Rendição

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- Tome cuidado, ninguém quer vê-la morrer.- Flynn disse respirando fundo, e olhando para mim.
- Não se preocupe, assim que minha mãe e Axel entrarem nessa nave você pilota o mais rápido possível para Plattsburgh, não deixe nenhuma nave canadense alcançar você.
- Mas e você?- Ele perguntou levantando as sobrancelhas, baixei o olhar, eu mexia os dedos sem parar, apenas por nervosismo.
- Eu dou meu jeito, tá bom?
- Tudo bem...vida longa à princesa.- Ele disse sorrindo.
- Valeu, pelo apoio.- Eu sorri, coloquei dois fones recônditamente e desci da nave.
Eu me lembrava detalhadamente de tudo o que Justine havia me dito no treino, ela disse que maníacos são imprevisíveis e soldados canadenses são cruéis e calculistas quando querem, a cautela com a junção dos dois tipos precisa ser dobrada.
Justine exigiu que eu mudasse drasticamente, assim seria mais difícil que me reconhecessem, ela deu um jeito, só acho que ela exagerou na maquiagem, mas pouco importa, a única conclusão possível que posso ter é: Nathan e a caçadora estão unidos, Nathan trabalha para Armstrong assim como ela também deve trabalhar, resumidamente os dois querem que eu me renda, seja levada para Toronto e seja sentenciada à morte por Armstrong, talvez eles pensem que se eu morrer a guerra estará ganha, pelo que pude perceber, se eu morrer agora a guerra só vai piorar.
Eu andava tranquilamente pela calçada feita detalhadamente de pedras que dava acesso ao edifício Wargrave, a "antiga" prefeitura de Nova Montreal, antes mesmo que eu pudesse abrir as portas, dois soldados que já haviam contraído a morbo me agarraram violentamente e me forçaram a entrar.
- Não precisa usar a força eu já tô entrando.- Eu disse em tom falso e levantando as mãos em sinal de rendição, eu podia usar minha força para bater nos dois, mas eu não podia fazer isso a menos que meus pais já tivessem saído do prédio.
- Lydia Sparks Rogers.- Nathan disse se aproximando enquanto os guardas me jogavam no chão, logo a caçadora também apareceu, sorrindo cinicamente como sempre.
- Oi palhaços.- Ironizei como se estivesse tudo perfeitamente bem, Nathan estalou os dedos e logo dois guardas com minha mãe e Axel apareceram.
- Lydia!!!- Os dois exclamavam, minha mãe estava incrédula e se debatia para sair dos braços que a seguravam, Axel chegou a se soltar uma vez e tentou correr em minha direção, mas o guarda o segurou novamente, ele gritava meu nome sem parar, desesperadamente, eu vi minha mãe engolir em seco, baixei o olhar e começei a balançar a cabeça.
- Me deixe falar com eles.
- Você tem dois minutos para falar com cada um deles.- A caçadora disse satisfeita com a cena, olhei de canto para ela e Nathan, os guardas soltarem eles e se afastaram com um sinal de Nathan, fui rapidamente até minha mãe, lágrimas frias e silenciosas escorriam por seu rosto enquanto ela olhava fixamente para mim.
- Filha...você não tinha que se entregar assim.
- Eu precisei fazer isso.
- Sacrificar-se assim, Lydia eu não preciso mais viver, já vivi bem mais do que você...mas você é jovem, é uma linda jovem minha filha, você tem porque viver.
- Eu nunca falei em morrer, é questão de tempo ok?- Sussurrei.
- Como assim?- Ela perguntou em voz baixa.
- Você vai entender, eu prometo.- Ela parou de falar e deu um sorrisinho em meio às lágrimas.
- Além do infinito?- Ela me perguntou, eu sorri.
- Além do infinito.
abraçei ela com força e carinho ao mesmo tempo, como se fôssemos nos ver ali pela última vez.
Eu a soltei e olhei para Axel, seus olhos azuis estavam em guerra para que suas lágrimas não escorressem.
- Ly, não posso permitir que faça isso.
- Axel, nós não temos escolha.
- Temos sim Lydia, use a sua força por favor.
- Seria arriscado, eles ainda tem armas.
- Não iriam ferir você.- Ele disse balançando a cabeça negativamente.
- Não é comigo que eu estou preocupada.
Ele franziu as sobrancelhas, meus olhos marejavam.
- Você não tem a mínima idéia...- Ele disse.
- Do que?
- Da dor que a sua morte causaria a todos.- Ele me respondeu.
- Isso não é um "adeus" Axel.
- Quer dizer que você tem algum plano? você sempre tem.- Ele disse em voz baixa com a esperança voltando a mostrar a presença no olhar dele.
- Eu tenho um plano, mas para que ele dê certo vocês precisam estar bem longe daqui...
- Seu tempo está acabando.- A caçadora gritou.
-...Ouça-me Axel, quando você voltar para Plattsburgh saia da cidade e vá para Nova Cleveland, eu cuido da questão da nave, ok?
- Ly tem certeza de que...
- Axel é o único jeito.- Ele respirou fundo, subitamente ele me beijou, retribuí o beijo com vontade, fechei meus olhos e por alguns segundos me esqueci do mundo cruel que nos cercava, quando paramos as lágrimas haviam sido esquecidas, só os nossos sorrisos restavam.
- Eu vou sentir sua falta.- Eu disse irônicamente.
- Não precisa, loirinha.- Ele disse no mesmo tom de ironia.
- Não me chame assim.- Eu dei risada.
- A caçadora se refere à você assim, e eu gostei, combina com você.
- Está sendo ridículo.- Falei sarcasticamente.
- Parece que você tem o dom de se apaixonar por caras ridículos como eu.- Ele ironizou e eu ri.
- Ok casal, o tempo acabou.- Nathan disse revirando os olhos e puxando meu braço, e de repente a realidade me abateu novamente.
- Espera!- Eu disse em voz alta, fazendo com que seu olhar pegasse fogo com relação a mim.
- Eu quero vê-los saindo! Quero ter certeza de que não estão me engando!- Puxei meu braço com força, a força aplicada o surpreendeu, eu ignorei, não tinha como ele saber da existência do soro de Era.
Ele me olhava desconfiadamente, até que fez um sinal para que me atacassem, fiquei furiosa, um deles tentou me dar um soco, agarrei o punho dele e quebrei seu braço, fazendo-o gritar de dor, o outro me jogou no chão, dei um chute na cabeça dele derrubando-o no chão, derrubei um por um, a caçadora me pegou pelo pescoço, consegui me soltar e quebrei seus dois braços, ela deu um grito e caiu de joelhos no chão.
- Tessa!!- Nathan disse indo até ela, que se contorcia, ele me observou com ódio e mesmo assim parecia confuso.- O que é você garota?!- Ele perguntou em tom de admiração, porém assustado.
- Eu só...me defendi.- Respondi hesitante, ele continuava desconfiado.
- Leve a sua família e volte rapidamente.- Eu assenti e fui com eles até a nave em que Flynn esperava.
- Você não deveria ter feito isso, agora sabem o quanto é perigosa.- Minha mãe sussurrou.
- Está tudo sob controle.- Eu disse em um tom de voz mais confiante.
- Espero mesmo.
- Calma, vai ficar tudo bem.
Minha mãe subiu na nave, Axel estava subindo na nave, eu puxei sua camisa para que se virasse para mim e o beijei intensamente, como se não houvesse mais um futuro para nós, vi ele sorrir entre as pausas.
- Você precisa ir.- Eu disse apressando-o.
- Adeus loirinha.- Ele disse suspirando e passando as mãos pelos meus cabelos.
- Tchau Axel.
Vi a nave partir e a angústia tomou conta de mim, olhei para o edifício...a queda de Armstrong começa agora...

Diário de uma rebelde_Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora