Juramento

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"Eu, Lydia Sparks Rogers, juro a mim mesma, por mim e pela minha mãe, que vingarei a morte de meu pai, libertando de uma vez por todas o meu país, juro que ele vai pagar pelas mortes que causou, pelas famílias que destruiu, eu me vingarei do homem que tirou a vida do meu pai, nem que isso custe a minha própria vida."
Eu me lembrava do juramento que havia feito mentalmente, a todo o momento, vinha como uma voz na minha cabeça, me enlouquecendo mais ainda, nem todo o controle de uma maníaca fez com que eu me contesse, Armstrong havia fugido em um helicóptero, eu sentia uma estranha agonia em meu pescoço, mas pouco me importei, eu estava despedaçada, meu pai morreu para me salvar, nunca pensei que ele sentisse orgulho de mim, muito menos que estivesse disposto a se sacrificar por mim, a única filha, inconsequente e louca que ele teve, aquilo me partia, eu chorava silenciosamente no caminho de volta para o hotel abandonado e o galpão antigo.
"Como vou explicar isso para minha mãe?" "Como ela vai reagir?" "E se ela me culpar pelo que aconteceu?"; As perguntas que invadiam a minha mente eram cada vez piores, eu estou ficando paranóica, completamente louca, meu sangue fervia, o ódio e a tristeza se misturavam e formavam uma coisa que nem eu consegui explicar.
Quando chegamos, meu coração afundou, eu estava sentindo tristeza avassaladoramente dolorosa, profunda, inspirava ao ódio, eu estava completamente disposta a matar Armstrong, para que ele não matasse outras pessoas.
- Lydia?- Eu já estava sentada na nave há minutos desde que havíamos chegado, Missy veio atrás de mim.
- Oi Missy.
- O que houve?- Ela perguntou, o ânimo de sempre dela se foi, ela parecia sentir que havia algo errado comigo.
- Eu...não tô a fim de falar sobre isso...tá bom?
- Lydia, o que houve?- Ela insistiu na pergunta.
- Não interessa!- Eu gritei enfurecida, ela pareceu culpada, eu tentava ser fria, mas eu não conseguia, eu me lembrava de meu pai e começei a chorar, a esta altura, meu rosto já deveria estar inchado, minhas lágrimas acabavam comigo, enxuguei elas rapidamente, odiava quando me viam chorar, era como se eu fosse fraca, louca, estúpida, eu me sentia assim, Missy se sentou ao meu lado, parecia verdadeiramente triste.
- Você sabia que os maníacos tem uma grande capacidade de empatia?- Ela perguntou sarcasticamente, eu começei a rir.
- É mentira.- Eu disse baixando o olhar.
- É verdade, eu sou dessas, faz parte de mim.
Ela sempre conseguia me animar.
Ficamos em silêncio por um tempo.
- Ly...precisam saber, idependentemente de quem foi.
Eu senti meu coração afundar.
- Missy, eu tô detonada, isso é uma bomba, eu morro todas as vezes que me lembro.- Confessei.
- Você vai superar, você é forte, dá pra perceber.
- Valeu Missy.- Eu disse dando um sorrisinho.
- Lydia?- Vi minha mãe entrar na nave, a cor com que eu via tudo era cinza pela crueldade sofrida.
Maníacos vêem cores de acordo suas emoções, se estou feliz, vejo tudo em cores, se estou triste, tudo é cinza, se sinto ódio, tudo é preto, é estranho mas faz parte da minha nova "Lydia".
- Lydia, por que não desceu da nave como os outros?- Minha mãe me perguntou franzindo as sobrancelhas.
- Eu...não sei.
- Filha, está chateada com algo?
- É mais do que isso mãe.
- O que aconteceu em Hemmingway Lydia?- Hesitei em responder, eu olhava para baixo para não encará-la.- Falando nisso, aonde está seu pai? Eu o procurei em todos os lugares mas não o encontrei.- Ela disse confusa, eu olhei para ela, as primeiras lágrimas já escorriam por meu rosto, ela se assustou e começou a mexer a cabeça incrédula.
- Lydia o que aconteceu em Hemmingway?!- Ela me perguntou com os olhos marejados.
- Mãe...era pra ter sido eu...- Eu disse não me contendo mais e começando a chorar, ela me encarava, simplesmente não acreditava no que ouvia.
- O que está querendo me dizer?!- Minha mãe havia entendido, mas ela continuava incrédula.
- Armstrong...ele ia me matar, ele me deu um soro que retardou meus sentidos, eu não pude fazer nada quando meu pai pulou na minha frente...- Eu disse me controlando para não gritar.
- Não...não...Lydia se isso for brincadeira não tem a menor graça!- Minha mãe me disse chorando, foi a primeira vez que a vi chorar.
Eu apenas chorava em voz alta.
- Me diz que é brincadeira Lydia!- Ela disse colocando as duas mãos no meu rosto, eu não conseguia parar de chorar, Missy nos olhava, ela também chorava, como se sentisse muito por nós.
- Lydia...não, não, não, não...- Minha mãe disse chorando como se sentisse a mais profunda dor, e eu tinha a mais pura certeza de que ela sentia.- Não!!!!!- Ela gritou se ajoelhando no chão, eu me arrependi, ela não tinha que sofrer assim, eu queria ter morrido no lugar do meu pai, aquilo partia meu coração, eu sentia, era como se um grande, um enorme pedaço dele estivesse faltando, as memórias eram as coisas que mais doíam, mas memórias foram tudo o que restou...
