Roberta de frente o altar da igreja que faço minhas pregações para mulheres da minha congregação. Roberta é uma neta para mim, ela sempre foi uma criança alegre e encantadora. Os desafios que a vida a impõe às vezes a deixa destruída, mas sua avó Solange sempre dizia quando falava de Roberta:

“Betinha, e forte! Ela aguenta o tranco. Vera e Douglas não suportariam o que ela aguenta.”

- Roberta, minha querida, por que essa tristeza toda? O que se passa no seu coração? Chorando,Roberta responde.

- Dona Teresa, eu... eu não posso mais ser mãe. Rindo levemente

- Ah, minha menina, é por isso toda essa tristeza? Isso não é motivo para parar de viver, viu?

Roberta, em silêncio, chorando mais.

- Sabe, Roberta, a sua avó Solange... ela não era mãe biológica do seu pai e do seu tio Bateco.
Surpresa, ela me olha.

- Como assim, dona Teresa?

- Solange não podia ter filhos, mas os gerou no coração. Ela os amou como se fossem seus próprios. E eles a amavam incondicionalmente. Seu avô ficou viúvo muito cedo, com duas crianças.

Olhos dela não paravam de cair lágrimas. Era uma dor invisível e compreensível, somente ela sabia o quanto doía, mas ela precisava sair dessa condição. Ela me respondeu.

-;A vida me impõe os piores testes… interrompe


- É, a vida gosta de nos testar, não é mesmo? Mas Deus escolhe as coisas mais vis e desprezíveis desse mundo para confundir os que se acham, para que ninguém se glorie. Ele escolheu você, Betinha.


- Eu não mereço o amor do Diego e das crianças.

Agarrei os ombros de Roberta e sacudindo-a levemente, gritei:

- Ninguém merece, minha filha! Mas Deus te escolheu para viver essa história. Para te fortalecer.

- Minha cabeça está cheia de pensamentos ruins, de auto piedade…


- Você precisa esvaziar tudo isso, Roberta. Comece a pensar nos motivos que Deus te escolheu. Lembra das histórias da Bíblia? Os milagres aconteciam quando as pessoas acreditavam em si mesmas e em Deus.

- Eu me sinto tão pequena…

- Pare de se diminuir diante dos homens, Roberta. Se coloque diante de Deus. Você é forte, você é capaz de superar tudo isso. Ela me abraçou.

- Obrigada, dona Teresa. Eu te amo muito.


- Eu também te amo, minha filha. Você sempre foi forte, suportou tantas dificuldades na vida. Essa é apenas mais uma provação. E você vai superar isso. Você vai ser mãe, sim. Seja do seu próprio ventre ou do coração.


- Obrigada por tudo, dona Teresa.

- Agora levante essa cabeça e siga em frente. Você tem uma família que te ama e um futuro pela frente.


- Obrigada.

Ela ficou sentada com o pai, enquanto fui para o altar. Orei, mas Roberta precisa fazer isso por ela mesma.

Meu amor de gizOnde histórias criam vida. Descubra agora