Isabella
Já tinha me arrependido amargamente de ter vindo, consegui aproveitar bem até um certo ponto, depois o cansaço começou a bater também, fora a fome que eu estava. Me despedi da Talita com dois beijos no rosto e fui até o Branco, parei próximo a ele e o Kaká que estava ao seu lado que comentou algo com ele e fez com que me olhasse. Chamei com o dedo e ele veio até mim.
Isabella: pede pra alguém me deixar na sua casa, por favor.
Branco: já quer ir embora?
Isabella: sim. Tô cansada, com fome, enjoada. Tudo junto. —ri sem ânimo e ele assentiu.
Branco: te levo.
Nessa hora até me animei, mas não deixei transparecer. Eu desci do camarote atrás dele e fui até a moto que eu bem conhecia. Subi nela com cuidado e me segurei na cintura dele. Vi seu olhar pra mim através do retrovisor, olhei pro lado pra desviar.
Quando a gente chegou na casa dele, eu fui logo tirando o salto e vi ele entrando pro banheiro e fechando a porta. Eu estava a meses sem transar, sem um contato sexual se quer. Deitei no sofá de bruços na pura maldade, ouvi a descarga do banheiro e a porta abrindo.
Branco: ei, tá suave aí? —tirei a cabeça do sofá e ergui olhando pra ele que estava olhando pro meu corpo naquele momento. Quando percebeu que eu vi, ele olhou pro meu rosto.
Isabella: eu tô com muita fome. Mas tô enjoada, não consigo comer qualquer coisa assim.
Branco: e tu quer o que? Tô saindo, mas peço pra buscarem.
Isabella: fica aqui comigo, por favor. —senti que pela primeira vez estava com carência e saudade de todo afeto que tínhamos— pede pra alguém buscar uma pizza, não sei.
Ele ficou quieto na dele, até achei que ia sair mesmo, mas não. Tirou o tênis, a camisa e sentou no sofá. Ouvi ele falar no rádio com alguém pedindo pra buscar a pizza e eu sorri de canto. Senti uma almofada ser jogada na minha bunda e olhei pra trás vendo ele me encarar.
Isabella: que é?
Branco: você acha que eu tenho quantos anos? Quando tu nasceu eu já tava vivendo a vida. Sou macaco velho, Isabella. Tô ficando aqui contigo não é porque to caindo no teu papo, é só por preocupação em relação a criança.
Isabella: eu não falei nada. —me levantei sentando no sofá— sei que a gente tem muito a conversar, mas você não quer. Só que uma hora vai acontecer, até porque infelizmente ou felizmente, você vai tem que conviver comigo pelo resto da sua vida. Não precisamos ter nada, mas uma boa convivência pelo bebê. —passei a língua nos lábios— quando tu quiser saber a minha versão, me procura.
Levantei do sofá e abaixei para pegar meu salto. Subi para o quarto dele aonde eu estava ficando enquanto ele dormia na sala. Entrei no banheiro e tomei meu banho, aproveitei e tirei a maquiagem também.
Quando sai do quarto tomei um susto com ele sentado na cama mexendo no celular.
Isabella: quer o que?
Branco: ouvir a sua versão. Senta aí, fala.
Respirei fundo e fui até a cama, sentei na outra ponta e olhou pro seu olho que me olhava com atenção.
Isabella: te conhecer foi ao acaso, nunca vim aqui por interesse. Talita me chamou no aniversário dela e eu vim somente pra curtir, a intenção era nem voltar aqui. Mas te conheci e a gente ficou, e depois começamos a conversar e ficar cada vez mais próximos. Eu me entreguei de verdade pra você, tudo que a gente viveu foi verdadeiro. Eu sabia que uma hora você iria descobrir ou eu ia tem que contar de onde era, mas não queria que fosse dessa maneira. Eu não sou burra, nasci na favela, sei o que acontece com alemão ou quem vai pra área rival.
Branco: e da mesma forma brotou aqui. —concordei.
Isabella: de certa forma eu gostei de estar contigo, tanto que até esquecia do perigo que estava correndo. Quando você descobriu tudo, eu fiquei morrendo de medo e nesse meio tempo longe daqui e de você, senti sua falta. —confessei em voz alta pra ele que não disse uma palavra— Jhony me cercou quando descobriu, foi lá em casa e me bateu. Sorte a minha que a minha vó chegou. Mas eu jamais falei nada sobre você pra ele, porque pra você saber, eu nem tenho proximidade com ele, nunca me dei bem.
Branco: quando me falaram e eu vi com meus próprios olhos foto sua na Vj, eu só queria ir atrás de você pra te matar. Foi a única parada que passou na cabeça, mas depois quando te vi saindo da clínica um tempo depois, não consegui ir até você e fazer o que era certo. Te dei a maior condição, e tu vacilou. Isso você nunca mais vai ter de volta, a minha confiança. Se você está viva hoje ainda é pelo bebê e a única razão pra mim estar olhando pra sua cara.
Meus olhos encheram de lágrimas, mas eu me segurei para não chorar na frente dele. Porque enquanto eu demonstrava meu sentimento, ele colocava toda sua raiva para fora.
Isabella: a gente não precisa ser amigos ou voltar a se relacionar, só peço que seja menos ríspido comigo.
Branco: sou assim com todo mundo, não é exclusividade sua... a sua pizza está lá embaixo.
Isabella: tá bom, valeu. —ele se levantou da cama e foi saindo, antes dele estar fora do quarto eu falei chamando sua atenção. Ele continuou parado de costas na porta. — eu gostei de verdade de você e ainda gosto.
Sem nem me responder, ele saiu do quarto me deixando sozinha.
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No alto do caos
Fanfiction"No Alto do Caos" é uma história sobre uma jovem de 19 anos que, em meio à realidade da favela, acaba se apaixonando pelo chefe do tráfico local. A trama acompanha os dilemas e perigos de viver um amor proibido, enquanto a jovem tenta equilibrar sua...