50

1.2K 185 70
                                    

Maratona 1/3
comentem e votem bastante.

Feliz aniversário! PatriciaDeOliveiraTi 🥳🥳


Isabella

Abaixei meu shorts e continuei subindo o morro. Estava indo para a minha casa. Faz uma semana mais ou menos que o Branco me entregou a chave da casa e eu já estava morando sozinha lá. Confesso que não estava acostumada a ficar na minha própria companhia 24 por 48, então sempre que eu podia estava saindo ou até mesmo chamando a Talita.

Hoje aproveitei o dia e fui pra pista, me encontrei com a minha vó e conversei tudo que tinha pra conversar. Peguei um dos aluguéis que estava com ela, o restante estou recebendo por pix.

Olhei pro outro lado da rua vendo o Branco sentado no bar com vários homens, inclusive um que vive parado na minha porta. Ele me olhou e cutucou seu patrão que na mesma hora levantou da mesa. Eu sabia que ele viria atrás de mim, mas não parei, continuei subindo como se não tivesse nem visto. De manhã quando sair não tinha ninguém na minha porta, então não avisei. Só desci e pronto.

Branco: Isabella —me chamou e eu olhei pra trás — quero falar contigo.

Isabella: pode falar. —me virei pra ele e cruzei os braços esperando o mesmo se aproximar.

Branco: onde você tava? Viram tu descendo a favela de manhã, ficou o dia fora. Qual foi a ordem pra tu? Falei que não era pra sair.

Isabella: eu não vou viver a vida toda presa aqui por sua causa. Eu fui ver a minha vó.

Branco: sua vó ainda permanece na favela do seu tio, não quero que você vá encontrar com ela. Independente de tudo.

Isabella: isso você não tem direito, Michael.

Branco: tenta descer de novo sem estar acompanhada, só tenta. Vou ter pena nenhuma de você, já estou sendo bastante piedoso.

Isabella: não vem pagar de bom moço... não fode —falei baixo a última parte e ele me olhou— falou o que tinha que falar? Da licença agora.

Fui subir e senti sua mão segurar meu braço e ele puxou com força. Respirei fundo e fiz força pra soltar a mão dele de mim.

Branco: que horas a consulta amanhã?

Isabella: 09:30.

Branco: vou te buscar e a gente vai.

Não disse nada e dei as costas para ele. Depois do último baile e da conversa que tivemos, eu e ele praticamente não nos falamos e nem tocamos no assunto. Porém essa semana eu vi com meus próprios olhos ele se beijando com uma mulher na rua, senti uma coisa absurda dentro de mim.

Foi uma mistura de raiva, com ciúmes, chateação. Eu tô tão sensível ultimamente que tudo me pego chorando. Eu não falei nada com ele que tinha visto, mas venho tratando na maior grosseria e evitando mais que antes.

Minha gravidez ainda é "sigilo", na verdade, eu não tenho a quem contar, e o Branco com certeza só iria falar quando tivesse certeza que era dele. Mas todo mundo comenta e acha estranho o fato de eu ter começado morar aqui do nada e andar com dois seguranças do Branco atrás de mim pra cima e pra baixo.

[...]

Acordei cedinho hoje pra dar tempo de eu fazer tudo que queria, comecei a limpar a casa, pra dar pelo menos um jeito. Só que não aguentei, comecei a passar mal pelo cheiro dos produtos, abri a porta de casa e sentei pra respirar um pouco do ar.

Cadu: tá suave aí? —me olhou com preocupação e eu olhei pra ele que estava com um fuzil na mão enorme.

Isabella: eu tô bem. E você, tá calor pra você ficar igual estátua aí fora no sol quente. Quer água?

Cadu: eu aceito, sem querer ser mal educado.

Isabella: entra aí, vou pegar.

Cadu: não pô, vou esperar aqui mesmo.

Isabella: por causa de que? Eu tô te chamando, a casa é minha. Pode entrar, vou pegar um copo de água e você aproveita e toma café comigo. Deve tá na maior fome, tá aí desde madrugada.

Cadu: pior que to. Peguei plantão desde 01 hora.

Eu me levantei e entrei dentro de casa, só pedi pra ele limpar os pés antes e deixar a arma na porta. Peguei um copo de água gelado e dei pra ele. Tinha comprado pão de manhã, então fiz um misto quente pra mim e outro pra ele. Ele sentou na mesa junto comigo e começamos a comer.

Eu estava tão carente de tudo que comecei a puxar papo com o garoto, e ele só recuando, parecia até estar com medo de mim.

Isabella: você parece ser novinho, não tem cara de muito mais velho. Estuda ainda?

Cadu: não... terminei tem dois anos. Tenho 20 anos. Sou bandido, mas sou formado pelo menos.

Isabella: poderia ter ido procurar um trabalho então né? Tem estudo.

Cadu: sou negão, favelado e pobre. Tentei ir atrás de emprego, mas depois cansei. Pessoal só desmerecia, fora que o salário era nada, ganho bem sendo segurança. Da pra sustentar minha família numa boa, coisa que trabalhando não daria. —disse e depois deu uma mordida no pão.

Branco: qual foi Cadu, tá sem serviço? —ouvi a voz dele e me virei vendo ele dentro de casa já.

Cadu: não patrão, só fiz uma pausa.

Branco: teu plantão acaba daqui uma hora, que esperasse.

Isabella: fez uma pausa nada —olhei pra ele— trabalho dele é fazer minha segurança, e me sinto melhor com ele aqui dentro de casa do que na porta. Ele tá fazendo o serviço dele. —levantei da mesa— você pode continuar comendo normal e você, Branco, espera que vou me arrumar.

Subi pro meu quarto, procurei uma saia longa e um cropped preto. Fui correndo jogar uma água no corpo, ainda estava cedo, mas precisava chegar lá um pouco mais cedo.

Meu pré natal que eu estava fazendo em outro lugar, tive que mudar. Agora tô fazendo em um posto próximo da Penha, apensar do SUS nem sempre ser bom, a maternidade na maioria dos casos era boa

Quando desci não vi mais o Cadu, somente o Branco mexendo no celular no sofá. Chamei sua atenção e ele levantou pra gente sair. Assim que chegamos eu entreguei meu documento e sentei do lado dele.

Branco: eu botei os caras lá pra vigiar você e não pra você convidar pra dentro da sua casa. —falou e e olhei pra ele que ainda olhava pra Tv.

Isabella: eu só acho que o que eu fazer da minha vida e dentro da minha casa não desrespeita a você. Até porque você deixou claro da última vez, que nosso único compromisso é o nosso filho. E você anda vivendo sua vida tranquilamente, então eu vou viver a minha também e coloco quem quiser dentro da minha casa.

Branco: quem paga lá sou eu, não é assim. —debochou.

Isabella: você paga lá porque você quis, eu disse que pagaria. Se você acha que por isso vou viver da forma que você quer, pode deixar que eu te devolvo tudo que pagou.

Eu tentei fica muito numa boa com ele, só que não vou aceitar ser tratada de qualquer forma por ele a vida toda.

Infelizmente já não vou poder viver minha vida igual ele, tô grávida e não me sinto confortável para isso.

No alto do caos Onde histórias criam vida. Descubra agora