***
Eu segurava meu canivete firmemente dentro do bolso do meu grande casaco preto, olhando para a rosa vermelha no chão, eu havia encontrado ela perto do galpão onde eu treinava dia e noite obsessivamente, com um anseio por ver o sangue de Armstrong ser derramado, a rosa me lembrava meu pai, ele me disse uma vez que eu era uma bela rosa, repleta de espinhos, me chateei na hora mas se eu soubesse o verdadeiro significado do que ele me disse eu não teria ficado chateada com ele, eu senti uma lágrima escorrer por minha bochecha pálida, enxuguei ela furiosamente, eu cansei de chorar, eu sentia ódio, a minha dor e minha raiva me consumiam, peguei meu canivete e cortei a palma da minha mão, deixei que meu sangue contaminado com a morbo, fosse derramado na rosa delicada porém simbólica.
- Eu, Lydia Sparks Rogers, juro a mim mesma, por mim e pela minha mãe, que vingarei a morte de meu pai, libertando de uma vez por todas o meu país, juro que ele vai pagar pelas mortes que causou, pelas famílias que destruiu, eu me vingarei do homem que tirou a vida do meu pai, nem que isso custe a minha própria vida.- Repeti o juramento que eu havia feito no dia em que meu pai morreu, eu tinha certeza do que eu queria, eu queria exatamente aquilo, Armstrong deve se considerar um homem morto a partir de agora.
- Ly?- Axel me chamou, ele viu minha fúria.
- Não encosta em mim, você vai se contaminar.- Eu disse fria, eu o amava mas não consegui superar a dor.
- Eu não ligo.- Ele disse me abraçando com força, então por um momento eu senti que ainda tinha uma razão, ele me amava incondicionalmente e eu sentia exatamente a mesma coisa por ele, Axel era a minha única garantia de uma felicidade mínima em um mundo completamente destruído.
- Obrigada, por fazer com que eu me sinta segura.- Eu disse ainda fria.
- Ly...eu tenho saudades de quem você era, a garota irônica porém guerreira, o que aconteceu?
- Não posso voltar a ser quem era antes de matar Armstrong.- Eu disse sentindo a raiva plantar em mim.
- Tudo vai acabar bem no final Ly, eu prometo a você, nós vamos sobreviver a isso.
- Eu tenho a plena certeza de que isso vai acontecer, mas se você tiver que seguir sem mim...
- Ly, cale a boca por favor.- Ele mexeu a cabeça como se tivesse receio de escutar o que eu ia dizer.
Ele me beijou, eu não retribuí e ele parou instantaneamente.
- Axel...agora não.
- Desculpe-me.
- Filha?- Minha mãe chamou, ela saiu do galpão, parecia serena e calma, mas parecia uma doente em estado terminal, ela não se alimentava direito, estava profundamente triste, e eu me sentia culpada por toda aquela dor.
Fui em direção à ela.
- Mãe, o que foi?- Perguntei nervosa e aflita por vê-la daquele jeito.
- Lydia, acompanhe-me.- Ela disse, nós fomos andando e fomos até o quarto em que ela dormia no hotel abandonado, quando cheguei lá havia uma filmadora em cima da cama.- Assista.- Minha mãe disse.
Eu hesitei mas apertei o play.
- Lydia?- Ouvi a voz de meu pai no vídeo, meu coração estava despedaçado e foi como se ele afundasse, mas ainda sim eu sorri por ouvir a voz dele de novo.
- O que foi pai?- Eu apareci no vídeo devorando um pote de sorvete.
- Hoje a minha filha linda faz dezesseis anos de idade, sempre a mesma garotinha linda, não é Ly?
- Pai é só um aniversário, não precisava filmar.- Eu ri quando vi que escondi meu rosto entre as mãos na filmagem.
- Lydia, olha para mim.- Eu obedeci, meus cabelos ainda eram castanhos.
- Eu fico muito feliz por ter criado algo como você Lydia.- Sorri e senti meus olhos marejarem.- Além do infinito, lembra?
- Além do infinito.- A filmagem acabou, eu olhei para minha mãe, ela sorria de um jeito terno, me acalmava.
- Ele se sacrificou porque sabia que valia a pena, por você Lydia.
- A culpa da sua dor é minha.
- Filha se você tivesse morrido eu sofreria na mesma proporção...vocês dois são as coisas mais importantes para mim.- Eu baixei o olhar.- Lydia?
Olhei para ela novamente.- Lembra de quando eu lhe ensinei que tudo tem uma história?
- O dia que leu seu diário para mim.- Confirmei sorrindo.
- Exato...filha eu vivi a minha história com Aaron, foi maravilhosa, cheia de reviravoltas, desconfianças, mas acima de tudo nós nos amávamos e isso era o elemento principal da nossa história, eu vivi a minha história Lydia, chegou a hora de você viver a sua também.
Eu dei um suspiro.
- Jurei a mim mesma que vingaria meu pai.
- Você não vai deixar de lado a sua vingança, afinal fez um juramento...mas Lydia, Axel, aquele rapaz lá embaixo te ama e é visível que você sente o mesmo, ele vai reconstruir a sua felicidade, ele é sua força, não se esqueça dele filha.
Ela tinha toda a razão do mundo, eu a abraçei com força.
- Obrigada mãe...eu amo você.- Eu disse no tom mais sincero do mundo.
- Além do infinito?- Ela perguntou sorrindo.
- Além do infinito.- Eu respondi dando o sorrisinho, é estranho, a vida te proporciona tantos sentimentos variados em apenas alguns dias, talvez em minutos, segundos, ou até milésimos de segundos, eu estava disposta a lutar por Axel e pelo meu país, pelo mundo inteiro, meu pai será vingado, eu tenho certeza...Aaron Rogers será vingado...

Diário de uma rebelde_Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora