Carlos Sainz- After we broke up

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Tocar Música da Midia!

Carlos POV

O som abafado do motor parou assim que desliguei o carro. O sol de outono pairava baixo no horizonte, tingindo o mundo com tons de dourado e vermelho. Era um fim de tarde lindíssimo, mas nada disso parecia importar. Desde que S/N saiu da minha vida, todas as cores pareciam desbotadas, como se a intensidade do mundo tivesse sido roubada.

Reclinei-me no banco do carro, deixando os olhos fixarem-se no vazio. Este era o lugar onde tudo começou. A primeira vez que a vi, estava exatamente aqui, encostada ao muro do paddock, com aquele sorriso que atravessava qualquer muralha que eu tivesse construído. Agora, era apenas eu. Apenas o som do vento que fazia as folhas dançarem e um silêncio ensurdecedor dentro de mim.

A verdade é que sempre fui bom em esconder os meus sentimentos. Nas corridas, aprendemos a usar a pressão como uma arma, a transformar cada fração de dor em algo que nos impulsiona para a frente. Mas como é que se acelera quando a dor está no centro de tudo o que somos? Cada curva, cada reta parecia um lembrete cruel daquilo que perdi. Há pessoas que dizem que o tempo cura tudo, mas eu tinha as minhas dúvidas.

- Carlos, estás bem? - a voz de um dos mecânicos soou ao longe, trazendo-me de volta à realidade.

Acenei, fingindo um sorriso. Era mais fácil assim. Fingir que tudo estava bem. Fingir que a vida continuava como sempre. Mas não continuava. Cada manhã sem S/N era uma luta, uma batalha silenciosa para sair da cama, para vestir o fato, para colocar o capacete e fazer o que eu sabia fazer melhor.

Lembrei-me do som da sua gargalhada, daquela maneira como ela enrolava uma madeixa de cabelo nos dedos enquanto me provocava. Era como se o mundo inteiro desaparecesse quando ela estava por perto. Agora, o mundo estava demasiado presente. Pesado. Vazio.

Decidi sair do carro. O ar fresco parecia uma boa ideia, mesmo que apenas por alguns minutos. Caminhei pelo paddock vazio, os meus passos ecoando contra as paredes metálicas. Era estranho ver este lugar tão quieto. Normalmente, estava cheio de vida, de energia, de vozes que se sobrepunham. Agora, era apenas eu e os meus pensamentos.

Encontrei-me junto ao muro onde a vi pela primeira vez. Toquei na superfície fria com a ponta dos dedos, como se isso pudesse trazer de volta alguma coisa. Qualquer coisa. Mas não havia milagres para quem tinha o coração partido. Apenas memórias. E saudades.

"Talvez devesses escrever sobre isto", disse-me ela uma vez. "Colocar o que sentes em palavras. Ajuda." Nunca fui bom com palavras. Sempre preferi o som dos motores, a adrenalina da velocidade, o foco absoluto em cada milésimo de segundo. Mas agora, enquanto me sentava no banco junto à parede, parecia que só me restavam palavras. E nenhuma delas fazia sentido.

Peguei no telemóvel e, sem pensar muito, abri a galeria. As fotos dela ainda estavam ali. Não consegui apagá-las. Havia algo de cruel em apagar uma memória, como se isso fizesse com que ela nunca tivesse existido. Havia uma foto em particular - ela com o meu boné da Ferrari, o sol a bater-lhe no rosto, os olhos cheios de luz. Era assim que eu queria lembrá-la. Feliz. Livre.

Mas essa liberdade também era a minha prisão. Porque, apesar de tudo, não a conseguia soltar. Cada canto deste mundo em que vivo parecia ter a sua marca. O cheiro do combustível misturado com o aroma leve do seu perfume. O som dos motores abafado pelo som da sua voz, a gritar por mim da tribuna. A vida tornou-se uma coleção de ecos, e eu estava preso neles.

Voltei para o carro e sentei-me ao volante, como se isso pudesse dar-me algum conforto. Fechei os olhos e imaginei o que ela diria se estivesse aqui.

"Segue em frente, Carlos," talvez fosse isso. "Tens o mundo aos teus pés. Por que é que ainda pensas em mim?"

Mas como se segue em frente quando tudo o que desejamos é voltar para trás? Quando cada curva da estrada parece apontar na direção errada? Era uma questão para a qual eu ainda não tinha resposta.

Decidi dar uma volta pela cidade. Conduzir sempre foi a minha forma de pensar, de encontrar clareza no caos. As ruas estavam calmas, as luzes da cidade começavam a acender-se. A certa altura, passei por um café que costumávamos frequentar. Os nossos lugares junto à janela ainda estavam ali, como se nos aguardassem. Continuei a conduzir. Não era altura para nostalgias.

O problema é que a saudade não respeita o tempo. Ela invade, consome, faz-nos prisioneiros de momentos que não voltam mais. E eu era um prisioneiro, ainda que ninguém conseguisse perceber. Era fácil esconder-me atrás de um sorriso, de uma entrevista, de um pódio. Mas aqui, sozinho, as muralhas caíam.

Quando finalmente regressei a casa, a noite já tinha caído. O silêncio era absoluto. Deitei-me no sofá e fechei os olhos, tentando lembrar-me de algo que me trouxesse paz. Mas tudo o que veio foram as palavras dela, ditas numa noite em que o futuro ainda parecia brilhante.

"A vida não é uma linha reta, Carlos. Há curvas, desvios, e por vezes até becos sem saída. Mas isso é o que a torna interessante."

Na altura, não dei muito valor àquelas palavras. Agora, eram tudo o que tinha. Fechei os olhos e deixei-me levar. Talvez, no meio das curvas da minha própria vida, encontrasse um caminho que me levasse de volta para mim mesmo.

Ou talvez não.

Mas por agora, restava-me apenas o vazio. E o som distante de um motor que insistia em continuar a girar.

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