A dama de companhia

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Abri os olhos lentamente e bocejei, olhei para o lado e percebi que tinha uma mulher que segurava vários livros, sentada em uma poltrona ao meu lado.
- Quem é você?
- Sou Eleanor Blue, a sua dama de companhia.
Eu esfreguei meus olhos.
- Eu deixei claro que não queria ser tratada como uma princesa.
- Ele também me disse isso, por isso você será tratada como uma amiga, ok?
- Ok...e qual é sua função?
- Várias, eu te ajudo a escolher vestidos, converso com você e até ajudo a arrumar sua postura...- Ela disse colocando os livros empilhados na minha cabeça, mesmo assim consegui manter equilíbrio.-...Que por sinal é muito boa.
- Tá...a coroação já é daqui a três dias e eu nem sei o que faço.
- Sorria o tempo todo, vai passar a imagem de que você é extremamente simpática.
- Ok.
- E tente acenar para o povo também...mas isso não é importante, não agora, eu estarei lá no dia para ajudar você.
- Ótimo.
Ouvi batidas na porta e fui atender, lá estavam meus pais, minha mãe parecia normal mas meu pai estava visivelmente irritado.
- Que história é essa de coroação?- Meu pai perguntou sério.
Respirei fundo e tentei me acalmar e me preparar psicologicamente para o que eu iria ouvir..
- Eleanor, pode se retirar, por favor?- Solicitei em tom aflito.
- Claro.- Ela fez uma reverência e saiu.
- Entrem.- Os dois entraram, dava para sentir que eu tinha me ferrado muito.
- Lydia você enlouqueceu de vez?!- Meu pai perguntou.
- Não é um casamento, é só uma coroação, tem diferença.
- Há quanto tempo você e Theodore estão juntos?
- Há algum tempo.
- Como assim Lydia, você podia pelo menos ter me contado.
- Se eu te contasse a mesma coisa estaria acontecendo!
- Lydia você só tem dezessete anos!
- Não use essa desculpa Aaron.- Minha mãe ironizou.
- Pai você só se esqueceu que eu não sou mais criança! Eu cresci, acorda! Eu não sou mais uma bebê, eu tenho o direito de tomar decisões e arcar com as consequências delas, é uma questão de liberdade!
- Foi por isso que fugiu do país?! Liberdade?!
- Claro que não! Eu queria mais do que aquele mundo também, o governo de Armstrong cega americanos e está te cegando também!
- E olhe para você agora, se acha madura o suficiente? Vá em frente, se quebrar a sua cara em mil pedaços não diga que eu não avisei!
Ele saiu do quarto e bateu a porta, soquei a parede enfurecida.
- Merda!
- Tenta ficar calma Lydia, você sabe que seu pai é cabeça dura às vezes.
- Sei...sei disso.- Me sentei na cama.
- Lydia, tem uma coisa que eu preciso que veja.- Ela pegou a bolsa e tirou de lá uma seringa, que continha um líquido verde dentro.
- Mãe...isso é...?
- O soro de Era, sim.
- Mãe você está usando essa droga em si mesma?!
- Não, é só para último caso.
- E por que está me mostrando isso?
- Porque eu tenho um pressentimento ruim Lydia, alguma coisa me diz que algo terrível pode acontecer aqui, e costumo confiar em minha intuição.
- Mãe, nada ruim vai acontecer, ok?
- Eu quero acreditar nisso Lydia, mas eu simplesmente não consigo.
- Mãe...você tá me assustando.
- Não tem que ficar com medo por causa do que eu lhe disse, tem que ficar alerta, cuidado Lydia, se alguma coisa acontecer, lute para sobreviver.
Abraçei ela.
- Eu não quero morrer...não quero mais.
- Não se preocupe, tudo ficará bem no final, você verá, eu te prometo filha.
- Eu realmente espero que tudo acabe bem, estou ficando com medo.
- Não fique, o medo só vai te enfraquecer e você não quer ser fraca, não é?
- Eu nunca fui forte mãe.
- Bom...você teve força para nos abandonar, teve força para trair seu país, teve força para chegar até aqui, e teve força para entrar para o exército inglês, ainda continua achando que não é forte?
- Talvez.
- Filha, talvez não existe, existe sim ou não.
- Essa frase é do papai.- Ambas rimos.
- Você entendeu, apenas não subestime a si mesma, você pode fazer coisas espetaculares e eu confio em você.
- Mesmo depois de eu ter abandonado vocês em meio à guerra?
- Lydia, você é minha filha, além disso, perdoar é realmente muito importante.
- Mãe?
- O que?
- Promete que só vai usar esse soro em último caso mesmo?
- Eu prometo Lydia, e você sabe melhor do que ninguém que eu sempre honro a minha palavra.
- Tem razão, não há motivos para desconfiar que vá usar isso em ninguém.
Ela riu, ouvi o alarme soar e me levantei rapidamente, dois aviões canadenses jogavam bombas sem parar, as explosões eram consecutivas e era possível ouvir os gritos das pessoas na cidade, eu quis ajudar, mas eu não podia fazer nada, e me senti extremamente culpada, e sabia que quando eu fosse coroada, situações assim pesariam cada vez mais em minha mente.
Eu tinha consciência da responsabilidade que eu enfrentaria, eu só não sabia se estava pronta para encarar aquele tipo de responsabilidade, tudo está tão confuso.
- Lydia...olhe só, a guerra, vamos enfrentá-la, ela está longe de acabar...

Diário de uma rebelde_Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora