Atirei mais uma faca no alvo, a quinquagésima faca que eu já atirava naquele dia, eu treinava arduamente, apenas alimentando meu ódio, Axel dormia na mesma poltrona em que Missy havia descansado mais cedo, o resto do grupo já havia ido embora, para o hotel abandonado que a garota disse que usava para passar a noite.
Já havíamos planejado o ataque, seria a destruição completa, embora eu não quisesse machucar ninguém além de Armstrong, eu atirava as facas no alvo como se ele estivesse lá, eu quase podia vê-lo no lugar do alvo, meu temperamento está mais forte, embora seja estranho ser uma maníaca, eu sentia uma força dentro de mim, uma força que nunca senti antes, o soro de Era só contribuía para essa sensação, era como se eu finalmente encontrasse todas as forças que sempre precisei para enfrentar tudo isso, a guerra, a morbo, tudo.
- Lydia?- Axel disse sonolento, parecia realmente cansado, como se precisasse mesmo dormir.
- O que foi?- Perguntei.
- Você não se cansa de treinar?- Ele ironizou, eu dei risada, mesmo observando a situação dele.
- Na verdade eu acho que maníacos não são tão vulneráveis ao cansaço como os humanos.- Brinquei.
- Não quer dizer que você seja de ferro.- Ele disse ainda em tom irônico.
- Sou quase isso.- Respondi baixando o olhar e largando a faca que segurava em cima de uma pequena mesa.
- Acho que a gente precisa descansar.
- Possivelmente, mas eu não estou com um pingo de sono.
- Por que você é mais forte que eu.- Ele disse sorrindo.
- Eu não sou mais forte do que você, você está criando essa ilusão.
- Nunca diria nada que não fosse verdade, pelo menos não para você.
- Axel...você precisa mesmo descansar.
- Tá, o hotel é meio longe, não?
- Não pode ficar aqui, está com frio, aqui é frio, lá deve ter algum lençol quente...levo você até lá.
- Ok.
Ele se levantou, eu odiava ver ele tão cansado, ele é uma segurança da qual preciso, meu maior medo é perder ele.
Chegamos na porta do hotel abandonado, ele já ia entrar.
- Espera, Axel.- Ele se virou e eu beijei ele, ele sorriu.
- Boa noite para você também Lydia.- Eu sorri e ele entrou no hotel, assim que ele entrou eu caminhei de volta para o antigo galpão, eu voltei a treinar, dessa vez com armas, eu atirava consecutivamente nos alvos, a raiva tomava conta de mim, eu queria guardar essa raiva, eu sabia que precisaria dela em breve...
***
- Lydia, aconteça o que acontecer, eu continuarei amando você e você continuará sendo a minha filha.- Minha mãe me disse, eu a abraçei.
- Sei disso.
Minha mãe escolheu ficar com Missy e Rid, apesar das habilidades dos dois, a invasão à Hemmingway seria muito arriscada, o resto de nós iria para lutar, sobreviver ou morrer.
Apenas meu pai e Axel realmente me acompanhariam.
- E eu amo as duas.- Meu pai disse nos abraçando, ficamos lá por um bom tempo, dava a impressão de que nunca mais nos veríamos, eu tinha medo de que isso realmente viesse a acontecer.
- Tomem cuidado por favor.- Minha mãe disse.
- Eu sempre tomo.- Meu pai disse, ela sorriu e nós saímos da sala, Axel me esperava do lado de fora, assim como todos os outros integrantes do grupo.
- Nós vamos ou não?- Isle perguntou impaciente.
- Temos que esperar Missy voltar.- Respondi.
- Ela disse para onde ia?- Mikuno perguntou aflita.
- Não.
- O que?- Kai perguntou.
- Estamos ferrados.- Irisha ironizou.
- Tenham paciência, tenho motivos para confiar nela.- Eu disse.
- Mas e se estiver errada?- Sarah perguntou, eu sabia o quanto ela sentia medo, mas ela tentava disfarçar aquele medo com a grosseria e a frieza, eu percebi mas ignorei.
- Então podem me culpar por tudo.- Eu disse com uma frieza clara em meu tom de voz, peguei uma pistola e coloquei balas nela, peguei dois canivetes e escondi nos bolsos de meu casaco,
- Sarah deixa de ser idiota.- Jared disse, parecia estar nervoso.
- Você deveria calar a boca Jad.- Ela retrucou furiosa com a reação dele.
- É, cala a boca babaca de merda.- Justine brincou enquanto mascava um chiclete.
- Tine, ninguém falou com você.- Jared respondeu com raiva.
- Ai, calma.- Ela disse rindo, todos estávamos preparados, devidamente armados.
- Ei Lydia.- Nick disse, ele sorria irônicamente.
- Que foi?- Perguntei.
- Tenta não morrer tá bom? Mal te conheço mas pelo que ouço falar você é gente boa.- Ele disse ainda com o mesmo sorriso no rosto.
- Valeu, mas não se preocupe, eu não vou morrer, a gente vai dar conta.
- Tomara, me cansei dessa idiotice de Armstrong.- O sorriso dele desapareceu e ele revirou os olhos.
- Todos estão cansados, por isso vamos pôr um basta nisso.
- Admiro sua coragem, você é mesmo a princesa que os ingleses merecem...não acha que seria uma boa presidente para a Nova América?
- Isso não faz parte dos meus objetivos, eu só quero libertar as pessoas que sofrem neste lugar.
- Além de corajosa é humilde, incrível, sua personalidade é ótima, sério tenho certeza de que ficaria radiante sorrindo.
Eu começei a rir.
- Você deve gostar de tirar fotos, não?
- Sim, como adivinhou?- Ele me perguntou curioso.
- Fácil, fotógrafos gostam que pessoas loucas como eu sorriam.- Respondi.
- Não acho que você seja louca, se fosse não teria nos trazido para cá.
- E acha que foi uma boa idéia?- Perguntei sarcasticamente.
- Possivelmente, só saberemos se tentarmos.- Ele respondeu.
- Tem razão.- Escutei um barulho e vi Patrick chegando.
- Nick, lembra da nave que tínhamos escondida em Nova York?- Ele perguntou.
- Sim.- Nick respondeu sorrindo surpreso.
- Acompanhem-me.- O grupo inteiro foi atrás dele, tinha uma nave, consideravelmente grande do lado de fora.
- Agradeçam a mim.- Missy disse descendo de um carro.
- Você só tem doze anos e já consegue dirigir um carro?- Justine perguntou.
- Já que a Nova América se tornou um continente sem leis, para que continuar seguindo elas?- Ela perguntou sarcasticamente e logo depois deu risada, ela tem um grande senso de humor.- Ah e eu trouxe uma coisinha para vocês.- Ela abriu o porta malas e nos mostrou várias bombas.- Usem e abusem.- Ela brincou enquanto pegávamos as bombas e guardávamos, eu começei a rir do que ela dizia.
- Essa garotinha é bem foda.- Justine disse.
- Valeu.- Ela respondeu ainda rindo.
- Tenho que concordar Tine.- Mikuno disse.
- Gente, o papo furado está incrivelmente interessante mas nós precisamos ir logo.- Kai disse.
- Kai tem razão.- Patrick concordou, sério.
Nós entramos na nave, Kai demoraram apenas alguns minutos para que chegássemos até Nova York, tudo destruído, destroços de casas, carros e objetos no asfalto negro e gelado, paramos perto do Edifício presidencial Hemmingway.
- O plano é o seguinte: Todos nós nos dirigimos até a parte em que Armstrong geralmente fica...
- O último andar do edifício?- Nick me interrompeu.
-...Exato, continuando, tem vários caminhos até lá, uns mais longos, outros mais curtos, depende de vocês, escolham e tentem matar os guardas apenas quando necessário.
- Como? Vão tentar nos matar de qualquer jeito.- Irisha disse confusa.
- Se perceberem o risco, se realmente se sentirem ameaçados, não hesitem em puxar o gatilho, as armas tem silenciadores, é mais fácil de entrar sem chamar a atenção.- Respondi.
- Tá bom, apenas os guardas podem nos ferir, mas os outros funcionários são inocentes, não devem ser feridos.- Mikuno concluiu.
- Você entendeu bem.
- Certo, quem vai na frente?- Meu pai perguntou.
- Eu vou, devem temer bem mais uma maníaca do que qualquer humano.
- Você tem a mais pura razão, por mais que sejamos perigosos, maníacos são maníacos.- Justine disse.
- Ok, vamos lá.- Eu disse.
- Estamos logo atrás de você.- Meu pai disse sorrindo, eu dei um sorriso sincero que logo desapareceu do meu rosto, segurei minha arma firmemente, olhei para a porta e contei até três mentalmente e dei um chute na porta, ela caiu e eu entrei rapidamente, percebi que estávamos em uma enorme cozinha, os funcionários se renderam, pareciam assustados, mas todos me conheciam, eles murmuravam meu nome, fiz um sinal para que fizessem silêncio, e por incrível que pareça todos se abaixaram e ficaram quietos, eu senti que sabiam que eu só queria ajudar, por um momento todos me odiaram por minha traição, mas passei a ser adorada pelo mesmo motivo, mas não era por isso que eu não precisava de cuidado, todos tem opiniões diferentes.
Eu saí correndo pelos corredores, a iluminação dos lustres, os grandes tapetes vermelhos que cobriam os enormes corredores, tudo aquilo só mostrava o quanto ele amava o luxo e o conforto que possuía apenas pelo fato de ser presidente da maior nação do mundo.
- Ei! Parada aí!- Um guarda me chamou eu me virei para trás e vi ele, outro guarda tomou a arma que eu segurava, eles apontavam revólveres para mim, com firmeza.
- Esperem...vocês sabiam que eu amo objetos cortantes?- Eu ironizei passando as mãos levemente pelos bolsos.
- O que?- Um deles perguntou confuso.
Agarrei os canivetes dei um giro e cortei a garganta dos dois, eu odiei a crueldade usada mas aquilo fazia parte de mim, querendo ou não eu era maníaca, sendo assim, querendo ou não eu era uma assassina fria e calculista.
Saí correndo, um guarda me agarrou pelas costas, me debati e consegui me soltar, peguei os dois canivetes e cravei nas duas pernas dele, ele deu um grito e caiu no chão um outro tentou me jogar, eu peguei seus braços e o joguei no chão, dei um soco nele e ele desmaiou.
Eu subia as escadas com velocidade, um guarda me surpreendeu e conseguiu me jogar das escadas, eu caí no chão e bati minha cabeça, senti apenas um mal estar mas logo me levantei, ele se assustou ao me ver levantar e subir as escadas, ele pegou uma arma e começou a atirar, eu conseguia desviar das balas com a agilidade e a visão que possuía.
Ele deu um grito de medo e tentou subir as escadas, eu o agarrei pelas costas e bati sua cabeça contra a parede com força, ele desmaiou e eu o deixei deitado em um dos degraus da escada, foi bem mais fácil do que pensei, cheguei ao último andar do edifício, lá estava ele, o grande carrasco da Nova América, Scott Armstrong, de costas para mim, parecia segurar alguma coisa, me lembrei de que eu estava desarmada mas não me importei.
- Scott Armstrong, vire-se e se renda agora! Você está sendo detido pelas atrocidades que cometeu.
Ele continuou quieto e não esboçou reação me aproximei dele vagarosamente.
- Vire-se e se renda, agora!!!- Eu disse enfurecida, dando ênfase na palavra "agora", mesmo assim ele continuou calado e não se virou.
- Aí, você me ouviu?! Eu falei para se virar e...- Ele não me deixou terminar de falar e se virou rapidamente, e aplicou algo no meu pescoço no mesmo momento eu senti minha visão ficar embaçada.
- É, eu ouvi, se virar e se render!- Ele disse com raiva me jogando no chão, ele começou a rir.
- Que droga é essa?!- Eu perguntei com dificuldades para respirar.
- Já ouviu falar no soro do enfraquecimento? Pois é, ele retarda os sentidos de qualquer ser vivo...não se preocupe o efeito é temporário, é apenas o tempo de eu pôr um fim na sua vidinha miserável e inútil.- Ele disse, eu estava em guerra comigo mesma naquele momento, eu lutava para me levantar, para fazer algo, mas eu não conseguia, vi com a visão torta, ele pegar uma faca enorme em uma estante de decorações.
- Olhe só essa belezinha, vai ficar manchada com o seu sangue.
Eu mexia a cabeça negativamente.
- Por favor, piedade.- Eu implorei, mentindo, fingindo um medo que não sentia, juntando forças para atacá-lo.
- O que você disse?
- Eu tenho três palavras.- Eu disse.
- Diga.
- Vai pro inferno!- Eu me levantei e agarrei a faca, eu tentava juntar forças para vencê-lo, peguei a faca, mas assim que isso ocorreu ele me deu um chute fazendo com que eu caísse e a largasse, ele me empurrou contra a parede, eu não tinha forças para me levantar, parecia que eu havia levado uma pancada nas costas, doía demais, nem o soro de Era foi páreo para esse tal soro do enfraquecimento.
- Vou contar até três.- Ele olhava fixamente nos meus olhos, era como se uma serpente olhasse para mim, aquilo só me estonteava mais.
Eu fechei meus olhos.
- Um...dois...
Ouvi outra pessoa dizer três a voz era extremamente familiar, eu reconheci e abri os olhos instantaneamente.
Eu não acreditei no que vi, era para aquela facada ter sido em mim, mas quando vi meu pai em minha frente, eu desabei completamente.
- Pai?!?!
Armstrong o empurrou, parecia nervoso, eu olhei para ele e só então pude ver a faca cravada em seu estômago.
- Pai!!!- Eu gritei e me arrastei para o lado dele, Armstrong saiu correndo, foi só então que percebi o quanto ele era covarde.
Meu pai cuspiu sangue.
- Pai!!! Não, levanta...por favor levanta!!!- Eu começei a chorar, desesperada, aquilo doeu mais do que qualquer facada que eu podia levar.
- L-Lydia...- Ele se esforçou para dizer.
- Papai...por favor não me deixa agora! Eu te amo!
Ele deu um sorrisinho.
- Além do infinito...lembra?- Ele perguntou como se estivesse tudo bem.
- Além do infinito.- Eu respondi chorando, ele deu o sorriso mais sincero e bonito que já vi em toda a minha vida ele olhou nos meus olhos, a sensação era diferente, eu me senti destruída, acabada, porém me senti amada.
Ele deu um suspiro e em um piscar de olhos, ele parou de respirar, eu dei um grito.
- Pai!!! Acorda por favor!!!- Abraçei o corpo dele, o sangue dele grudava em minhas mãos, uma das pessoas que mais amei estava diante de mim...morta, sem vida, como eu vou superar? Como eu vou prosseguir sem a autoridade dele? Eu me lembrei de todos os momentos que tive com ele, bons e ruins, parecia que minha memória iria explodir, era como um asteróide, acabava comigo, só me fazia chorar mais do que eu já chorava.
Ele me ensinou a ser quem sou, esteve ao meu lado, eu criei distância, as barreiras que nos separavam, mas eu sempre o amei muito, se algo acontecesse a ele, parte da minha felicidade também morreria, eu me odiei a cada segundo por ter criado barreiras, mas no fundo da minha alma despedaçada, eu sabia que tudo levaria a isso, e Armstrong pagaria pelo que fez...jurei a mim mesma de que ele pagaria caro pela dor que eu e meu continente sentíamos...eu encontrei um motivo para lutar até o fim...
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Diário de uma rebelde_Livro 2
Science FictionMeu nome é Lydia Sparks Rogers, tenho dezessete anos de idade. Eu sempre fui o tipo de adolescente irresponsável e às vezes imatura; Mas responsabilidade não é uma opção quando há uma Guerra Mundial além de uma epidemia mundial fatal que quase extin...