NIAT CAP 13 FUNERAL

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  FUNERAL  

14/07/1618
da Era do
Despertar

      Após saírem da gruta da câmara secreta, foram para a morada real, nas entranhas de granito. Atravessaram o longo corredor e foram levados para trás de uma das portas de bronze da câmara principal. Lá chegando, Dêm foi abraçado carinhosamente por seus dois lindos filhos. Deixando rolar lágrimas pelo rosto, em seguida as reprimiu, fazendo o próprio coração inchar, não era correto derramar lágrimas frente aos filhos. Olhou para a esposa que pelo aceno feito ao marido parecia já saber o que havia, embora sua expressão fosse ilegível, inexistente.

A mulher era linda. Com pele cor de bronze, olhar feroz, num rosto resplandecente, delineado por lindas madeixas negras como azeviche. Olhos grandes amendoados e cor de mel. Uma linda máscara cerimonial desenhada pelos deuses. Era uma mulher altiva sem ser pedante, imponente, sem ser arrogante, olhar decidido e sábio.

Vestia-se à maneira das mulheres da aldeia, mas trazia maior número de adornos, plumas e ornatos dourados do que o povo comum. Contrastando com as poucas e rudes vestimentas de pele animal.

Mesmo demonstrando saber que Dêm iria partir, ela se manteve firme. Serviu aos garotos seus pratos mais raros: grandes insetos, larvas gordas, olhos de feras, ervas de gostos variados e fortes, vísceras e partes incomuns. Mas também havia outros cortes de porco, aves e peixe assados.

Todos experimentaram de tudo, inicialmente por cortesia, depois até saborearam algumas iguarias inusitadas. Exceto Hayden.

Hayden não suportava fazer nada por obrigação. Portanto, mesmo sabendo que não era amigável recusar, ele recusou. Comeu apenas do mais comunm.

Beberam uma bebida muito apreciada pelo povo, uma fermentação de arroz com cevadam. Acompanhada de mel, o sabor era melhor e muito bom.

— Amanhã faremos uma cerimônia de nomeação. Você liderará o povo até meu retorno, esposa. Se eu retornar. Pensou. —Você esteve comigo em todos os momentos, bons e ruins, desde criança; aprendermos juntos e dividimos cada momento da nossa existência, agora convém nos separar, mas, tenho fé que em breve vamos nos reencontrar — disse com aperto no coração.

Ela não mais se conteve, colocou uma bandeja na mesa e se lançou nos braços do amado com olhos se esvaindo em lágrimas. Os filhos se uniram ao ato de amor e completaram o abraço de despedida. Mesmo sem compreenderem completamente, pois tinham três e cinco anos.

O menor, chupando o dedo, olhou para o enorme Hayden com olhar amedrontado e abraçou forte a perna da mãe. A mãe retribuiu com carícias nos cabelos do filho. O maior, muito inteligente, abraçou os dois, consciente de que o pai partiria pela primeira vez e tardaria em retornar.

— Volte pra nós, papai — ele disse.

Eles falavam em sua língua. Ela mostrava entender a língua sagrada, mas não tão bem, e não conseguia falar quase nada nesta língua. Sempre que se dirigia a Dêm era no dialeto da tribo, que eles não compreendiam absolutamente nada. Mas imaginaram do que se tratava pois ele havia dito que os acompanharia para oeste.

Prosseguiram à refeição em silêncio. Por respeito aos sentimentos da família e por não ter muito a dizer a Dêm e por serem incapazes de dizer qualquer coisa a sua esposa.

O menorzinho se divertia com a refeição e a mesa cheia. O Cabal a cada momento se mostrava um líder honrado e corajoso. Além de um pai amável, que teria de deixar seus filhos para seguir o destino que acreditava ser seu.

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