O percurso

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- Temos mesmo que ir?- Nick me perguntou, era claro que ele estava aflito ou angustiado, não só pela morte de Irisha, acho que ele tem medo do percurso, nós vamos a pé, estaremos extremamente vulneráveis, mas é só uma questão de tempo até chegarmos em Plattsburgh e conseguirmos qualquer nave ou helicóptero que nos ajude.
- Nós precisamos, não podemos ficar aqui e esperar que Armstrong nos encontre.
- E Missy?
- Ela decidiu ir conosco.- Eu disse fria enquanto colocava balas em duas pistolas e colocava elas na minha mochila, peguei duas facas e amarrei elas em minhas pernas com cordas finas, eram para emergências.
- Você parece bem segura disso.
- Eu estou com medo, só odeio demonstrar isso.
- Admiro essa sua capacidade...eu não tenho isso.- Ele ironizou, eu dei um sorrisinho.
- Talvez porque você seja burro demais para ver o quanto corremos mais perigo se ficarmos neste galpão.
- É sério, eu tenho medo, eu não quero ver meu irmão ou meu pai mortos.
- Lydia?- Hannah me chamou em voz baixa, fiz um sinal para que Nick esperasse e a acompanhei.
- O que houve?
- Logan, ele quer falar com você.
- Ah...isso é preocupante, não?
- Não exatamente, mas peço sinceras desculpas pela forma que ele te tratou porque você é...
- Maníaca?- Perguntei em tom de voz frio, o que pareceu intimidá-la, não era essa a minha intenção mas eu tentei ignorar seu constrangimento.
- É...bem, desculpa mesmo, ele sabe muito bem da dívida adquirida com sua mãe, e agora ele também está em dívida com você.
- Do que está falando?- Perguntei franzindo as sobrancelhas e mexendo a cabeça confusamente.
- Você saberá.- Nós saímos do galpão e fomos andando em passos rápidos até o hotel, eles ficavam em um apartamento no terceiro andar da construção, eu subi as escadas sem a menor pressa e abri a porta, lá estava ele, sentado em uma cadeira de madeira, parecia estar surpreso com a minha presença e ao mesmo tempo angustiado com algo.
- Queria falar comigo?- Perguntei franzindo as sobrancelhas, ele levantou as duas sobrancelhas e mexeu a cabeça levemente.
- Na verdade eu queria sim.- Ele respondeu.
- Diga.
- Eu queria me desculpar pelo modo como tratei você Lydia.
- Logan, sabe que não precisa disso, eu já te perdoei pela discussão.
- Não é só isso...obrigado, por salvar minha vida.
- Disponha.- Eu disse assentindo, ele deu um sorrisinho, Hannah sorriu orgulhosamente.
- Eu tenho uma dívida com a sua mãe e agora tenho uma com você.
- Já disse que não precisa...
- Eu serei o seu protetor, protegerei você, pagando a dívida com você e com sua mãe.
Eu dei risada, ele olhava para mim com uma expressão irônica no rosto.
- É perigoso um ser humano frágil proteger uma maníaca, não é?
- Você está me subestimando.
- Há um jeito mais fácil, você pode pagar a dívida com a sua determinação, lute e nos ajude a derrotar Armstrong, então estaremos quites.
- Certo, prometo que eu e Hannah seremos extremamente úteis e eficientes para o exército.
- Assim é bem melhor.- Eu disse sorrindo levemente e abrindo a porta.
- Lydia?
- Que foi?
- Talvez eu tenha errado, acho que os "imunes" são diferentes dos maníacos que eu conhecia.
- Demorou quanto tempo para perceber isso?- Ironizei e saí do quarto, eu tinha que me preparar, o percurso seria longo...seriam doze mil novecentos e um quilômetros a pé até Plattsburgh, uma longa viagem...
***
Estávamos enfileirados em frente à ponte do rio Hudson, uma sensação estranha e ruim tomava conta do meu peito, eu sentia um nervosismo inexplicávelmente forte.
Um mal presságio afetava minha mente, eu só não sabia se deveria confiar nele, começamos a andar pela ponte e atravessá-la, o asfalto estava quente por causa do grande e avassalador sol das três da tarde, que queimava levemente nossos rostos, eu estava com tanto calor que podia pular no rio Hudson, mas não sou tão impulsiva a esse ponto, então simplesmente continuei andando com minha respiração ofegante sem pestanejar.
Tínhamos andado muitos quilômetros desde que partimos ao amanhecer, o calor só desgastava mais ainda os humanos, e a mim também, o cansaco e a preguiça tentavam me consumir mas eu me controlava ao máximo, vi que muitos na fila já estavam trêmulos, a fraqueza assolava eles, a única que andava alegremente era Missy, ela quase nunca tira o sorriso do rosto, ela andava aos pulinhos, segurando e balançando a metralhadora como se fosse um brinquedo, Mikuno segurava a bazuca e já começava a fraquejar, Kai percebeu e ofereceu ajuda, os irmãos presentes no grupo eram muito unidos, como se um laço ou alguma cola prendesse os dois, eu adorava ver aquilo, era o símbolo de que ainda não tínhamos nos esquecido do que é mais importante.
Escutei um estrondo quase ensurdecedor, Axel e eu nos entreolhamos e logo em seguida olhamos para o céu, vimos duas naves canadenses se aproximarem no horizonte, se aproximavam cada vez mais.
- Corram agora! Não parem!- Eu gritei, os outros corriam a nossa frente, Missy corria ao meu lado no mesmo ritmo, me apressando, eu sabia que ela conseguia correr bem mais rápido, ela só queria me acompanhar, olhei rapidamente e vi que não eram duas naves, eram quatro.
- Droga!- Exclamei com um nervosismo claro em minha voz.- Missy...- Chamei e ela olhou para mim com um olhar inocente, eu duvidava se era sincero ou não.-...Você já sabe o que fazer.
A expressão inocente e juvenil em seu rosto se transformou em um sorriso diabólico, ela adorava a adrenalina causada pelos tiros, ela pegou uma bazuca que sempre levava, mesmo com outras armas, eu tapei meus ouvidos com o estrondo do míssil, ela acertou a nave central, as outras três atiravam, uma delas começou a bombardear a ponte, ela se partiu ao meio, Missy pegou alguns mísseis que carregava em sua mochila (imaginei como aquilo deveria pesar em suas costas), ela disparou outro míssil e errou, ficou enraivecida e disparou outro míssil em uma das naves, restaram duas e dois mísseis.
- Tem que ser certeiro.- Ela sussurrou para si mesma e disparou o outro míssil, ele atingiu o centro da nave, partindo-a em dois, homens queimados caíam sem parar, parecia uma chuva mortal com cheiro de fumaça, era loucura.
Só faltava uma nave, ela se concentrou, dava para sentir a pressão que ela provavelmente sentia, ela respirou fundo e atirou o último míssil que colidiu de frente com a nave, a fumaça das explosões deixava um cheiro de fogo no ar, penetrava em minhas narinas suavemente, como um odor comum, era o ardido cheiro da vitória.
Missy comemorou, ela pulava de alegria, ela pegou um sinalizador e atirou para o céu, as faíscas vermelhas eram um marco de sua radiante felicidade.
- Filha!!!- Ouvi a voz cansada de minha mãe e olhei para a frente.
- Lydia!!!- Axel gritou do outro lado da ponte, estávamos divididos, de um lado, Axel e o resto do grupo, do outro lado, apenas eu e Missy, acordei para a realidade.
- Axel!!!- Berrei.
- O que vocês vão fazer?!- Ele me perguntou, parecia nervoso e preocupado.
Missy me olhou de modo confuso, eu analisei mentalmente todas as possibilidades possíveis...
- Temos que atravessar o rio!!! Continuem andando e nos esperem no leito dele!!!
- O que?!- Axel perguntou assustado.- Lydia isso vai demorar!!!- Ele disse preocupado, eu sabia que ele temia por nosso cansaço.
- Maníacos são mais rápidos...além do mais nós não temos escolha!- Exclamei, ele franziu as sobrancelhas.
- Vão!- Ele disse para o grupo, ele se virou.
- Axel espera!- Chamei e ele me olhou ainda preocupadamente.- Eu te amo!!!- Gritei, ele sorriu mostrando os dentes brancos que brilhavam de longe.
- Eu também te amo!!!- Ele disse acenando e correndo com o resto do grupo, Missy deu um sorrisinho mas logo ele desapareceu de seu rosto.
- O que precisamos fazer mesmo?- Missy me perguntou, um pouco amedrontada.
- Como eu disse...vamos atravessar o rio nadando.
- E vamos conseguir?
Eu dei um sorriso amigável.
- Sem a menor sombra de dúvida...

Diário de uma rebelde_Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora