A câmara

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Eu estava agoniada, mas sorria sem parar, como se estivesse tudo em seu devido lugar, eu sentia medo, apesar do meu medo, deixei a ironia vencer, eu apenas sorria cômicamente e tranquilamente dentro da câmara de gás, do vidro que me cercava por todos os lados, que me deixava com calor e que fazia meu coração acelerar, eu queria estar histérica, loucamente histérica, mas o que aprendi em vida me ensinou a sempre disfarçar, a fingir, a atuar, eu sempre tento com todas as minhas forças, fingir que está tudo bem, mesmo quando eu mesma sei que não está tudo bem, me lembrei da briga com Axel, a última coisa que fizemos foi brigar...é engraçado como consigo estar com raiva e ainda sim amá-lo como se nada tivesse acontecido, eu simplesmente o amo e isso é uma coisa inexplicável, nunca conseguirei dizer o "por que", eu só o amo e vou morrer feliz por ter amado ele.
- Observem!- A voz grossa e meio rouca de Armstrong ecoou através do microfone que ele segurava, ele sorria vitoriosamente como se me matar fosse um feito extremamente glorioso, pouco importa agora.
- Esta garota: Lydia Sparks Rogers, pérfida e traiçoeira, uma fugitiva do país que por alguma razão, conseguiu seduzir o príncipe Theodore e foi nomeada como a princesa da Nova Inglaterra, digam-me ingleses, é esta a mulher a qual chamam de princesa?! É esta vagabunda que assumiu a coroa de vocês?!
Eu apenas ignorava os argumentos deles, eram como lixo para mim.
- Ela morrerá pela traição à grande nação americana, na câmara de gás em que está neste exato momento.
Muitos aplaudiram e eu continuava sorrindo, meu desespero era enorme.
- Eu sou o presidente Scott Armstrong, todos os americanos irão me obedecer, por bem ou por mal!- Eu vi um gás verde começar a prencher a câmara, eu começei a tossir instantaneamente, não achei que fosse tão horrível, a aflição me consumia, e a desesperança preenchia meu coração.
Eu tossia muito, aquele gás era terrível, eu não sabia muito bem o que era, eu sabia apenas que era o que eu estava respirando, e eu não queria respirar, não se fosse aquilo.
Ouvi uma gritaria e olhei pelo vidro, percebi que os ingleses haviam invadido o lugar, eles atiravam muito em todos os guardas presentes, vi Armstrong fugir como um covarde.
- Lydia!!!- Vi Axel na frente do vidro.
- Axel!- Eu sorri verdadeiramente com um alívio tomando conta de mim.
Ele começou a bater com a arma que carregava no vidro, eu já perdia o oxigênio, por alguma razão, eu caí no chão e percebi que havia um líquido vermelho escorrendo por uma parte do vidro, era sangue, e caiu em mim, eu me aterrorizei, Armstrong não queria me matar, ele mentiu mais uma vez, ele queria que eu me transformasse em maníaca.
- Axel! Me tira daqui!- Eu começei a bater a mão no vidro repetidamente.
- Se abaixa!- Ele disse, eu obedeci e escutei o barulho ensurdecedor do tiro.- Droga, é blindado.- Ouvi ele dizer em tom desesperado.
Ele começou a bater mais a arma, até que o vidro quebrou, eu fui tirada de lá e ele sorriu.
- Você está viva.
- Não graças à você.- Ironizei.
- Também senti sua falta.- Ele riu.
- Precisamos ir.- Eu disse apressando-o.
- Tem razão.- Ele me deu uma arma.
Vi um soldado jogá-lo no chão, eu apontei a arma para o soldado mas hesitei em atirar, olhei para Axel, tomei coragem e atirei no soldado, outro soldado veio e me jogou contra a câmara, me cortei um pouco no vidro quebrado e chutei ele.
- Lydia!!- Eu vi meu pai e abraçei ele.
- Pai...cadê a mamãe?
Ele apontou para ela, que lutava contra alguns soldados, a guerreira que sempre foi.
- Tome cuidado, ok?- Ele disse me empurrando para o lado e atirando uma faca em um soldado que vinha atrás de mim.
Eu atirava em alguns soldados, que tentavam atacar as pessoas que eu conhecia e até alguns americanos que se rebelavam contra Armstrong.
A minha agilidade parecia ter ficado melhor, minha rapidez de raciocínio, minha inteligência, meus reflexos, tudo em mim parecia ter melhorado de uma hora para outra, eu sabia por que, mas eu não queria acreditar, eu só continuei lutando, contra atacando e protegendo os outros, sempre assim.
- Lydia?!- Minha mãe veio correndo.
- Mãe!- Eu corri e abraçei ela, ela me apertou com força.
- Minha filha...você está bem...sabe o quanto eu fiquei preocupada?
- Está tudo bem agora.
Senti algo perfurar minhas costas e me afastei de minha mãe.
- Mãe...- Eu sussurrei ela olhou assustada para um homem que estava atrás de mim e atirou nele, o barulho me fez ficar tonta.
- Lydia?!- Ela olhou para mim e o sangue começou a escorrer da minha boca.- Lydia!!!- Ela olhou para mim e assim que viu minhas costas se desesperou, ela retirou a faca das minhas costas.
Meu pai chegou correndo.
- Lydia! Filha o que houve?!
Eu caí no chão.
- Filha...- Ela disse passando a mão no meu rosto.- Theodore nos ajude!- Ela gritou, meu pai nos protegia com todas as forças possíveis.
- Não encosta no meu sangue.- Eu sussurrei sentindo a dor quase insuportável causada pela lâmina prateada que havia danificado minhas costas.
- Por que?- Minha mãe me perguntou confusa, era possível ver lágrimas brotarem em seus olhos.
Eu não respondi.
- Lydia...você...?- Ela estava incrédula, ela havia entendido, eu já não era mais humana, ela simplesmente beijou minha testa.
- Vai ficar tudo bem minha filha...eu prometo.
Eu vi as primeiras lágrimas escorrerem por seu rosto, vi Axel chegar ele repetia meu nome sem parar, desesperado.
Me lembrei da minha vida, desde os momentos de infância em que eu brincava e dizia coisas inocentemente, até o dia em que conheci Axel...ele foi o meu único amor, eu só lamento por ter que fazê-lo sofrer assim, eu começei a chorar, não sabia o que doía mais, a facada, ou as memórias.
A cada segundo que eu continuava respirando, sentia o peso da culpa, eu olhei para o céu, o sol brilhava e eu senti que era completamente desprezada pelo mundo, eu dei o meu provável último sorriso e deixei que um sono profundo e talvez eterno tomasse conta de mim...

Diário de uma rebelde_Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora