Kimberly Sparks

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- Mãe!!!!- Eu olhava para ela e chorava, minhas lágrimas caíam freneticamente, eu não conseguia mais controlar, embora eu parecesse inexpressiva, parecia que meu coração e minha mente estavam sendo dilacerados ao mesmo tempo, eu olhava para a pele pálida e sem vida de minha mãe, eu sentia as lágrimas escorrerem por meu rosto e eu apenas deixava cair, eu sabia que não teria força suficiente para enxugá-las, eu deixei cair pois sabia que assim doeria muito menos, mas naquela situação, é impossível, não doer, vai doer de todas as maneiras e todas as probabilidades serão usadas.
Eu não acreditava, a heroína, a sobrevivente, a rebelde que cuidou de mim e me amou incondicionalmente, mesmo que eu fosse a garota mais imperfeita da Nova América, aquela mulher tão fantástica e espetacular simplesmente foi...atingida por balas e seu coração indomável e puro deixou de bater, eu me odiei a cada milésimo de segundo possível por ter deixado que isso acontecesse com ela, mas eu apenas sofria em silêncio, calada, sentindo a dor me corromper por dentro, chequei o pulso dela pelo menos cinco vezes, não adiantava, não havia mais pulsação ou respiração, só frio e silêncio.
- Ly?- Axel chamou em voz baixa, passando a mão em minhas costas carinhosamente, seus olhos marejavam, eu mal olhei para ele mas pude perceber, ele não obteve resposta e deu um suspiro.- Ly, vamos para Purity...temos que voltar...- Ele disse enfim, eu balançei a cabeça negativamente.
- Não...- Sussurrei com a voz um pouco rouca.-...Não...quero voltar.- Ele assentiu.
- Entendo Ly, mas acho melhor você ficar na nave, Washington vai começar a esfriar...- Ele disse, balancei minha cabeça afirmativamente, me surpreendi um pouco quando ele me pegou no colo e me carregou até o interior da nave, me sentei em um longo sofá e Axel me cobriu com um cobertor.
- Eu sinto muito pelo que houve...- Ele disse passando a mão na minha cabeça, sua expressão era séria mas eu podia sentir sua compaixão, mas eu não conseguia reagir, o choque ainda tomava conta de mim.-...Lydia, eu quero que entenda que a partir de agora estarei sempre ao seu lado...independentemente do que houver...- Ele disse, eu assenti, ele beijou meus lábios, isso fez com que eu não me sentisse perdida no meio de tudo aquilo, apenas fechei meus olhos, me afastei depois de algum tempo.
- Se precisar de qualquer coisa é só me chamar.- Ele disse.
- Ok.- Eu disse, ele pareceu se animar um pouco com a minha reação e saiu andando, eu me deitei no sofá e me enrolei com o cobertor, em silêncio, eu não acreditava que Kimberly Sparks tivesse realmente morrido, eu sentia que ela estava viva, sentia no fundo da minha alma, eu apenas olhava o ambiente metálico do interior da nave, ouvi passos no ambiente e corri meu olhar pelo lugar, vi Patrick se aproximando, ele se sentou ao meu lado, seu rosto estava vermelho.
Ele olhou para mim, era claro que sentia pena, tentei ignorar sua presença, ele parecia se preparar para dizer algo então me preparei para escutar.
- Eu sempre amei a sua mãe...- Patrick confessou, olhei para ele arqueando as sobrancelhas.-...Desde quando tínhamos dezoito anos...eu me casei com Isabelle para ter uma amiga ao meu lado, eu nunca cheguei a amá-la como amei Kimberly.
- Por que você...tá me falando isso?- Perguntei confusa, balançando a cabeça levemente.
- Porque você é a única pessoa que tenho para dizer isso.- Ele afirmou, eu estava tão fragilizada que o abraçei.
- Amanhã é meu aniversário de dezoito anos.- Eu confessei.
- Sinto muito.- Ele disse.
- É estranho acreditar que ela se foi.- Eu disse, ele queria aliviar o clima triste que pairava entre nós.
- Sabe, eu só queria que Kim fosse feliz, Aaron a merecia de verdade, por isso a deixei em paz, eu sabia que não valeria mais a pena lutar por ela, ela fez a escolha dela, eu tive a chance de escolher, mas escolhi errado.- Ele desabafou.
- Ela foi feliz...pode não ter sido ao seu lado mas eu sei que ela foi feliz.- Eu completei, ele deu uma risada.
- E pensar que você poderia ter sido minha filha.- Ele disse.
- Não te aceitaria como pai, mas com certeza não me importaria em aceitá-lo como padrasto.- Eu sorri, assim como ele, logo minhas lágrimas começaram a rolar por meu rosto, e eu cobri meu rosto com as mãos.
- Ainda não acredito que é verdade.- Sussurrei, ele colocou uma mão em meu ombro.
- Ninguém acredita.- Patrick disse.
- O que eu faço agora tio Pat?!- Perguntei para ele.
- Eu sei exatamente o que você deve fazer.- Dennis apareceu, olhei para ele.
- Diga então.- Falei, tentando me controlar para que minha dor não se aprofundasse e eu chorasse mais ainda.
- Acompanhe-me.- Ele disse, eu estranhei mas me levantei e fui atrás dele, ele me levou ao pequeno laboratório da nave, Kai estava lá, senti que ele odiou ver minha situação, Dennis logo pegou um papel dobrado ao meio, analisei-o.
- O que é isso?- Perguntei.
- Uma carta.- Ele respondeu indiferentemente, tentando demonstrar frieza.
- De quem?- Perguntei curiosa, enxugando as lágrimas.
- Kimberly.- Ele disse, peguei a carta da mão dele ágilmente, e fiquei olhando.
- Como...?- Indaguei.
- Apenas leia.- Ele disse.
- Pega leve com ela Dennis.- Kai disse, levantei uma de minhas sobrancelhas e abri a carta.

"Minha filha.

Sinto muito por ter que fazer você passar por isso, de verdade, não era a minha intenção, mas desde que você demorou a voltar para Purity eu sabia que havia algo errado, além disso, Axel estava paranóico de algo estava acontecendo com vocês, me preocupo com você mais do que com qualquer outro nesse mundo, por isso pedi para que Dennis e Kai me transformassem em uma maníaca a partir do sangue de uma, Cecilia, Dennis guarda amostras do sangue da filha para estudar melhor a morbonervosi.
Acho importante dizer que sou uma "Imune" agora.
Assim que Axel recebeu a ligação falsa com sua voz de Isabelle eu soube que era uma das armadilhas criadas por ela, com o raciocínio de uma maníaca é bem mais fácil, eu não tinha alguma idéia boa, sabia que ela iria querer tirar alguém que você amasse muito de você, e eu sabia que eu era o alvo principal, eu sei que você não quer me ver morrer, sei que não está pronta para que eu deixe você definitivamente, e sei que precisa de mim viva, por isso Dennis me ajudou a fazer um clone de mim mesma a partir de um scanner, como os clones de Armstrong.
Se meu clone "morreu" e causou alguma dor a você ou a qualquer dano emocional eu peço as mais sinceras desculpas, eu só fiz isso para ajudar você, se eu não tivesse "morrido" aí como provavelmente ocorreu, Isabelle teria matado Axel, e sei o quanto ama este rapaz, sei o quanto você precisa dele.
Lydia, se estiver com raiva de mim eu entendo, mas tente compreender o meu lado, espero que possa me desculpar pelo que fiz, e saiba que eu nunca faria nada que não precisasse ser feito.
Se você estiver lendo isso, meu clone morreu e Dennis ou Kai lhe entregou esta carta para poupá-la do sofrimento que sei que deve estar sentindo, e eu quero lhe dizer que estou viva, como sempre estive, meu coração continua batendo, meus pulmões continuam funcionando, minha mente ainda trabalha bem e graças a Deus tenho a possibilidade de escrever esta carta para você.
Estou esperando ansiosamente o seu retorno à Purity.

Com amor, Kimberly Sparks."

Minhas mãos tremiam de felicidade enquanto eu segurava o papel, olhei para Dennis.
- Ela está mesmo viva?- Perguntei.
- Sim.- Ele respondeu.
- Obrigada.- Eu disse sorrindo frágilmente depois do que passei, ele e Kai sorriram.
- A idéia foi minha.- Kai ironizou.
- Até parece garoto.- Dennis disse rindo, eu ri deles, suas vozes até se distorciam, eu só conseguia escutar minha própria voz em minha mente: "Ela está viva".

Diário de uma rebelde_Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora